
Uma história de luta e dedicação marca a trajetória da jornalista e empresária, Marta Serrat, de 54 anos. Vítima de abuso sexual na infância, ela trabalha a mais de dez anos contra a pedofilia e os frutos desse trabalho vão desde a produção e distribuição de uma cartilha educativa e a criação de uma coordenadoria para investigar crimes eletrônicos dessa natureza.
A motivação de Serrat surgiu em 1998, após seu filho, então com 17 anos, receber 40 fotos pornográficas de crianças entre três e quatro anos de idade pela internet. “Eu sempre tive envolvimento com ações sociais, mas, realmente, o fato do meu filho ter recebido fotos ofendeu a todos nós e a partir disso nunca mais deixamos de trabalhar na prevenção e no combate aos predadores sexuais de crianças. Esse episódio, além de ter resgatado as lembrança de um abuso que eu sofri, nos despertou para ajudar as vítimas desse crime que consideramos crime contra a humanidade”, relata.
Quando fez a denúncia, Marta constatou que no país não havia estrutura para o combate desses delitos e assim iniciou uma cruzada em busca de ajuda para descobrir quem estava distribuindo o material via salas de bate-papo. “No Brasil daquela época, fim de milênio, era da informática, não existia nas instituições policiais e militares, equipamentos, especialistas e, também, leis adequadas para punir crimes eletrônicos de qualquer natureza e, sobretudo, ações condenáveis contra crianças na internet”, lembra.
Serrat e o filho telefonaram para todas as instituições policiais, Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro e especialistas de universidade. Após esse trabalho foi criada a primeira Coordenadoria de Investigação de Crimes Eletrônicos e inúmeros internautas pedófilos foram descobertos e casos de abuso e exploração sexual infantil foram denunciados.
Mas, mesmo com esses avanços e passados quase 11 anos, ela alerta que o cenário de exploração sexual infantil ainda é preocupante no Brasil. “De lá para cá, apesar das políticas públicas e do trabalho da CPI da Pedofilia, ainda falta muito para dizermos que a situação está controlada e que o abuso diminuiu. Não diminuiu e a cada dia sabemos de mais predadores sexuais de crianças que sem medo, continuam praticando violência contra nossos filhos”, denuncia.
Segundo ela, já há leis que tipificam os crimes de pedofilia, mas é difícil a sua aplicação. “Eu só vou acreditar em um enfrentamento e combate mais incisivos quando for criada no Brasil uma força institucional nos moldes das policias Federal, Civil, Militar para investigar os crimes, os criminosos e prendê-los”, destaca.
Em outra frente, Serrat aposta na educação como arma para o combate aos crimes de pedofilia. “Apesar do esforço de parlamentares, dirigentes, ONGs, tudo ainda é muito caso por caso. A demanda é muito grande para um contingente pequeno de investigadores. Existe uma conscientização maior entre os internautas, de que exploração sexual infantil na rede é crime”, analisa.
Nesse sentido, a jornalista elaborou a “Cartilha vida de criança”, que traz informações para os jovens na faixa etária do ensino fundamental a se defenderem dos exploradores sexuais, das drogas, além de trabalhar conceitos sobre saúde, cidadania e ecologia. “Nesse momento, estamos em busca de patrocínio para imprimirmos o máximo de exemplares que pudermos e transformarmos essas distribuições em um vigoroso movimento internacional contra a pedofilia”. Diz. A publicação também está disponível para download no endereço http://www.vidadecrianca.org.
Mas Marta Serrat, destaca que o trabalho de combate à exploração sexual infantil começa dentro de casa. “Os pais não podem ter vergonha de conversar com os filhos, de qualquer idade, sobre as coisas ruins que certas pessoas podem fazer contra crianças. É importante verificar diariamente as roupas íntimas das crianças e as condições e o aspecto físico delas, sempre ao acordar e ao dormir. É preciso também monitorar os filhos durante navegação na internet e escolher a programação de TV mais adequada às crianças”, explica.
É importante, ainda, não incentivar o erotismo precoce nas crianças por meio da dança, música e moda, além de observar o comportamento das pessoas que rodeiam as crianças. “Ao menor sinal de intimidade morbosa ou refração da criança pela escola ou por alguém da família, pesadelos, gestos não-convencionais para a idade da criança, o alerta deve ser aceso”, completa.
Marta Serrat – E-mail: serratmarta@hotmail.com
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