Por Ricardo Rose
Os meios de comunicação de massa provocam na população a falsa expectativa, de que as anunciadas medidas para solucionar um problema, serão diretamente proporcionais à divulgação que foi ao fato. Quando se trata da questão ambiental, sabemos que isto absolutamente não corresponde aos fatos. O Brasil, com sua diversidade de biomas, sua extensão territorial, e, principalmente, sua disparidade social, padece de problemas ambientais, amplamente divulgados, para os quais as soluções estão longe de terem sido encaminhadas.
Investimentos em meio ambiente no Brasil, principalmente para minorar os problemas ambientais urbanos, totalizaram cerca de US$3,5 bilhões em 2005, aproximadamente 0,4% do PIB brasileiro. Comparados com outros setores da economia do País são investimentos diminutos, refletindo uma visão econômica de curto prazo e ignorância do inter-relacionamento entre as atividades econômicas e a natureza. Para a maioria dos agentes, governos e empresários, a questão ambiental ainda não é importante, pois requer alocação de recursos que – sob uma ótica de curto prazo – não trazem retorno significativo, tanto nas urnas quanto nos caixas.
Em termos de investimento, o maior segmento do mercado ambiental brasileiro é o de saneamento básico, que inclui o tratamento de água e de esgoto doméstico. Trata-se de um dos maiores problemas enfrentados nos centros urbanos de todo o país. Segundo dados publicados pelo IBGE em 2002, aproximadamente 23% dos domicílios (cerca de 9,9 milhões de unidades à época), não contam com abastecimento de água pela rede pública. Quanto ao esgoto doméstico, somente 47,2% dos domicílios estão ligados às redes coletoras, mas apenas 20 % do volume coletado somos tratados. Os valores investidos em novos projetos de saneamento alcançaram aproximadamente US$1,3 bilhão em 2002, representando cerca de 0,2% do PIB. Muito abaixo, portanto, do limite mínimo de 1% do PIB, estabelecido pela Organização Mundial de Saúde para países com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) equivalente ao do Brasil. O problema é de tal gravidade, que segundo o Ministério da Saúde 65% das internações hospitalares no país são decorrentes da má qualidade (ou inexistência) dos serviços de saneamento. Apesar disso, nestes últimos quatro anos nada mudou; ao contrário, os investimentos do governo federal foram até menores.
O segundo mais importante segmento do mercado ambiental é o de gerenciamento de resíduos urbanos, principalmente o lixo doméstico. Estima-se que este mercado e o de resíduos industriais, movimentaram juntos cerca de US$1,7 bilhão em 2005. O valor parece considerável, mas pouco representa para um País que gera cerca de 125.000 toneladas diárias de lixo. Deste volume, aproximadamente 70% é regularmente coletado por serviços instituídos pelos municípios. Depois da coleta, começa a segunda fase do problema: a destinação final do lixo doméstico. Problema, porque são poucos os municípios no Brasil que dispõe de um aterro sanitário, construído segundo normas técnicas recomendadas pelas agencias ambientais. A maioria dos 5.568 municípios brasileiros utiliza-se de buracos cavados no solo, “lixões”, sem qualquer tipo de isolamento, onde os resíduos municipais são jogados. Em muitas cidades, para agravar a situação, juntam-se aos resíduos domésticos os resíduos hospitalares e até os industriais – perigosa convivência, tolerada ou ignorada pelo poder municipal. A reciclagem é praticada em aproximadamente 400 municípios brasileiros.
Quanto aos resíduos perigosos industriais, a maior parte provêm de atividades industriais, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, totalizando aproximadamente 2,7 milhões de toneladas (dados de 2002). Cerca de 20% deste volume é disposta corretamente em aterros sanitários classe I ou incinerado. Outra parte dos resíduos é estocada, geralmente nas próprias empresas geradoras, aguardando uma destinação final (que pode demorar anos). Sem falar da quantidade que simplesmente desaparece, e sobre a qual os órgãos de controle ambiental não têm informações.
Ainda resta-nos fazer uma breve referência à poluição atmosférica. Segundo dados da agencia ambiental de São Paulo (CETESB) cerca de 85% da poluição atmosférica urbana é gerada por veículos automotores. Para minorar a poluição nos grandes centros já foram ensaiados diversos programas de controle de emissão veicular, porem sem sucesso.
As notícias na mídia sozinhas não trarão a solução para os problemas ambientais. Nem a elaboração de leis, e a criação de programas nos moldes atuais. É preciso criar mecanismos, que possibilitem à sociedade participar ativamente no desenvolvimento e implementação das soluções necessárias.
Ricardo Rose é Diretor de Meio Ambiente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. E-mail: mambiente@ahkbrasil.com
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