
O diretor de Projetos do Centro de Integração Social e Cultural (CISC), Ronaldo Monteiro, destaca na entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com, os principais resultados do projeto que já beneficiou mais de 220 egressos do sistema prisional do Rio de Janeiro. Criada há quatro anos, a Incubadora de Empreendimentos para Egressos (IEE), oferta cursos gratuitos sobre empreendedorismo para esse público. Além da bolsa de estudo, a iniciativa concede, ainda, auxílio transporte, lanche, atendimento social e psicológico.
“Temos como foco a criação de alternativas que possam, de alguma forma, contribuir para a efetivação de políticas públicas para o público para o qual direcionamos nossas atividades”, destaca Monteiro, criador do projeto. A iniciativa conta com o apoio de parceiros de peso como a Petrobras e de acordo com o coordenador poderá futuramente atender 5 mil pessoas de dez unidades da federação.
“Podemos sinalizar como resultados a inclusão social de centenas de reeducandos, egressos, jovens e, paralelamente, seus familiares. E isso interfere diretamente na redução da criminalidade e dos elevados índices de reincidência criminal”, completa. Segundo a instituição, alguns dos ex-presidiários que participaram da iniciativa têm hoje renda mensal bruta da ordem de R$ 15 mil.
1) Responsabilidade Social – O Centro de Integração Social e Cultural (CISC) mantém desde 2006, o projeto Incubadora de Empreendimentos para Egressos (IEE), que tem como proposta incluir pessoas que passaram pelo sistema prisional do Estado do Rio de Janeiro. Como o projeto foi pensando e como é pautado o trabalho da instituição?
Ronaldo Monteiro – Na verdade, o projeto maior é o próprio CISC que, na década de 80, nasceu dentro de uma unidade prisional de segurança máxima do Estado do Rio de Janeiro, tendo como protagonista da história de mudanças o homem privado de liberdade e jovens no cumprimento de medidas socioeducativas. Com a progressão de regime de fechado para condicional, eu fui um dos responsáveis, em 2002, pela formalização desse empreendimento social que tem gerado ações inclusivas como a Incubadora de Empreendimentos para Egressos e a Oficina Crescendo com Cidadania.
Vale ressaltar aqui o fundamental apoio de familiares e pessoas como a ouvidora geral da Petros, Vanda Ferreira, e da saudosa ouvidora geral da Petrobras Maria Augusta Carneiro (Guta). Eu as conheci no período que elas gestavam a Fundação Santa Cabrini, instituição que regula o trabalho do apenado no sistema penitenciário do Estado. Elas me apresentaram para a comunicação institucional da Petrobras, onde conheci os senhores Francisco Neri e Fernando Francisca, gerente de Responsabilidade Social e gestor de Projetos Sociais, respectivamente.
E foi então que o Projeto IEE começou a tomar forma com a aplicação da tecnologia social da Incubadora Afro Brasileira (IA), um dos projetos do Programa Desenvolvimento & Cidadania da Petrobras desenvolvido pelo Instituto Palmares de Direitos Humanos (IPDH) sob a gestão do empreendedor social Giovanni Harvey. Hoje, uma equipe multidisciplinar composta por 56 profissionais está diretamente envolvida nesse projeto que é a razão de ser da instituição.
2) RS – Em quais projetos a instituição está envolvida hoje?
RM – Além do IEE, desenvolvemos ainda os projetos: Oficina Crescendo com Cidadania (OCC), que capacita para o mercado de trabalho e empreendedorismo jovens em conflito com a lei, familiares e comunidade; o Esportividade Legal, que oferta prática de atividades de esporte e lazer para os jovens em conflito; e o Inclusão Digital, que oferece cursos de informática para egressos apenados, jovens, familiares e comunidades.
Vale destacar também o “Cozinha Comunitária”, que oferece refeições a preços populares para o público participante dos projetos, equipe e comunidade; o “Ponto de Cultura Olhar Verde de Gonça a Antares”, que desenvolve ações nas áreas de cultura e meio ambiente, envolvendo a comunidade local; e o “Pré-Vestibular Comunitário e Reforço Escolar”, que oferece aulas para jovens, adultos e crianças das comunidades próximas.
Temos ainda os projetos “Programa de Esporte e Lazer das Cidades (PELC)”, que realiza atividades esportivas e de lazer para egressos, apenados e jovens em conflito; o “Conexão”, que oferta ações para a garantia da empregabilidade e o desenvolvimento econômico voltadas a para moradores das comunidades próximas; e o “Dia da Beleza”, realizado em parceria com profissionais das áreas de beleza e estética. Trata-se de um dia para a promoção da autoestima de mulheres e homens das comunidades próximas, participantes dos projetos e equipe.
3) RS – Quais os principais resultados que podem ser apresentados?
RM – O CISC tem se consolidado como instituição de atendimento a apenados, egressos do sistema penitenciário e jovens no cumprimento de medidas socioeducativas. Além do desenvolvimento das ações propriamente ditas, temos como foco a criação de alternativas que possam, de alguma forma, contribuir para a efetivação de políticas públicas para o público para o qual direcionamos nossas atividades.
Dessa forma, podemos sinalizar como resultados a inclusão social de centenas de reeducandos, egressos, jovens e, paralelamente, seus familiares. E isso interfere diretamente na redução da criminalidade e dos elevados índices de reincidência criminal. Por meio da cultura, do empreendedorismo, da capacitação profissional, da educação e do esporte estamos trabalhando a autoestima desse contingente populacional e sabemos o quanto isso é importante para todo e qualquer cidadão.
O empreendedorismo inovador proposto pela incubadora está se espalhando, criando possibilidades para outras milhares de pessoas por meio do programa de escala em desenvolvimento com o apoio da Ashoka/McKinsey. A ideia é levar as ações para outros dez Estados cujos representantes já iniciaram a formação com a equipe de profissionais do CISC. São multiplicadores do Distrito Federal, São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso e Minas Gerais, dentre outros.
4) RS – A instituição esbarrou em preconceitos ao longo de sua trajetória?
RM – Certamente, nosso caso não é diferente do que assistimos diariamente nos noticiários nacionais e internacionais onde tomamos conhecimento de situações-limites desse “câncer” que é o preconceito.
5) RS – Quais as principais dificuldades encontradas atualmente pela instituição para incluir os ex-presidiários participantes do projeto?
RM – Não falo em incluir homens, mulheres e jovens que participam dos projetos do CISC, mas sim aumentar a escala, estendendo o atendimento aos familiares. As dificuldades têm sido objetivamente a falta de recursos e de políticas públicas que os beneficiem.
6) RS – Para o senhor, a promoção da igualdade social evoluiu nas empresas brasileiras nos últimos anos? Elas já incluíram em suas agendas os direitos humanos ou esse assunto ainda está restrito a ONGs?
RM – Não é comum o segundo setor atentar para esse grande fardo. O que de fato encontramos são grupos militantes que fazem parte do quadro funcional de inúmeras empresas e que, pelo amor e envolvimento com algumas causas, conseguem contagiar gestores, executivos e o quadro funcional, em geral. São as organizações não-governamentais que, de fato, trabalham com responsabilidade e comprometimento para com a sociedade, minorias e o nosso país.
7) RS – Na sua avaliação, como avançará a agenda social no próximo ano e quais serão os principais desafios do CISC nesse cenário?
RM – A agenda social, para o terceiro setor, é de grande relevância, pois norteará muitas de nossas ações. Há um compromisso firmado pela presidente eleita com o povo brasileiro que contempla essa questão. Nossa parte é acompanhar e torcer para que essa agenda saia do papel e as políticas sejam de fato implementadas.
8) RS – Quais as metas do IEE para 2011?
RM – Consolidar, em cinco anos as ações em dez Estados, gerando 5 mil acessos à plena cidadania.
9) RS – Qual o seu entendimento do termo “responsabilidade social”?
RM – Grande força motriz que nos impulsiona à participação direta ou indireta nas demandas sociais, seja enquanto indivíduos (individualmente ou por meio dos movimentos organizados), ou empresas. E hoje, com a globalização, chamando cada vez mais para essa responsabilidade os primeiro, segundo e terceiro setores; principalmente a sociedade civil organizada que imputa ao Estado a obrigatoriedade de tudo resolver.
O termo responsabilidade social conclama a todos a participarem como protagonistas da construção de um modelo social que dignifique a todos e faça de cada um agente de transformação; sabendo que todo mundo pode mudar o mundo.
Centro de Integração Social e Cultural – Telefone: (21) 3711-3254
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Notícia: Responsabilidade empresarial (2010/11)
Oferta de Trabalho: Procura-se (11/2010)
Olá!
Graças ao documentário do Netflix sobre sequestros, o senhor Monteiro, ex-detento, fez seu trabalho ficar mais popular.
Busquei na internet a página da ONG dele, CISC e não encontrei nada.
Aqui na entrevista também não menciona.
O CISC não tem página na web?
Obrigada por dar esse espaço para divulgar essa trabalho tão importante, reclassificação de ex-detentos, e que tem um espaço especial no meu coração.