Por Robert K. Walker
Num contexto de crise financeira global, por que levantar o assunto de Planejamento, Monitoramento e Avaliação – PM&A? Para responder essa questão, precisamos perguntar se RSE é a sobremesa, ou é o prato principal da empresa? E algo que só se faz quando as coisas vão bem, ou é condição de sobrevivência? Especificamente, qual é o verdadeiro papel do setor de finanças na economia moderna?
Até que ponto ele seria responsável por disponibilizar recursos para a produção e distribuição de bens e serviços verdadeiramente úteis e ecologicamente adequados?
Assim como as empresas, principalmente as financeiras, estão sendo questionadas nesta crise, as ONGs e outras OSC estão sendo interrogadas, inclusive em CPI’s. Há uma necessidade de rebranding (uma nova definição de imagem) para todos. O trabalho adaptativo, tão necessário hoje, envolve não somente a análise da realidade, mas também o esclarecimento de valores – em outras palavras, a avaliação.
A avaliação de programas já se tornou peça fundamental nas áreas social e ambiental, sendo exigida por organismos internacionais e multilaterais e, cada vez mais, governos e fundações. Planejamento e monitoramento, por sua vez, são de importância primordial, tanto para a execução quanto para a avaliação de programas e projetos. Hoje, principalmente na América Latina, se costuma acrescentar a sistematização, definida por Oscar Jara Holliday (2006) como “aquela interpretação crítica de uma ou várias experiências que, a partir de seu ordenamento e reconstrução, descobre ou explicita a lógica do processo vivido, os fatores que intervieram no dito processo, como se relacionam entre si e porque o fizeram desse modo”.
Hoje, o verdadeiro líder não seria aquele que se orienta pelo planejamento, monitoramento e sistematização e, principalmente, pela avaliação?
A avaliação econômica de projetos é tradicional no mundo empresarial, hoje complementada por essas e outras abordagens novas. A Fundação Itaú Social promoveu, no dia 30/10/2008, o V Seminário Itaú Internacional Avaliação Econômica de Projetos Sociais, que reuniu cerca de 250 representantes de organizações sociais. No evento, especialistas apresentaram casos de mensuração realizados nos mais diferentes projetos, enquanto a platéia questionava, porém, a sua viabilidade. A avaliação econômica de projetos seria quiçá uma contribuição necessária, porém não suficiente?
A RedeGIFE ONLINE (a fonte consultada) conclui dizendo, “Fora do seminário promovido pela Fundação Itaú, no entanto, o debate é distinto… Embora a discussão sobre o tema [de avaliação] seja considerada imprescindível, não há um campo fortalecido no Brasil para isso”.
Num link, Rodrigo Zavala afirma que “Considerada um dos mais complexos desafios para organizações, sejam elas públicas, privadas ou de movimentos da sociedade civil, a avaliação é uma espécie de ‘calcanhar de Aquiles’ do campo social. No debate sobre o assunto, não faltam metodologias desacreditadas, projetos inovadores e polêmica na utilização dos mais distintos modelos e padrões”.
Zavala cita uma pesquisa recente realizada pela agência TNS InterScience entre 211 empresas com investimentos comunitários que revela que “Entre os números apresentados, um dos que mais chamam a atenção se refere à questão central do trabalh se a organização avalia seus projetos. Segundo as respostas, 75% afirmam que o fazem, contra 25%. No entanto, quando estes 75% são questionados sobre o valor gasto nessa avaliação, 69% disseram ‘não saber’. Como não sabe? Se não tem essa informação é porque não o faz. Creio que o número verdadeiro, daqueles que realmente avaliam é o oposto, apenas 25%” (Paulo Roberto Secches, presidente da agência).
Como ajudar as organizações e os participantes de seus projetos a não somente avaliar, mas também planejar, monitorar e sistematizar suas iniciativas?
Outro dado citado mostra quem são os responsáveis pela avaliação. Em 53% dos casos, ela é interna, coordenada pelos profissionais envolvidos nos programas. Isto é, em mais da metade há um conflito, em que não há diferença entre avaliador e avaliado. Na opinião de Secches, “Isso mostra uma solução caseira para o problema. Quem faz não pode avaliar, por melhor que seja a intenção”.
O planejamento, monitoramento e sistematização são tipicamente processos internos, muitas vezes em articulação com o doador ou organismo, ou então o escritório sede. A avaliação pode, e deve, ser um processo interno também; no entanto, agregar a avaliação externa periódica traz vantagens importantes, no sentido de estabelecer a transparência, autenticidade e maior objetividade.
Por outro lado, a insistência em abordagens técnicas muito específicas, complexas e caras pode acabar afastando as pessoas que precisam se envolver no processo. O desafio á fazer com que os atores diretamente envolvidos sintam que o processo é simples, prático e relevante, e que realmente lhes pertence (ownership).
Nesse sentido, ao longo do próximo semestre será publicada uma serie de artigos sobre o marco lógico e os critérios CAD (Comitê de Assistência para o Desenvolvimento) de avaliação, o monitoramento, a avaliação, o mapeamento de resultados (a serem) alcançados – OM, e a sistematização.
Robert K. Walker é Doutor em Educação e avaliador profissional. Tem larga experiência nos organismos internacionais e multilaterais (bancos de desenvolvimento) e seus projetos, e no ensino universitário. Foi Oficial de Programa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. Reside no Brasil desde 1974. É sócio fundador da Ágere Cooperação em Advocacy, em Brasília. E-mail: bobkwalker@gmail.com
Também nessa Edição :
Perfil: Anísio Antônio Izidoro
Entrevista: Kerstin Born
Notícia: O que deu na mídia (edição 74)
Notícia: Empreendedorismo juvenil
Notícia: Stihl tem R$ 11 milhões para o social
Notícia: Novo lar
Oferta de Trabalho: Procura-se (03/2009)
Leave a Reply