
Vereador Elvis Côrtes entrega diploma para Fabiana Xavier
Considerada um exemplo de vida e superação, a dentista mineira Fabiana Xavier foi homenageada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte no último mês. Ela recebeu o diploma como reconhecimento pelo trabalho missionário realizado com comunidades carentes da África, América Central e Brasil.
Mas o seu espírito solidário também tem um olhar local. Está prevista para o próximo mês a finalização da construção de um consultório odontológico no Aglomerado da Serra, na capital mineira, que prestará atendimento para população de baixa renda. A ideia para a instalação da unidade surgiu da vontade de ajudar a comunidade local e voluntários de uma ONG internacional que atua na região. Na entrevista exclusiva, Fabiana fala desse projeto e sobre sua experiência como missionária. Acompanhe.
1) Responsabilidade Social – A senhora foi homenageada pela Câmara Municipal de Belo Horizonte pelo trabalho missionário realizado em comunidades carentes da África, América Central e Brasil. Na sua avaliação, qual o impacto dessa experiência para sua a formação?
Fabiana Xavier – Realizo trabalho missionário, há mais de 10 anos, como voluntária na odontologia. Desde estudante, já percorria comunidades carentes na ambulância móvel da Igreja Batista da Floresta. Estive em várias comunidades carentes em Belo Horizonte [MG], Contagem [MG], Porto Seguro [BA], no sertão nordestino, aldeias de índios Pataxós, além de países como Moçambique e Nicarágua também muito necessitados. Atribuo a Jesus a glória de ter ensinado a me doar assim como Ele se doou. É meu exemplo e inspiração que alimenta esse ideal, o amor Dele por nós.
Cada trabalho missionário transforma nossa vida de alguma maneira. Acabamos aprendendo muito mais do que ensinamos. Cada sorriso que ajudei a trazer, a alegria das crianças órfãs da África ao serem atendidas, mesmo sendo portadoras de doenças crônicas e vindas da mais absoluta, me marcaram para sempre.
Além da formação do meu compromisso ético com minha profissão me ajudaram a aprimorar habilidades manuais e capacidade de improvisar e solucionar problemas com agilidade e de forma criativa. Sempre trabalhamos com o que tivesse disponível, na maioria das vezes longe do ideal de um consultório bem montado, mas sempre com muito amor e tratando a todos com dignidade como deve ser. Ver a necessidade dos outros nos torna mais compassivos com o sofrimento humano, seja em que grau for e assim prestar um serviço mais humanizado até mesmo no consultório particular que dirijo há 10 anos.
2) RS – Quais foram os momentos mais emocionantes que vivenciou como missionária? E quais as decepções?
FX – Os mais emocionantes foram na África, minha primeira grande missão internacional e que tive que liderar e organizar tudo. Muitas crianças órfãs tão carentes de tudo. Nos índios Pataxós pude ver outra cultura dentro do meu próprio País. As reações são diferentes à dor e às necessidades. Os pais criam os filhos muito diferente do nosso padrão. O calor humano com que fomos recebidos em todas as partes do Brasil mostra que nosso povo é mesmo muito carinhoso. E a frieza do povo da Nicarágua, não sei se por cultura ou por excesso de sofrimento e desesperança, nos surpreendeu muito.
As maiores decepções são quando pessoas só querem se envolver e ajudar se tiverem algum interesse pessoal ou social, querendo manipular as pessoas com seus gestos sem amor. E ver a luta que há em nosso País onde as empresas não têm incentivos desburocratizados para doar ou não tem a cultura de se envolverem nas causas sociais, diferente de países como os Estados Unidos de onde veio a maioria das doações. Mas fico feliz em perceber, de alguns anos para cá, que essa realidade começa a mudar. O Brasil despertou para se ajudar. O brasileiro hoje é mais generoso e compartilha mais.
3) RS – A senhora também está à frente de uma iniciativa para criação de um consultório odontológico no Aglomerado da Serra, em BH. Como surgiu esse projeto?
FX – Uma amiga e cliente me indicou para atender uma missionária que precisava muito de tratamento. Ela veio da Holanda, era enfermeira, e morava no Brasil há algum tempo. Como o trabalho deles não tem fins lucrativos, precisam de ajuda para conseguir tratar. Conversando com ela disse que senti vontade de ajudar mais o trabalho deles, na Jocum, uma ONG internacional, pois percebi que não somente ela, mas outros missionários precisavam muito de tratamento e moram em aglomerados aqui onde a comunidade também precisa muito. E ainda sempre que olho da janela do meu consultório vejo uma parte do Aglomerado da Serra e sempre quis ajudar. Quando me disseram que tinham um espaço disponível para a montagem do consultório na Unidade do aglomerado da Serra fiquei duplamente motivada em ajudar.
4) RS – A unidade já presta atendimento? Como será pautado o trabalho do consultório?
FX – A unidade ainda não está pronta, pois estamos em fase de coleta de doações e planejamento. Já compramos o equipamento odontológico básico e as obras estão previstas para serem completadas até maio.
5) RS – Quantas pessoas estão envolvidas nessa iniciativa? O projeto conta com parcerias?
FX – De início comecei sozinha, meu marido me deu apoio. A partir da ideia original várias pessoas do meu convívio com quem conversei sobre o projeto, algumas que já conhecem meu trabalho há anos, foram fazendo doações espontâneas. Como já ajudei a montar outras unidades em ONGs, pesquiso bons preços para dinamizar os recursos. A Igreja Batista da Floresta, a qual pertenço, também me apoia há anos e lá consegui voluntários para doarem materiais e serviços para a reforma do local. Ganhei também de uma designer, da MondoWeb, agendas para vender e angariar fundos.
6) RS – Quais serviços serão ofertados e qual o perfil do público-alvo?
FX – Os serviços ofertados em odontologia dependerão de quais profissionais especialistas conseguiremos como voluntários, pois não temos fundos para contratar. Alguns já se ofereceram. O público-alvo são os moradores carentes do aglomerado nos dias de semana e aos sábados os missionários e equipe que presta assistência na própria Jocum. Todas as unidades da ONG são de assistência social e prestam diversos serviços gratuitamente a comunidade. Esperamos que o SUS [Serviço Único de Saúde] possa assumir essa unidade como parte do PSF [Programa Saúde da Família] futuramente como consegui na unidade que ajudei a montar no aglomerado de Nova Contagem.
7) Qual o balanço que a senhora faz do que já foi feito? Em quais metas vocês estão envolvidos para o futuro?
FX – O balanço do que já foi feito é positivo, pois um projeto que só nasceu há cerca de quatro meses e que depende totalmente de voluntários já conseguiu arrecadar quase todo o montante para ser colocado em ponto de funcionamento. O planejamento é viável para ser finalizado até maio. As metas para o futuro são conseguirmos atender as demandas da comunidade e da ONG Jocum que serão precisamente conhecidas ao iniciarmos os trabalhos. Também esperamos ampliar o espaço e serviços ofertados e, quem sabe, conseguir integrar o espaço ao SUS, pelo PSF. Hoje, não há nenhuma clínica que preste assistência no local e o posto de saúde é bem precário.
8) RS – Há outras informações que deseja destacar?
FX – Caso haja interessados em contribuir ou se oferecer para voluntariado para o projeto do consultório odonto-médico no Aglomerado da Serra podem obter os contatos no site http://www.drfab.com.br.
Fabiana Xavier: www.drfab.com.br
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