Ícone da solidariedade, a médica tinha como principal bandeira o combate à mortalidade infantil
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos significa trabalhar pela inclusão social, fruto da Justiça; significa não ter preconceitos, aplicar nossos melhores talentos em favor da vida plena, prioritariamente daqueles que mais necessitam. Somar esforços para alcançar os objetivos, servir com humildade e misericórdia, sem perder a própria identidade”. Essas foram as últimas lições de umas da principais referências nacionais da solidariedade, Zilda Arns Neumann.
Aos 75 anos, 27 deles dedicados ao combate a mortalidade infantil, Arns foi vítima do terremoto que abalou o Haiti no último dia 12. Como herança, deixou um legado social, que soma mais de 260 mil voluntários mobilizados e 1,8 milhão de crianças de até 6 anos atendidas atualmente pelas ações da Pastoral da Criança, entidade criada pela médica e sanitarista em 1983. Mãe de cinco filhos e avó de dez netos, Zilda Arns chegou a ser indicada ao Prêmio Nobel da Paz, em 2006.
O trabalho teve início na cidade de Florestópolis, no Paraná, que apresentava uma das piores taxas de mortalidade infantil no estado. No começo houve quem desconfiasse da médica que propunha soluções ‘milagrosas’ e simples, como colocar um preguinho no feijão, coar e ferver a água e acrescentar uma multimistura – um pó altamente nutritivo, feito com farelo de grãos, casca de ovo e folhas verdes – nas refeições das crianças. O resultado apareceu logo no primeiro ano. As mortes caíram de 128 para 28 a cada mil nascimentos. A iniciativa foi reaplicada em todo o Brasil e hoje também está presente em mais de 20 países no mundo todo.
Segundo a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), além das crianças beneficiadas pelas ações da Pastoral, 94 mil gestantes em 42 mil comunidades pobres em mais de 4 mil municípios brasileiros também são atendidas atualmente. Em 2004, Arns recebeu da CNBB outra missão ousada: fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa, responsável pelo atendimento de 129 mil idosos todos os meses por 14 mil voluntários.
O trabalho humanitário da pediatra era reconhecido internacionalmente. Zilda foi declarada em 2002 Heroína da Saúde Pública das Américas, título concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Também recebeu em 2000 a medalha Simón Bolívar, da Câmara Internacional de Pesquisa e Integração Social, o prêmio Social da Câmara de Comércio Brasil-Espanha, em 2005, entre outros. Também recebeu condecorações como: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Fundation, em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda a milhares de famílias carentes.
No Brasil, recebeu em 2003 do governo mineiro a medalha da Inconfidência e o prêmio principal do evento As Mulheres Mais Influentes do Brasil, promovido pela revista Forbes em 2005. Também foi premiada com o diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz, do Senado Federal, em 2005 e recebeu, no mesmo ano, o diploma e a medalha O Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Mello concedido pelo Parlamento Mundial de Segurança e Paz. Recebeu, ainda, 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000) e o de Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988). Nascida em Forquilhinha (SC), a doutora Zilda era Cidadã Honorária de dez estados e 35 municípios e foi homenageada por diversas outras instituições, universidades, governos e empresas.
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