
Trabalho iniciado por Vera no Rio já beneficiou mais de 9 mil crianças
A fundadora e coordenadora da Associação Saúde Criança, Vera Cordeiro, faz um balanço das ações da instituição sediada no Rio de Janeiro. Em 19 de atuação, a entidade já atendeu mais de dez mil pessoas e realizou 2,5 mil cursos profissionalizantes. Recentemente a instituição expandiu as atividades, por meio de uma franquia social e espera credenciar oito instituições até o final do ano.
Nesta semana, na segunda-feira 18, a entidade foi premiada na categoria Instituições do Bem do prêmio Sorriso do Bem 2010, promovido pela Turma do Bem, instituição que conta com mais de 7,5 mil dentistas voluntários e atende a jovens e crianças de baixa renda.
Ainda na entrevista, Vera avalia como o setor da saúde incorporou as ações de responsabilidade social e como a prática avançará nos próximos anos. “Se quisermos ver a população brasileira saudável, a responsabilidade social terá que ser cada vez maior. Os três setores (sociedade civil, empresas e governo) ainda não trabalham com um esforço conjunto, como poderiam”, analisa. Confira na entrevista, os principais desafios da instituição e as metas para o futuro.
1) Responsabilidade Social – A Associação Saúde Criança há quase duas décadas realiza um trabalho voltado para a melhora dos pacientes após alta médica, considerado como inovador. Para a senhora, a que se deve esse resultado?
Vera Cordeiro – O ponto inovador é que a Saúde Criança busca colocar em prática o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica como saúde: o bem estar biopsicossocial do indivíduo. Ou seja, nós vamos além do atendimento médico tradicional, porque esse por si só, não é suficiente para a promoção da saúde. Nosso objetivo não é substituir o Estado. Queremos complementar as ações dele, muitas vezes, dando significado ao que é feito nos hospitais públicos.
2) RS – A senhora é a fundadora da instituição e mesmo após 19 anos ainda comanda e acompanha de perto as ações realizadas. A senhora não teme que, de alguma forma, o projeto fique muito centralizado na sua figura?
VC – Não tenho essa preocupação, pois ao longo dos anos fomos profissionalizando cada vez mais a instituição, construindo inclusive um fundo patrimonial. Se você pensar na Ashoka, fundada por Bill Drayton, CDI, por Roberto Baggio, Instituto Noos, por Carlos Zuma, Ciudad Saludable, por Albina Ruiz, Childline India Foundation, por Jeroo Billimoria e Grameen Bank, pelo Yunus, todos seguem tendo o trabalho do fundador e estão cada vez mais fortes enquanto equipes.
3) RS – Qual o balanço que a senhora faz do que já foi feito ao longo desse período? Em que projetos, metas vocês estão envolvidos para o futuro?
VC – O balanço é muito positivo. Basta relembrar o impacto do nosso trabalho nas famílias e a consolidação da franquia social. Em 19 anos de atividades, mais de 13 mil pessoas foram atendidas pela Saúde Criança. No futuro, penso que a disseminação da nossa metodologia por meio de políticas públicas trará um enorme impacto, não só no Brasil como no mundo.
4) RS – No segundo semestre deste ano, vocês iniciaram um processo de expansão, que tem por meta levar esse modelo para outras três regiões do país e credenciar até o final deste ano oito instituições. O que motivou a instituição realizar esse sistema de “franquia social” e quais serão os retornos para a população brasileira?
VC – A governança por meio de franquia social permite um controle mais eficiente do trabalho realizado nacionalmente. Portanto, o alcance e o beneficio são maiores para a população que vive abaixo da linha da pobreza.
5) RS – O setor da saúde, por princípio, deve ser norteado por diretrizes de responsabilidade social. Na sua opinião isso ocorre na prática no Brasil?
VC – Acho que temos que melhorar e aprofundar muito a participação da sociedade civil junto ao governo, especialmente na questão da saúde. Além disso, existem diversas maneiras das empresas privadas se tornarem mais participativas e contribuírem para a melhoria da saúde em nosso país. A prática da intersetorialidade é o caminho.
6) RS – Na sua avaliação, como a área da saúde adotou a prática da responsabilidade social?
VC – Se quisermos ver a população brasileira saudável, a responsabilidade social terá que ser cada vez maior. Os três setores (sociedade civil, empresas e governo) ainda não trabalham com um esforço conjunto, como poderiam. Para maximizar o impacto em beneficio da população, os setores precisam se relacionar de forma mais harmônica. Ainda temos muito a realizar e a dialogar, agora e em um futuro próximo.
7) RS – A senhora, pode falar como essa prática evoluiu nos últimos dez anos nesse setor? Quais os principais avanços e os retrocessos?
VC – No sentido de todos os atores entenderem que teriam que contribuir para a melhoria das condições de vida da população, a prática evoluiu muito. Ajudaria ainda mais o debate aprofundado do que significa responsabilidade social. Também é importante divulgar exemplos constantes na mídia das parcerias intersetoriais que estão trazendo resultados evidentes.
8) RS – Na sua avaliação, como o tema da saúde entrou na agenda política dos candidatos à Presidência da República?
VC – Continuo a achar que saúde do ponto de vista integral ainda é pouco discutida pelos candidatos.
9) RS – Na sua opinião, como a agenda da responsabilidade social na área da saúde caminhará nos próximos anos?
VC – Acredito que isso dependerá do grau de consciência em relação à responsabilidade de cada indivíduo, assim como de cada segmento: o governo, as empresas e a mídia. Depende também de definir o país que todos queremos ser. Só haverá debates e ações transformadoras se as pessoas continuarem cada vez mais a se indignar com nossa profunda desigualdade social e, se juntos, resolvermos criar uma nova sociedade.
10) RS – O que a senhora entende por ‘responsabilidade social’?
VC – Responsabilidade social passa pela percepção de que todos temos o dever de ir além do auto-sustento. Temos que usar nossos talentos e recursos para benefício do maior número possível de indivíduos. Não importa se trata-se de uma pessoa ou de um segmento da sociedade como governo, sociedade civil ou mídia. Todos somos responsáveis. A visão curta sobre a felicidade individual ou familiar isolada é uma miopia grave.
Além disso, as empresas brasileiras precisam se envolver de uma forma mais sustentável e ampla, formando uma forte parceria com organizações sérias para transformar a realidade em que vivemos. Acredito, também, que poderia ser muito maior a interação entre os três setores, pois esse é o caminho para a transformação da sociedade brasileira em uma sociedade mais justa e equânime.
Não é necessário reinventar a roda. Trabalhos como o da Saúde Criança, que tem 19 anos de atuação e já provou sua eficácia metodológica, devem ser apoiados para que ganhem escala e possam beneficiar cada vez mais pessoas.
No caso da Saúde Criança, podemos medir a eficácia por meio de impactos diretos. Num universo de 113 famílias avaliadas, 24% das crianças precisavam de cuidados clínicos. Ao final do programa, o percentual diminuiu para 7%, segundo avaliação feita pelo médico responsável. Houve também redução de 66% nos dias de internação hospitalar, o que representa uma economia anual para os cofres públicos de R$ 2,5 milhões. Em relação à renda familiar, verifica-se um aumento de 32% ao final do programa.
Outros trabalhos já bastante conhecidos e respeitados no Brasil e internacionalmente, como o Saúde Criança, devem receber o suporte de todos os segmentos da sociedade, como o que temos com os nossos patrocinadores. E nunca se esqueçam da frase da Margaret Mead, importante antropóloga norte-americana: “Nunca duvidem de um grupo muito comprometido de pessoas, pois elas podem mudar o mundo”.
Associação Saúde Criança – Telefone: (21) 2286-9988
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