
Mais de 60 pajés de etnias da América do Sul participam de encontro neste mês
Evento realizado neste mês reuniu sábios indígenas de 60 etnias e proporcionou intercâmbio cultural
A Aldeia Cartucho, localizada no Médio Rio Negro II, no Estado do Amazonas, recebeu entre os dias 03 e 05 deste mês, cerca de 60 sábios indígenas de diversas etnias da América do Sul. O encontro foi numa casa tradicional, uma espécie construção onde são realizados os principais eventos da aldeia, produzida pelos índios da comunidade Baré e teve como proposta resgatar e valorizar a importância desses líderes espirituais na cultura indígena.
“Esse evento foi uma forma de ajudá-los a construir uma fortaleza simbólica contra a expropriação de seus recursos naturais e saberes tradicionais”, destaca o antropólogo, Júlio Borges, que esteve presente em outras edições do “Encontro de Saberes”, realizadas na Colômbia, em 2005, no Xingu, em 2006 e no Suriname, em 2007.
Organizado pela Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas (ACIR), com apoio da Equipe de Conservação da Amazônia (ACT Brasil), o evento tem como diferencial não estabelecer um tema previamente. As sugestões são apresentadas pelos índios no local do encontro e nessa edição a escolha foi tratar sobre a utilização de curas tradicionais para a melhoria da saúde dos índios.
“Foi maravilhoso perceber a importância que o nosso saber tem para a saúde indígena e que é possível juntar com o conhecimento do branco. Vou levar essa ideia para a minha aldeia e colocar em prática os ensinamentos que aprendi”, afirma Sebastião Jiahui, cacique da etnia Jiahui. Para Korotai Pumama, pajé de Suriname da comunidade Tyrió, o encontro aconteceu no momento certo. “O conhecimento da medicina tradicional está praticamente esquecido. Foi uma ótima oportunidade para reavivar e fortalecer o que se tem perdido, principalmente aos mais jovens”, explica.
Os habitantes da Aldeia do Cartucho provavelmente foram os mais tenham tirado lições do encontro. Até a realização do evento, os modos tradicionais na aldeia estavam praticamente esquecidos. “Não criamos, com o passar dos anos, uma cultura que repassasse os ensinamentos às próximas gerações. Isso fez com que os nossos conhecimentos sobre curas e doenças se perdessem praticamente por completo. A partir de agora vamos começar a colocar em prática o que aprendemos no nosso dia a dia e ensinar os mais jovens”, revela Vamberto Plácido Rodrigues.
Distante dessa realidade, a situação de algumas aldeias do Suriname e da Colômbia é completamente diferente. De acordo com o pajé Amashina Urewaru, da etnia Tyrió de Suriname, o assunto é levado tão a sério em sua comunidade, que foi criado um hospital para atender os indígenas com tratamentos tradicionais. “Hoje tenho 200 pacientes que se consultam regularmente, entre indígenas e não indígenas. Acredito que o encontro foi ótimo para percebermos o problema e podermos ajudar a comunidade do Cartucho a se reerguer e a se fortalecer”, afirma o líder. “
Nessa edição, participaram sábios do Waurá (Xingu-Brasil), Tiriyó (Suriname-Brasil), Ingano (Colômbia), Baré, Tukano e Arapasso (Médio Rio Negro II-Brasil), entre outros. Intérpretes teceram a fina rede da compreensão comum, facilitando o entendimento entre os presentes. Nos eventos anteriores foram discutidos temas como a pressão que os brancos têm feito sobre suas terras indígenas e recursos naturais; a valorização das culturas tradicionais; e a proteção de seus saberes ante a fúria capitalista.
ACT Brasil – Telefone: (61) 3323-7863
Também nessa Edição :
Entrevista: Renata Couto
Entrevista: José Luiz Gonçalves Filho
Artigo: Rótulos, selos e certificações verdes
Notícia: O que deu na mídia (edição 100)
Notícia: Educação ambiental (2010/07)
Notícia: Projeto define critérios socioambientais para ações de REDD+ na Amazônia
Oferta de Trabalho: Procura-se (07/2010)
Leave a Reply