Juara de Almeida Ferreira está a frente do Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV), uma organização não-governamental que há dez anos incentivar a ação voluntária no estado. O trabalho da instituição é voltado para as pessoas que querem ser voluntárias, as instituições que querem receber os voluntários e as empresas que querem incentivar seus funcionários a se engajarem socialmente. Para cada um desses públicos há ações específicas, que englobam cursos, palestras e a oferta de um banco de dados, com mais de 225 instituições cadastradas.
No mês passado, a organização promoveu o “Prêmio Voluntariado Transformador”, para reconhecer os cidadãos que participam ativamente do desenvolvimento social de suas comunidades. A iniciativa, pioneira no estado, recebeu mais de 76 inscrições e confirmou que voluntariado está sendo posto em prática por instituições sociais de todo o Paraná.
Em entrevista exclusiva ao Responsabilidade Social, a presidente do CAV, Juara de Ferreira, explica como é pautado o trabalho da instituição e avalia o espírito solidário dos paranaenses. Confira.
1) Responsabilidade Social – No início de dezembro passado, o Centro de Ação Voluntária de Curitiba (CAV) anunciou os vencedores do Prêmio Voluntariado Transformador, uma iniciativa inédita no estado. Como surgiu a idéia do prêmio e como foi feita essa seleção?
Juara de Almeida Ferreira – A realização do prêmio para reconhecer quem desenvolve ações voluntárias transformadoras no Paraná é pioneira. Tanto pela premiação no estado quando pelo reconhecimento de ações voluntárias que vão além do assistencial, ações sociais comprometidas com a transformação social. Tivemos essa idéia inspirados em outras iniciativas – como do Instituto Voluntários em Ação, ONG que promove o voluntariado em Santa Catarina – e por percebermos a necessidade de conhecermos iniciativas voluntárias transformadoras de todo o Paraná, não apenas de Curitiba e Região Metropolitana. Além disso, acreditamos que essa seria uma grande maneira de promovermos uma festa comemorando os 10 anos do Centro de Ação Voluntária de Curitiba com aqueles que fazem parte desse movimento do voluntariado – as instituições sociais, cidadãos e cidadãs, escolas e empresas que estimulam o voluntariado.
Para a realização do prêmio e termos inscrições de todo o Paraná, fizemos contatos com os Núcleos Estaduais de Educação, as Secretarias Municipais de Educação e de Assistência Social dos maiores municípios do estado, além de contatos com organizações sociais de Curitiba, Região Metropolitana e contato direto com instituições sem fins lucrativos de todo o estado, divulgando e incentivando a inscrição. Contato feito, enviávamos semanalmente uma newsletter e também enviamos material impresso de divulgação. Basicamente, utilizamos como base de divulgação as redes de contatos já estabelecidas – como aquelas proporcionadas pelas secretarias. Isso funcionou muito porque tivemos 76 inscrições, de todas as regiões do estado, e pudemos conhecer iniciativas maravilhosas de transformação social realizadas voluntariamente.
2) RS – A partir dos dados coletados junto aos concorrentes ao prêmio, o que foi possível constatar?
JF – Foi possível perceber que o conceito do voluntariado transformador é sim aceito e posto em prática por instituições sociais de todo o Paraná. Historicamente, o movimento do voluntariado está muito associado ao assistencialismo, às damas de caridade nas Santas Casas de Misericórdia. Nossa percepção era de que o voluntariado hoje está comprometido não apenas com a ajuda assistencial, mas com uma transformação da sociedade, uma ação comprometida com a criação de uma sociedade melhor para todos. As inscrições que recebemos confirmam isso e contribuem para que o Centro de Ação Voluntária de Curitiba possa trabalhar de maneira mais forte a temática do voluntariado transformador, que está muito associado ao exercício da cidadania.
3) RS – Como a senhora avalia o espírito solidário do brasileiro?
JF – Nossa percepção é que hoje muitas pessoas se comprometem com o voluntariado porque querem contribuir com a construção de uma sociedade mais justa, humana e fraterna. Uma sociedade em que todos possamos viver melhor. Nesse sentido, muito do que percebemos como solidariedade começa com a prática da cidadania – cada um fazendo a sua parte – e passa para o coletivo, por meio do exemplo e da preocupação com a transformação de nossa comunidade. Inclusive, fizemos uma animação que ilustra bem isso. Ela pode ser conferida em nosso site http://www.acaovoluntaria.org.br/videos.asp (primeiro vídeo a esquerda) e está disponível no Youtube para compartilharmos com outras pessoas.
4) RS – Mas essa mobilização é organizada? Ou ainda o trabalho voluntário no Brasil é feito sem nenhum tipo de planejamento?
JM – Em muitas organizações sociais e escolas esse trabalho não tem sido feito com um grande planejamento. No entanto, percebemos que muitas instituições sem fins lucrativos e escolas estão cada vez mais atentas para desenvolverem um programa de “Gestão de Voluntários” que potencialize a ação do voluntário na comunidade. Um modelo de gestão é oferecido pelo CAV, mas muitas instituições encontram suas próprias maneiras de planejar, incentivar e reconhecer seus voluntários, canalizando suas energias para contribuir com o alcance da missão das organizações. Com relação ao cidadão que realiza sua atividade voluntária em comunidades ou movimentos da sociedade civil organizada, muito da organização vem da percepção do que compete a cada indivíduo – qual é a nossa parte no todo, na sociedade – e com isso muitas ações são realizadas de maneira organizada.
5) RS – Como a senhora explica o crescimento de empresas que adotam projetos de voluntariado no Brasil?
JF – Muito se explica pela necessidade trazida com o conceito de Responsabilidade Social, cada vez mais discutido e buscado pelas empresas. Nesse sentido, trabalhamos o voluntariado empresarial como uma das partes que constitui a Responsabilidade Social Corporativa. Mas também percebemos que muito do incentivo trazido pelas empresas para essas ações é fruto de um apoio institucional às ações voluntárias desenvolvidas pelos colaboradores. A empresa, percebendo a mobilização de seus funcionários, busca formas de proporcionar uma atuação mais engajada e comprometida com a comunidade, reconhecendo a importância da atuação voluntária de seus colaboradores.
6) RS – Como é pautado o trabalho do CAV e quais as principais atividades realizadas hoje?
JF – Temos ações com três públicos: as pessoas que querem ser voluntárias, as instituições que querem receber os voluntários e as empresas que querem incentivar seus funcionários a se engajarem socialmente. Para cada um desses públicos, oferecemos ações específicas de promoção do voluntariado. Com as pessoas, temos uma palestra informativa explicando os direitos, as responsabilidades, a legislação do trabalho voluntário. Oferecemos também um banco de oportunidades de trabalho voluntário em instituições sociais cooperadas ao CAV. Para as organizações sociais que passam por esse processo de cooperação, trabalhamos com três focos: divulgação da instituição, espaço de troca de informações entre as instituições e capacitação em gestão de voluntários. As ações com esses dois públicos são gratuitas. O que mantém nossa estrutura é a consultoria que prestamos em voluntariado empresarial, desenhando e realizando um programa adaptado a cada empresa.
7) RS – Essa atuação mudou ao longo dos últimos anos? Qual o maior aprendizado da instituição nesses dez anos de trabalho?
JF – Claro que vamos acumulando aprendizados, mas a principal mudança que sentimos é hoje uma atuação voluntária comprometida com o exercício da cidadania e assim com a transformação social. Isso pode ser sentido tanto entre as pessoas, quanto entre as instituições sociais e empresas e exige uma mudança de práticas nossas mesmo, oferecendo vagas de trabalho voluntário a distância, dicas como o voto consciente e outras práticas de cidadania.
8) RS – Quais são os desafios da instituição e os planos para o próximo ano?
JF – Estamos iniciando nosso Planejamento Estratégico para os próximos 3 anos e definindo as ações.
9) Qual o seu entendimento pessoal do termo responsabilidade social?
JF – Entendo que o termo está muito relacionado ao conceito de desenvolvimento sustentável e à necessidade de ações coerentes com o coletivo por parte de todos, não apenas de empresas. Realizar atividades voluntárias e atuar como um cidadão comprometido com sua comunidade, neste sentido, está para mim contido dentro do conceito de responsabilidade social. Agir com responsabilidade social, está relacionado a perceber-se como parte de uma rede que envolve toda a sociedade e fazer ações comprometidas com o desenvolvimento sustentável dessa sociedade – ações sociais, ambientais, pensando no impacto de nossas ações de maneira coletiva e ampla.
Centro de Ação Voluntária de Curitiba – Tel.: (41) 3322-8076 – Site: www.acaovoluntaria.org.br
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