
Fernando Botelho, de 42 anos, é responsável por um programa de computador que amplia a inclusão digital e o acesso à educação de pessoas com deficiência visual. A licença da ferramenta já foi comercializada em 23 países. Em dois anos, já ganhou mais de 700 adeptos.
Pela iniciativa, o sociólogo ganhou a 4ª edição do Prêmio Folha Empreendedor Social de Futuro, divulgado no mês passado. Cego desde a juventude, em decorrência de uma retinose pigmentar, diagnosticada quando ainda era criança, Botelho estudou sociologia na Universidade Cornell, fez mestrado em relações internacionais e comércio exterior na Universidade de Georgetown, ambas nos Estados Unidos.
Também morou em sete países. Em 2006, Fernando deixou seu trabalho como consultor da Organização Mundial de Comércio da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad/WTO), em Genebra, na Suíça, voltou para o Brasil e começou a trabalhar no programa hoje chamado de F123.
Trata-se de um software de licença livre, voltado a cegos e pessoas com visão subnormal em geral, que inclui sistema operacional, aplicativos (para e-mail, processador de textos, de planilhas, entre outros), além de tecnologias assistidas, como leitor de tela e teclado virtual.
E o melhor: a ferramenta completa pode ser armazenada em um pendrive, de tal forma que o usuário consegue carregá-la para toda parte e utilizá-la em qualquer máquina, ganhando completa autonomia.
“Vi que, se me concentrasse na área da cegueira, poderia fazer a diferença, e isso por causa da minha experiência anterior, minha formação. Descobri também que não estava diminuído por trabalhar nessa área, não precisava me envergonhar”, recorda.
O F123 se apropria de tecnologias existentes, barateando-as e tornando-as acessíveis. Prova disso é que o programa custa apenas 8% do preço do software que hoje é líder de mercado nessa área, ao preço de aproximadamente US$ 20.
A sigla F123, que batizou o recurso, também nomeia a organização que oferece três plataformas de atuação: cursos presenciais, oficinas e cursos à distância. Todas elas envolvem ONGs parceiras e capacitam estudantes e instrutores que podem ou não ter habilidades com informática.
“O reconhecimento da Folha nos dá visibilidade e a chance de levar essa alternativa do F123 a crianças e jovens que hoje não conseguem ser produtivos nem ter as oportunidades que merecem ter porque nem sabem que o F123 existe. Queremos um movimento, uma mudança social, muito mais do que uma simples empresa ou produto”, afirma Botelho.
No momento, o empreendedor está concentrado na ampliação da rede de parceiros. Para tanto, está conduzindo um levantamento com 20 ONGs brasileiras que possam se beneficiar de sua criação. O foco principal são crianças e adolescentes que, tendo acesso desde cedo à tecnologia, podem sair do ciclo de exclusão imposto pela deficiência. Além disso, o dispositivo amplia a chance de inserção no mercado de trabalho ‒ fator especialmente importante, já que 53,8% de pessoas com todos os tipos de deficiência, no Brasil, hoje, estão desempregadas.
Mas as ambições não param por aí: o futuro, acredita, está no desenvolvimento de programas de ensino específicos, como matemática, idiomas e até mesmo química e física, tudo usando a base já existente.
O prêmio
O prêmio reconhece e promove líderes sociais que atuam há, no mínimo, um ano e, no máximo, três anos, de forma inovadora, e que precisem de mais visibilidade para atingir ou consolidar a sustentabilidade de sua iniciativa, além de multiplicar seu impacto. Os finalistas e vencedores da iniciativa receberam mais de R$ 350 mil em benefícios, entre eles auditoria financeira, assessoria jurídica e bolsas de estudo no Brasil e no exterior, para cursos, congressos, seminários e MBAs.
Fernando Botelho – Site: www.f123.org
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