
Jorge Antunes, sócio-fundador e diretor de compras da rede Mundo Verde
Encontro no Rio de Janeiro discute sobre os rumos e o crescimento da prática no Brasil e no mundo, além de dar a oportunidade de pequenos produtores nacionais fecharem negócios com compradores estrangeiros
Com o objetivo de proporcionar pela primeira vez aos grupos produtivos nacionais a oportunidade de fechar negócios com compradores brasileiros e estrangeiros, o Sebrae/RJ realiza nesta semana o “I Encontro Internacional de Comércio Justo e Solidário”, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro. No evento, serão realizados painéis e palestras com especialistas nacionais e internacionais do setor que debaterão os rumos e o crescimento dessa prática no Brasil e no mundo.
Cerca de 100 grupos de produtores de dez estados estarão distribuídos em estandes para apresentar seus artigos, desde produtos agrícolas a artesanato, como bolsas de fibra de bananeira e camisetas em algodão ecológico, entre outros. São esperadas cerca de 500 pessoas de todo o Brasil e de outros 42 países.
Surgido na década de 60 para proporcionar a produção sustentável de mercadorias criadas por grupos de produtores à margem do sistema tradicional de comércio, a prática reúne atualmente cerca de um milhão de produtores de vários setores em mais de 50 países. Somente no Brasil, são mais de 14 mil empreendimentos solidários, distribuídos em 2.274 municípios, segundo dados do Sebrae. Mas a Secretaria Nacional de Economia Solidária aposta num número maior – 18.878 empreendimentos, com 1,574 milhão de postos de trabalho e faturamento acima de R$ 6 bilhões por ano.
No Brasil, o comércio justo é desenvolvido há seis anos, por meio do Fórum de Articulação de Comércio Ético e Solidário do Brasil (Faces), que congrega redes de pequenos produtores da economia solidária, ONGs e organizações públicas e privadas de fomento e apoio a iniciativas produtivas, como o Sebrae. No Rio de Janeiro, a entidade começou a colocar em prática os princípios do comércio justo e solidário em alguns grupos produtivos por acreditar que a prática é uma tendência e um importante caminho a ser seguido por pequenos empreendedores. O projeto tornou-se modelo e passou a ser implantado em outros estados.
De acordo com o diretor-superintendente da instituição, Sergio Malta, atualmente a entidade acompanha e apóia o desenvolvimento de 30 grupos fluminenses. Entre os principais produtos estão mel, banana, café, açúcar mascavo, tecido de algodão ecológico e confecção. “Atuamos em três frentes para o crescimento da atividade: com os produtores, capacitando-os e explicando o conceito; com os consumidores, disseminando os princípios; e com distribuidores e empresas, para que eles passem a consumir produtos de acordo com os princípios da atividade”, afirma.
De acordo com dados da entidade, a expansão do mercado em 2007 foi de 25% em volume e valor para atingir um nível de 150 mil toneladas, o que equivale aproximadamente a US$ 1 bilhão no varejo. Segundo a instituição, a maior concentração dos empreendimentos da economia solidária no país está na região Nordeste, com 44%; seguido da região Sul, com 17%; Sudeste com 14%; Norte com 13% e Centro-Oeste, com 12%. De todos os produtos mais comercializados, destacam-se os relativos às atividades agropecuária, extrativista e pesca, alimentos e bebidas e produtos artesanais.
Comércio Justo na prática
Um exemplo de grupo apoiado pelo Sebrae/RJ é a Razão Social, confecção de Petrópolis, que comercializa roupas de algodão ecológico, malha de PET e fibra de bambu. Antes de se organizarem e atuarem dentro dos princípios de comércio justo e solidário, as profissionais recebiam entre R$ 0,50 a R$ 0,80 por camiseta costurada, pois era o preço pago pelos intermediários. Agora, elas puderam cobrar, sem qualquer intermediação, o valor de R$ 1,50 por peça, exportando direto para a França com apoio da ONG Onda Solidária. “Passamos a ter uma nova mentalidade do negócio. Hoje contabilizamos melhor o valor do trabalho e aprendemos que não podemos trabalhar com valores abaixo da média. Com isso, conseguimos melhorar a relação com os compradores e aumentar a produção”, conta Érica Santos da Costa.
O Mundo Verde, a maior rede de lojas especializadas em produtos naturais e orgânicos no país, também aposta na prática faz tempo. Desde 2004, em parceria com o Sebrae/RJ, a rede divulga e vende as Vassouras Ecológicas, feitas de garrafas PET por comunidades carentes que participam do Projeto de Educação Ambiental e Coleta Seletiva de Lixo Recicla Três Rios, no centro-norte fluminense. Cerca de 2 mil vassouras ecológicas já foram produzidas para ser vendidas exclusivamente nas lojas da rede.
“Acreditamos que o movimento crescente do comércio justo no Brasil está fundamentado na percepção de que nosso mundo precisa mudar. O comércio justo, ético e solidário virou um conceito importante no mundo globalizado. É um novo modelo de relação comercial, baseado no tripé ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável”, afirma Jorge Antunes, sócio-fundador e diretor de compras da rede.
A instituição também apóia e comercializa o artesanato de capim dourado, produzido pela Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros (ACAPPM), no Cerrado do Jalapão, no Tocantins. Outro produto de comércio justo encontrado na rede é a banana passa orgânica produzida pela Comunidade Sustentável Goura Vrindávana & Ashram Hare Krishna, em Paraty, no estado do Rio de Janeiro.
Neste ano, a rede também aderiu ao Fórum Amazônia Sustentável (FAS). A contribuição da franquia será oferecer visibilidade a produtos de manejo sustentável genuinamente amazônicos, contribuindo para a geração de trabalho e renda nas comunidades locais. Para isso, será criado um setor específico de produtos amazônicos nas lojas da rede. “Nosso objetivo é dar acesso aos nossos clientes a produtos de excelente qualidade, mas infelizmente ainda desconhecidos do grande público”, afirma Antunes.
A franquia já estuda a oferta de produtos com certificação de comércio justo da Fairtrade Labelling Organizations International. A previsão é que até o final do ano, produtos com o selo Fairtrade Brasil sejam encontrados nas gôndolas de parte das 128 lojas da rede no país e também nas franquias de Angola e Portugal.
Sebrae Rio de Janeiro – Tel.: (21) 2212-7773 e Rede Mundo Verde – Tel.: (24) 2237-2528
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