
Jovens aprendem sobre mídias digitais
A filosofa e educadora social Vanessa Belém é responsável pelo projeto MídiaCOM, realizado no município de Aquiraz (CE), pelo Instituto Tecnológico e Vocacional Avançado (Iteva). Trata-se de um curso gratuito com duração de dois anos, com aulas que englobam informática, design e planejamento estratégico. A proposta é formar jovens de baixa renda em mídia digital e prepará-los para o mercado de trabalho.
“O projeto vem quebrando paradigmas com a capacitação avançada de jovens vindos da escola pública e isso vem sendo conseguido com a visão de que não basta apenas capacitá-los. É preciso também criar mecanismos para que possam se inserir no mercado de trabalho por meio de empregos, ou na sua organização cooperada”, destaca Vanessa, que também é coordenadora administrativo-financeira do Iteva e uma das fundadoras da instituição.
A metodologia já dá mostras que é eficaz e registra em sua carteira de clientes empresas como Telefonica, Gerdau, Coca-Cola, Petrobras, Siemens, Tetra Pak, Natura, Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outras instituições. Na entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com, Vanessa detalha a proposta do projeto e apresenta as metas para 2011. Confira.
1) Responsabilidade Social – Quando e como o projeto MídiaCom foi criado?
Vanessa Belém – O Instituto Tecnológico e Vocacional Avançado (Iteva) é uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sediada na zona rural de Aquiraz, no Ceará, constituído em 1999 com a finalidade de atuar nas temáticas de produção científica, difusão tecnológica, capacitação técnica e qualidade de vida.
Os recursos multimídia há anos vêm sendo empregados por seus integrantes para apresentar projetos e proferir palestras. Numa dessas apresentações, em outubro de 2003, o método utilizado chamou a atenção de um técnico do Sebrae que identificou o potencial de mercado para esse tipo de trabalho. Além das ações de cunho científico, o Iteva sempre atuou junto à população do seu entorno. Veio então a ideia de capacitar em comunicação digital os jovens da comunidade. Assim, em março de 2004, o instituto iniciou um trabalho local com 11 jovens.
2) RS – Qual a principal proposta da iniciativa?
VB – Promover a inclusão digital e social de jovens de baixa renda por meio da oferta de qualificação profissional voltada para os fundamentos da computação gráfica e comunicação digital de alto nível. A ideia é garantir a oportunidade do primeiro emprego, ocupação produtiva e ascensão profissional no mercado de multimídia.
3) RS – Quais os resultados podem ser apresentados?
VB – Promoção da inclusão digital e social de 376 jovens por meio da oferta de qualificação profissional voltada para os fundamentos da computação gráfica e comunicação digital; educação profissional de 181 jovens por meio de capacitações técnicas em multimídia de alto nível, favorecidas pelo uso de tecnologias da informação e comunicação; e ocupação produtiva e permanência profissional de 62 jovens no mercado de multimídia, com base em um plano de carreira no Projeto MídiaCOM.
O projeto gera recursos próprios por meio da prestação de serviços. Tais esforços são intensificados a partir da qualificação de mais pessoas e essas vão adquirindo experiência e engajamento profissional nas atividades.
O Projeto MídiaCOM é certificado como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil; Caso de Sucesso do Sebrae (CE), relatado no livro “Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras 2008”, Case da 4ª Conferência Internacional BAWB – Business as Agent of Word Benefit (Negócios como Agentes para um Mundo Melhor), finalista do Prêmio Êxito Empresarial 2007 nas categorias “Serviço” e “Empresa Cidadã.
4) RS – Com esses resultados, a instituição planeja expandir o projeto? Quais as metas para 2011?
VB – O Projeto MídiaCOM abrange um escopo diversificado de atuação, fundamentado na metodologia própria do Iteva, composta por um método de formação e um plano de carreira, que vem sendo implementado com êxito junto aos jovens engajados ao projeto.
Planejamos sistematizar uma metodologia hoje empregada no Iteva, para que permita ser replicada em outras entidades da sociedade civil, tendo em seu âmago um processo capacitacional e produtivo para atendimento ao público jovem, com ações efetivas para geração de renda e acesso a oportunidades de trabalho, por meio das tecnologias de informação e comunicação de alto nível, valorizando o intelecto e a criatividade e incentivando a busca constante pelo conhecimento.
Também esperamos analisar a atual metodologia, propondo ajustes visando sua sistematização para replicação; textualizar a nova metodologia, para que possa servir de manual em sua replicação em entidades parceiras; formatar um novo pacote de programas capacitacionais e materiais didáticos; reproduzir os materiais didáticos em número suficiente para atender ao projeto piloto; produzir um software de gestão de processos; e iniciar, como projeto piloto, o processo capacitacional em ONGs parceiras.
5) RS – Quantas pessoas estão envolvidas hoje na iniciativa?
VB – O atual grupo que compõe os alunos e profissionais do Projeto MídiaCOM, estarão atuando em todas as etapas da sistematização.
6) RS – Quais atividades são desenvolvidas atualmente?
VB – O curso é gratuito e tem a duração de dois anos. A capacitação básica compreende o estudo de informática, com aulas de powerpoint, word, excel, access, coreldraw, photoshop, premiere, after effects, 3d, flash, web master, sound forge e hardware e reforço escolar, com aulas de matemática, português e inglês.
Há também aulas específicas sobre design, entendimento e estruturação de mídias, gestão da informação, controle de produção. O curso tem também um módulo voltado para gestão empreendedora, com aulas sobre planejamento estratégico, avaliação de desempenho, liderança e motivação, estratégias de marketing, gestão orçamentária, fluxo de caixa, matemática financeira, saúde e segurança no trabalho, processos para abertura de um negócio
7) RS – Como a senhora avalia o que foi feito até o momento?
VB – O projeto vem quebrando paradigmas com a capacitação avançada de jovens vindos da escola pública, e sua organização produtiva que gera oportunidades e renda para os próprios jovens. E, isto vem sendo conseguido com a visão de que não basta apenas capacitá-los, é preciso também criar mecanismos para que possam se inserir no mercado de trabalho por meio de empregos, ou na sua organização cooperada, ou ainda na estruturação de nano e microempresas.
São fatores que demonstram a originalidade deste projeto: a alta qualidade do ensino oferecido pelo Projeto MídiaCOM. O processo de capacitação tem uma base inicial, no entanto, por se tratar de tecnologia de ponta, não existe um fim. Depois de inserido o indivíduo não para de estudar e aprender; a participação dos integrantes do projeto em um negócio formado e em pleno funcionamento, com um plano de carreira e regras definidas, propicia a condição real de ascensão profissional; e a gestão do negócio é realizada pelos próprios participantes. A equipe aprende a gerir um empreendimento em todos os seus processos.
Vale destacar também que as avaliações gerais dos envolvidos ocorrem bimestralmente, e aqueles que estão em postos de produção passam a ser avaliadores de seus pares. O integrante avaliado com baixos índices é ajudado solidariamente por todos os outros a se recuperar e se aproximar dos demais. Outro ponto importante é que os jovens selecionados são inseridos numa perspectiva de cidadania global, em que aprendem sobre vários assuntos quando constroem as produções de multimídia, como também desenvolvem o raciocínio lógico e a criatividade ao descobrirem a melhor forma de apresentar alguma temática.
O projeto também tem uma preocupação com uma formação de juízo crítico dos indivíduos envolvidos, que acaba por torná-los formadores de opinião na comunidade onde moram. A natureza da iniciativa é multiplicadora, pois os jovens são instados a replicar os treinamentos recebidos aos colegas. Como forma de retribuir pelos conhecimentos adquiridos, cada membro do projeto que chega ao primeiro posto produtivo está comprometido em dar 200 horas voluntárias de treinamento aos mais novos. Todos os integrantes são incentivados a ousar pelos “labirintos” dos softwares gráficos e, quando descobrem uma nova ação ou efeito disponibilizam aos companheiros, democratizando e multiplicando conhecimentos.
A contratação desses serviços é um ato de responsabilidade social, pois é fomentador direto na geração de bens, na abertura de postos de trabalho e na implantação de uma cultura produtiva, cooperativa, desenvolvimentista e tecnológica. Diversas instituições vêm adquirindo os serviços digitais, pelo alto padrão ofertado.
Vanessa Belém – Telefone: (85) 3362-3210 – E-mail: vanessa@iteva.org.br
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