Voluntários transformam abrigo para jovens com dependência química em moradia exemplar
Um grupo de voluntários de Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, transformou em lar um abrigo temporário voltado para jovens dependentes químicos e em conflito com a Lei. Batizada de “Casa Lar”, a instituição realiza um serviço integrado, que envolve moradia, atendimento sócio-educativo, capacitação para o trabalho e geração de renda.
Construída dentro de uma política ambientalmente correta, com reaproveitamento de materiais de construção, a entidade tem hoje a guarda provisória de dez adolescentes, com idades entre 12 a 18 anos. Todos possuem documentação completa, freqüentam o ensino regular e têm encaminhamentos para cursos como, informática, música, esportes, qualificação (Menor Aprendiz), e oficinas profissionalizantes de marcenaria, panificação, confeitaria, culinária, entre outros.
“É importante frisar que essa não é uma casa de abrigagem, mas um lar onde praticamente tudo acontece como na maioria das moradias, com horários, limites estabelecidos, disciplina, respeito e responsabilidades compartilhadas. E todo esse trabalho é feito com uma dose muito grande de diálogo, compreensão, ajuda mútua, perdão e amor, o ingrediente que dá o toque final para essa receita de sucesso”, destaca o presidente da instituição, Rogério Furian.
A organização conta com uma equipe contratada e com vínculos trabalhistas de cinco monitores, uma cozinheira e um assistente social. Mas, segundo o presidente da entidade, a maior força vem do voluntariado, que envolve 30 pessoas engajadas na causa. A instituição conta ainda, com apoio de psicólogos, psicopedagogos, advogados, agrônomos, administradores, nutricionistas, dentistas, médicos, psiquiatras e educadores (sociais e físicos).
Entre os resultados do trabalho da organização, destaque para reintegração familiar de cinco jovens, além de localizar os pais de dois adolescentes de 17 anos, que nunca os tinham visto antes. “Ouvir o relato dessas dez vidas e de outras mais, contadas olho no olho, nos fez ter consciência de nossas responsabilidades e do quanto podemos intervir nessas realidades”, diz Furian. Periodicamente, a instituição presta relatórios de liberdade assistida para a promotoria e Juizado da Criança e Adolescente do município.
Para o adolescente Vitor*, morador da Casa Lar e ex-usuário de crack, com passagem por cinco clínicas para dependentes, a vida só passou fazer sentido, após a sua chegada ao local. “Depois de achar que o mundo só tem graça para quem tem família, dinheiro e amor, e que eu estava longe de alcançar qualquer uma dessas três coisas, descobri que família já tenho, dinheiro às vezes não vale o seu preço e amar estou aprendendo”, conta.
Para o próximo ano, a meta é estender as ações e alcançar as famílias dos moradores da Casa Lar. Para tanto, está em construção o “Pavilhão Social”, local que ofertará apóio sócio-educativo e oficinas para geração de renda. A idéia é beneficiar também a comunidade em geral.
“Estamos terminando a construção da primeira parte do Pavilhão Social, com recursos provenientes do Portal Social (espaço virtual onde é possível doar recursos financeiros para entidade) da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. A área construída era de 150 metros quadrados, mas foi ampliada para 250 m2”, explica Furian. Segundo ele, a organização espera arrecadar R$ 20 mil com a ferramenta eletrônica, recursos suficientes para pôr em prática a continuidade do projeto.
Meio ambiente
Outro foco de atuação da entidade é a educação ambiental. A partir de oficinas e de qualificação profissional, os jovens desenvolvem tecnologias sustentáveis para manutenção da casa, como cisternas, utilização da energia solar, uso de materiais alternativos e reflorestamento interno e externo. Também pelo projeto “Reciclando Vidas Defendendo o Meio Ambiente”, eles separam e reciclam lixo, mantém uma horta e colocam calhas para armazenar água da chuva.
A instituição mantém, ainda, o projeto “Sementes do Amanhã” (Seama), que beneficia no turno inverso da escola 100 crianças com aulas sobre o meio ambiente. Com a construção do “Pavilhão Social”, a entidade pretender atender no próximo ano cerca de 300 pessoas.
* O nome do menor é fictício.
Casa Lar – Telefone: (55) 3324 8321
Também nessa Edição :
Perfil: José Ricardo Gonçalves de Oliveira
Entrevista: José Paulo Soares Martins
Artigo: Mortes e prejuízos do Vale do Itajaí: Tragédia anunciada há mais de 150 anos
Notícia: O que deu na mídia (edição 68)
Notícia: Projeto acompanha crianças carentes após alta de hospitais
Notícia: Natal verde
Oferta de Trabalho: Procura-se (12/2008)
Leave a Reply