Especialistas de mais de 90 países debateram os efeitos das mudanças climáticas e suas implicações em regiões secas ao longo da semana
O Brasil sediou, entre os dias 16 e 20 deste mês, a Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (Icid 2010). O evento, realizado em Fortaleza (CE), envolveu mais de 90 países da África, Ásia e América Latina, e cerca de dois mil participantes. O objetivo foi incluir de forma efetiva as questões relacionadas aos efeitos do aquecimento global em regiões áridas e semiáridas nas agendas de debates nacionais e internacionais.
Já no primeiro dia do encontro, o secretário da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), Luc Gnacadja, destacou que a desertificação avança a 12 milhões de hectares por ano, área equivalente ao seu país natal, Benin, na África. Na sua avaliação, se a extinção de solos agricultáveis não for contida em dez anos, pelo menos um terço das colheitas deixará de existir. “Espero que haja mudança no curso da ação e que a partir deste evento comece uma mudança”, afirmou.
Organizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em parceria com os ministérios do Meio Ambiente e da Ciência e Tecnologia, e outras entidades governamentais e de pesquisa nacionais e internacionais, a conferência teve como proposta gerar, consolidar e sintetizar dados e estudos sobre mudanças climáticas e identificar ações para promoção do desenvolvimento seguro e sustentável nas regiões semiáridas.
Uma medida já anunciada neste sentido, foi o lançamento de edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no valor de R$ 12,5 milhões, para apoiar projetos de pesquisa que desenvolvam tecnologias e inovações para a conservação e recuperação dos recursos naturais do semiárido brasileiro.
Também vale destacar, o anúncio feito pelo secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), José Machado, de que até o final deste ano será lançado o Fundo da Caatinga. De acordo com ele, a fonte de recursos ainda não está definida, mas a proposta é estabelecer uma vinculação com o Fundo Clima, que é alimentado com receita do petróleo.
Cenário
Estimativas mostram que cerca de 35% da população mundial vivem em terras áridas e semiáridas, que correspondem a 41% da superfície do planeta. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), essas terras serão afetadas pelas alterações no clima mundial.
No Brasil, 1.482 municípios do semiárido, que concentram a maior parte da pobreza do país, são afetados diretamente pelo problema, segundo dados do Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca.
Estudos indicam ainda que quase 20% do semiárido brasileiro será atingido de forma grave, tendo reflexos ambientais e socioeconômicos, como a deterioração do solo e comprometimento da produção de alimentos, extinção de espécies nativas e degradação dos recursos hídricos.
Segundo o economista Jeffrey Sachs, conselheiro especial do Secretário Geral das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, não há dúvida de que as regiões secas são as mais afetadas pelas alterações do clima e que esse fator também contribui para os conflitos que elas abrigam, “mas não é despachando tropas militares para preservar a política de interesses dos países ricos nessas áreas que os problemas serão resolvidos”, disse na quarta-feira (18), em palestra.
Ainda na opinião do economista, estamos muito próximos de uma situação climática irreversível para o planeta. “Todos serão afetados indistintamente”, ressaltou Sachs, que também é professor de Desenvolvimento Sustentável, e de Política de Gestão da Saúde da Universidade Columbia, dos Estados Unidos.
Sanches fez ainda duras críticas ao posicionamento político dos Estados Unidos. Na avaliação do especialista, os EUA deveriam melhorar seus conhecimentos sobre as áreas conflituosas do mundo, que são exatamente aquelas inseridas das regiões áridas e semiáridas, onde estão as populações mais pobres e necessitadas. “Nelas, os engenheiros militares seriam mais úteis ensinando a cavar poços para a procura de água do que desenvolvendo artefatos bélicos”, opinou.
A conferência ocorreu 18 anos após a realização da primeira Icid, realizada no início de 1992, como preparatória para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) – a Rio 92.
Icid: www.icid18.org
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