
Kerstin Born
Kerstin Born tem mais de 15 anos de experiência com o setor privado, ONGs e política européia, incluindo funções de liderança em gestão de projetos e comunicação social. Sua última experiência no setor privado foi na DaimlerChrysler Financial Services, primeiramente como redatora dos pronunciamentos de seu presidente e posteriormente como gerente do programa de desenvolvimento de talentos da empresa. Sua experiência profissional também inclui serviços prestados para a Fundação Konrad Adenauer. Atualmente Kerstin Born vive em Bruxelas, na Bélgica, de onde coordena os trabalhos da CSR Europe, importante “think-tank” europeu de responsabilidade social empresarial (RSE). Em entrevista exclusiva para o www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, Kirsten Born fala um pouco sobre tendências em RSE e sobre as esperanças no presidente americano, Barack Obama.
1) Responsabilidade Social – O que é a CSR Europe e como é financiada?
Kerstin Born – CSR Europe é a principal rede empresarial européia para responsabilidade social corporativa a qual agrega mais de 80 multinacionais. Trabalhamos com 25 parceiros nacionais da Europa que alcançam mais de 200 empresas no continente.
Nossa missão é apoiar os membros da CSR Europe a internalizar o conceito de responsabilidade social na forma que conduzem seus negócios. Fazemos isto através de uma plataforma para a troca de experiências e boas práticas em RSE, possibilitando o intercâmbio de projetos inovadores e engajando o setor empresarial europeu num amplo debate sobre sustentabilidade e competitividade.
A rede foi fundada em 1995 por experientes líderes empresariais europeus em resposta a um apelo do francês Jacques Delors, então Presidente da Comissão Européia. Nos seus anos iniciais, a CSR Europe recebeu financiamento da Comissão Européia, órgão executivo da União Européia. Hoje, porém, suas atividades são financiadas principalmente pelas anuidades recebidas de empresas parceiras. Para projetos específicos, também buscamos recursos da União Européia ou outras fontes particulares.
2) RS – Na sua opinião, quais serão as principais tendências de RSE na Europa para a próxima década?
KB – Os elementos fundadores da abordagem “européia” de responsabilidade social empresarial – se é possível falar de “uma” abordagem apenas – como a ênfase na ação voluntária, o envolvimento de stakeholders e a inovação – também serão cruciais no futuro próximo. Do mesmo modo, a crise financeira e a atual retração econômica global apenas reforçam a necessidade que empresas desenvolvam estratégias de RSE em seu cotidiano. Para serem bem-sucedidas no futuro, companhias e demais atores da sociedade deverão adotar uma abordagem estratégica voltada à sustentabilidade e criação de valor a longo prazo.
3) RS – E sobre o passado? Você poderia discorrer um pouco sobre quais foram as principais conquistas em RSE e quais as mudanças corporativas na Europa nos últimos 20 anos?
KB – CSR Europe contribuiu muito para que o movimento em prol da RSE fizesse parte da agenda política européia. De fato, a CSR Europe foi criada com o intuito de assegurar que tanto empresas como a Comissão Européia promovessem este objetivo. Desde então, empresas européias têm avançado no sentido de internalizar esse conceito na sua gestão de riscos e também – e isto é novo – enxergar a RSE como campo para oportunidades e inovação.
Alguns anos atrás, CSR Europe e suas organizações parceiras nacionais publicaram um estudo europeu definindo algumas das questões centrais em RSE para empresas européias. A publicação incluía tópicos como inovação e empreendedorismo, formação de talentos e construção de competências, igualdade de oportunidades e diversidade, saúde e segurança, e, por fim, meio ambiente. Este “roadmap” também delineava maneiras para abordar esses pré-requisitos através da assimilação da idéia de RSE dentro da própria empresa, na sua relação com parceiros e também em suas estratégias de comunicação.
O que eu descrevi há pouco cobre questões amplas relativas ao desenvolvimento da RSE na Europa. Exemplos concretos de estratégias ou projetos de RSE podem ser visualizados mais facilmente no tópico “CSR solutions”, um banco de dados disponível em nossa página: http://www.csreurope.org/solutions. Lá disponibilizamos mais de 600 exemplos práticos de como empresas podem implementar um programa de responsabilidade social. O que é claramente visível neste banco é o que mencionei anteriormente: empresas estão gradativamente mudando de uma abordagem de risco, que apenas tangenciava a idéia de RSE, para uma visão de RSE como oportunidade para novos mercados, produtos e processos e, conseqüentemente, uma base mais sustentável para melhor competitividade.
4) RS – Como a União Européia tem abordado a idéia de RSE? Existem incentivos para empresas responsáveis do ponto de vista socioambiental?
KB – Desde a criação da CSR Europe, sempre houve grande interação entre nós e a Comissão Européia, o que sempre resultou num fértil intercâmbio de experiências entre a comunidade empresarial e iniciativas da União Européia em RSE.
A atual estratégia de RSE da Comissão Européia contem 3 elementos-chave: a Aliança Européia para RSE (uma parceria empresarial focada em RSE), o Fórum Multilateral de Parceiros (um fórum de troca de experiências em RSE a nível europeu) e a integração da RSE em políticas públicas européias com, por exemplo, o envolvimento de diferentes instituições e países da União Européia.
Nesse contexto vale lembrar também o último Relatório de Competitividade Europeu, lançado pela Comissão Européia em novembro passado. O relatório descreve em detalhes a relação entre RSE e competitividade e conclui que a “importância da responsabilidade social empresarial não deve ser nunca menosprezada”. Em outras palavras, é uma importante contribuição voluntária de empresas para o crescimento econômico, a geração de empregos e o desenvolvimento sustentável.
5) RS – Você poderia nos falar sobre quais países europeus estão mais avançados em RSE e por quê?
KB – Os desafios sociais, econômicos e ambientais de hoje são incrivelmente complexos e entrelaçados. Desenvolver estratégias eficazes para essas questões, como mudança climática ou migrações, por exemplo, requer abordagens supranacionais e além de fronteiras pré-estabelecidas. No entanto, o contexto local de cada país molda a evolução da RSE e tem um impacto claro sobre o caminho a ser trilhado por empresas locais.
Além de iniciativas empresariais stricto sensu, governos europeus têm recentemente adotado medidas para fomentar a cidadania corporativa em seus países. O governo dinamarquês, por exemplo, lançou um plano nacional de RSE e a Holanda introduziu objetivos ambiciosos para licitações chamadas sustentáveis. Alguns outros países europeus, como França e Suécia, introduziram regras de divulgação de RSE para empresas estatais de maneira a forçar essas empresas a melhorar sua performance e promover maior transparência frente a seus investidores.
No entanto, a estrutura das economias européias varia muito de país a país. Todas diferenças e nuances nacionais e culturais precisam ser analisadas antes de abordamos suas próprias ações de RSE locais.
6) RS – A eleição de Barack Obama trouxe esperanças em mais investimentos em um futuro baseado em energias limpas. Quais são suas expectativas relativas à administração Obama a respeito do desenvolvimento sustentável?
KB – Há uma expectativa generalizada na Europa sobre uma mudança americana em sua postura relativa a acordos internacionais, incluindo questões ambientais e de desenvolvimento sustentável. Mais do que isso, no entanto, é a de que um “global player” com os Estados Unidos buscará uma abordagem conjunta e internacional para questões como estas.
7) RS – Como a América Latina, e em particular o Brasil, podem se beneficiar da experiência da CSR Europe?
KB – Em dezembro de 2008, a CSR Europe – juntamente com seus membros e parceiros – lançou um “toolbox” para negócios socialmente responsáveis destinado a auxiliar empresas e parceiros a abordar desafios sócio-ambientais e integrar a prática de RSE em seu cotidiano.
A ferramenta, disponível em http://www.csreurope.org/toolbox, inclui guias práticos, relatórios de pesquisa, recursos online, redes colaborativas e demais instrumentos sobre tópicos como diversidade, bem-estar no ambiente de trabalho, cadeia de produção, inclusão social e outros assuntos relacionados à RSE. Esta ferramenta é um recurso útil para companhias não apenas na Europa, mas também em demais partes do mundo.
8) RS – Vários membros da CSR Europe são multinacionais conhecidas que exercem uma influência considerável no mundo em desenvolvimento. Podemos dizer que os padrões de RSE são os mesmos para todo o planeta, seja a Europa ou países em desenvolvimento?
KB – Internamente, empresas estão concluindo esforços significativos em integrar a RSE em seu dia a dia, tanto para diferentes funções quanto diferentes localidades geográficas. Ligar princípios globais a práticas locais é freqüentemente desafiador, mas num mundo globalizado integrar práticas responsáveis nos negócios é de crucial importância. Ao mesmo tempo, diferenças nacionais e culturais devem ser observadas – se não levarmos isto em conta, corremos o risco de falhar porque tradições e valores locais têm um significado importante. Os valores morais, independentemente de qualquer cultura, são ingredientes importantes para qualquer abordagem de RSE e sua conseqüente implantação.
9) RS – Qual a definição de responsabilidade social aos olhos da CSR Europe?
KB – Usamos a definição da Comissão Européia segundo a qual RSE é um “conceito pelo qual empresas integram preocupações socioambientais em suas práticas corporativas e na interação com seus colaboradores de forma voluntária”. Nós, da CSR Europe, porém, adicionaríamos o complemento “… e com benefício mútuo para empresa e sociedade”.
CSR Europe: www.csreurope.org
Também nessa Edição :
Perfil: Anísio Antônio Izidoro
Artigo: Planejamento, Monitoramento e Avaliação (PM&A) na Responsabilidade Social
Notícia: O que deu na mídia (edição 74)
Notícia: Empreendedorismo juvenil
Notícia: Stihl tem R$ 11 milhões para o social
Notícia: Novo lar
Oferta de Trabalho: Procura-se (03/2009)
Leave a Reply