
Olívia Rauter, Diretora-presidente do Voluntários Candangos
A pedagoga Olívia Volker Rauter pode ser considerada a típica voluntária nata. Desde muito nova, sempre esteve envolvida em atividades impulsionada pela personalidade inquieta e sociável. Em 1980, ela inscreveu as duas filhas no movimento dos escoteiros e daí para o envolvimento na área de voluntariado foi um pulo. Rapidamente, estava coordenando várias atividades na área – trabalhou com escoteiros, desenvolveu projetos na associação de moradores do bairro onde morava, foi voluntária no Zoológico de Brasília e, por fim, fundou o centro Voluntários Candangos com amigos, em 1997. O projeto surgiu estimulado por uma ação do Comunidade Solidária, que naquele ano estava implantando 10 centros nos mesmos moldes em diferentes estados brasileiros.
A idéia era criar um espaço, onde voluntários são cadastrados e encaminhados para instituições credenciadas pelo centro. Hoje, o Voluntários Candangos vai além desse objetivo ao desenvolver ações próprias de cidadania e luta pela consolidação e auto-sustentabilidade deste ideal. “O nosso papel é unir as pessoas e fazer uma articulação para que as coisas aconteçam”, define Olívia, diretora-presidente da instituição. Confira, a seguir, a entrevista:
1) Responsabilidade Social – Qual a proposta inicial de trabalho dos Voluntários Candangos e como ela evoluiu ao longo da existência da associação?
Olívia Rauter – Inicialmente, pretendíamos apenas encaminhar voluntários às instituições sociais. Mas a realidade e a dinâmica social nos conduziu à ampliação dessa missão inicial, mediante a criação de diversos programas que atendessem as necessidades da comunidade, bem como a oportunidade de oferecimento de outras opções de atividades aos voluntários cadastrados, cujo perfil é bastante amplo. Ao mesmo tempo, verificou-se o desconhecimento, por parte do empresariado, das inúmeras opções de ações sociais e trabalho voluntário que poderiam ser implantados em suas empresas. Assim, o Voluntários Candangos também desenvolve um trabalho de orientação e parceria com empresas que desejam envolver funcionários ou atuar com programas sociais em sua comunidade.
2) RS – Quantas pessoas já foram atendidas pelos Voluntários Candangos desde seu surgimento?
OR – Hoje mantemos um Banco de Dados com cerca de 2,5 mil voluntários. Entretanto, nem todos já atuaram. Poderemos dizer que cerca de 1,2 mil pessoas fizeram trabalho voluntário efetivo nas instituições sociais que indicamos ou nos projetos que desenvolvemos.
3) RS – Quais as principais áreas de atuação dos Voluntários Candangos?
OR – Nossa principal atividade é encaminhar voluntários às instituições sociais (creches, asilos, casas lares, grupos de atuação social, etc), sendo o elo entre o cidadão que quer fazer um trabalho social e a comunidade que dele necessita. As áreas em que atuamos: Alfabetização de Adultos, Projetos para Jovens, Programas para Área da Saúde e para Soropositivos, Apoios a Portadores de Necessidades Especiais, Programas para Deficientes Visuais, Atividades na Área de Meio Ambiente, Programas de Reforço Escolar, entre outros.
4) O que a senhora entende por Responsabilidade Social?
OR – O tema é atual e as pessoas o utilizam para enfatizar a importância da atuação das empresas no campo social. Mas é muito mais do que isto: é o respeito ao cidadão quando exerce o papel de consumidor; é o respeito ao ambiente, que é de todos nós; é o olhar do empresário e do cidadão para o seu entorno social, do qual faz parte; é a ação do cidadão como agente de transformação social, quer seja pessoa física ou jurídica.
5) RS – Como a senhora avalia a atuação do Terceiro Setor no Brasil? Que iniciativas podem ser tomadas para otimizar os resultados nesse setor?
OR – O Terceiro Setor assumiu uma dimensão mais ampla no início deste século. No Brasil, percebe-se a abertura para o tema a partir de 2001, Ano Internacional do Voluntário, com discussões sobre o papel do voluntariado, das organizações não governamentais e da própria sociedade civil organizada. Há muito a realizar, a aprender e a estruturar. E todos querem discutir formas de atuação efetivas, que conduzam a um trabalho sério e comprometido. Iniciativas a serem tomadas para otimização de resultados passam, necessariamente, pelo conhecimento do empresariado do papel e contribuição do Terceiro Setor para o desenvolvimento. E também por um posicionamento profissional das organizações que atuam nessa área, com propostas sérias, metas e avaliação do impacto social.
6) RS – Como se dá a participação da sociedade no projeto dos Voluntários Candangos? Quais as estratégias para estimular a comunidade a cooperar com esse processo?
OR – O Voluntários Candangos já atua há cinco anos no Distrito Federal e a equipe tem sentido uma gradual participação da sociedade. Ao mesmo tempo, sempre atento à missão de orientar a todos que o procuram, tem percebido que as pessoas começam a entender que esse trabalho exige comprometimento, responsabilidade e profissionalismo. Assim, o estímulo ao trabalho voluntário vincula-se a esses três valores. O voluntário interessado em doar seu talento e o seu tempo sabe que existem pessoas que esperam uma continuidade do seu trabalho, que só poderá ser realizado com persistência, vontade e acompanhamento constante das mudanças que sua ação opera no grupo onde atua. E a satisfação de ver o resultado de seu trabalho, obtido pela persistência e disciplina, é a mola propulsora para continuar a fazer parte da teia social.
7) RS – Existe uma boa expectativa com relação à atuação do governo Lula no Terceiro Setor?
OR – O novo governo vem com uma proposta de forte atuação no campo social, com ênfase no problema da fome. Mas acreditamos que, para a eficácia da ação junto à população, no que tange ao campo social, são necessários um forte diálogo e parceria com o Terceiro Setor, que tem um bom conhecimento da realidade social. É importante que o Estado, o mercado e a sociedade civil estejam juntos para oferecer melhores condições à população menos favorecida de nosso País.
8) RS – Quais são as principais dificuldades no desenvolvimento do voluntariado no Brasil de hoje?
OR – O brasileiro é solidário por natureza. Falta-lhe mais disciplina e determinação para o cumprimento dos propósitos. As organizações que atuam com voluntariado no País, e que já são inúmeras, têm metodologia e boas ferramentas para um trabalho mais efetivo no campo da solidariedade. Dessas organizações, a maioria necessita de condições para se auto-sustentar, com o objetivo de operacionalizar programas para atuação na comunidade local.
9) RS – Qual o maior objetivo dos Voluntários Candangos para o próximo ano?
OR – Obter condições para sua auto-sustentabilidade. O Voluntários Candangos possui excelentes programas sociais, todos com cunho transformador, que exigem a participação, não só de voluntários, mas também de profissionais para coordenar o leque de opções que inclui projetos em diversos segmentos (infância, jovens, idosos, educação, alfabetização de adultos, oficinas de solidariedade, e outros).
Candangos – E-mail: candangos@voluntarios.org.br
Também nessa Edição :
Perfil: Dráuzio Varella
Artigo: Empresas e Investimento Social*
Notícia: O que deu na mídia (Edição 6)
Notícia: Banco Consciente
Notícia: Missão Criança vai ao exterior
Notícia: Visão Mundial amplia projetos
Leave a Reply