
Para a Fundação ArcelorMittal do Brasil, o diálogo crescente entre o primeiro e segundo setor é o caminho certo para a implementação de projetos auto-sustentáveis. Com 14 programas próprios, que beneficiam anualmente em torno de 500 mil pessoas em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Bahia, regiões em que a empresa possui unidades industriais, a estratégia da fundação é ensinar a fazer. Dessa forma, todas as iniciativas são desenhadas em parceria com o governo local. Na cidade de João Monlevade, em Minas Gerais, por exemplo, o Programa de Educação Afetivo-Sexual (Peas) hoje é uma política pública consistente.
“Todo início de ano, realizamos uma reunião com cada prefeito dos municípios onde atuamos, para o alinhamento de conceitos e perspectivas. Apresentamos o que podemos oferecer e ouvimos quais as necessidades do município. Como resultado desses encontros, várias adequações e melhorias são implementadas nos programas, de acordo com a realidade local”, destaca o diretor-superintendente da instituição, Leonardo Gloor.
Em entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social, ele destaca os principais resultados da entidade, metas para 2010 e fala como o conceito de responsabilidade social evoluiu nos últimos anos. Confira.
1) Responsabilidade Social – A Fundação ArcelorMittal mantém em 27 países propostas para promover o bem-estar econômico e social das comunidades de relacionamento do grupo. Somente no Brasil, já são 20 anos de atuação, com 14 programas ativos e mais de 500 mil pessoas beneficiadas por ano. Como é pautado o trabalho da instituição e de que forma são planejadas as intervenções sociais?
Leonardo Gloor – Os programas da Fundação ArcelorMittal Brasil estão sempre alinhados aos negócios da ArcelorMittal. Por exemplo, a fundação atua nos municípios onde a empresa possui unidades, com projetos voltados para a formação de crianças e adolescentes, por meio de atividades em escolas públicas, para estimular a participação no desenvolvimento sustentável das comunidades onde vivem.
2) RS – Na avaliação do senhor, as comunidades atendidas hoje pela Fundação têm condições de manter o trabalho de forma sustentada, caso a fundação saia de cena?
LG – A estratégia da fundação é ensinar a fazer. Dessa forma, todos os programas são desenvolvidos em parceria com o poder público. E o que temos verificado é a atuação de alguns municípios no sentido de incorporar os programas da fundação e transformá-los em política pública. Mesmo nesses casos, a fundação não sai de cena, passando a atuar no monitoramento das ações e na proposição de melhorias. Um exemplo é o município de João Monlevade, em Minas Gerais, que transformou o Programa de Educação Afetivo-Sexual (Peas) em política pública.
No Peas, o papel da fundação é capacitar profissionais da prefeitura ligados à área de educação e saúde para trabalhar, em sala de aula, questões relacionadas à afetividade e à sexualidade. Em João Monlevade, o programa já anda com as suas próprias pernas, em uma dinâmica organizada pela própria prefeitura. E um dado interessante que, mesmo com as eleições e a mudança de prefeito, o programa continuou, contando com o envolvimento de vários setores da sociedade.
3) RS – A fundação prioriza, principalmente, as áreas de Educação, Saúde, Segurança e Promoção Social. Como caminham as iniciativas da entidade e as do Estado? O instituto ocupa o papel do Estado de alguma maneira? Como se dá a troca de informações?
LG – De maneira nenhuma queremos ocupar o papel do Estado. São iniciativas que caminham lado a lado. Nos anos de 1930 e 1940, as empresas chegaram a investir em infraestrutura básica nas localidades onde estavam instaladas, e chegaram a construir escolas e hospitais. O conceito de responsabilidade social evoluiu muito e, hoje, o que percebemos é um diálogo crescente entre a iniciativa privada e a iniciativa pública, no sentido de complementação das ações.
No caso da Fundação ArcelorMittal Brasil, todo início de ano, realizamos uma reunião com cada prefeito dos municípios onde atuamos, para o alinhamento de conceitos e perspectivas. Apresentamos o que podemos oferecer e ouvimos quais as necessidades do município. Como resultado desses encontros, várias adequações e melhorias são implementadas nos programas, de acordo com a realidade local.
4) RS – Além dos programas próprios, a fundação também apoia projetos de outras instituições? O que a entidade leva em conta na hora de escolher uma iniciativa para patrocinar?
LG – O apoio aos projetos de outras instituições se dá por meio do gerenciamento dos recursos provenientes de incentivo fiscal, para a área de cultura, e dos Fundos da Infância e Adolescência, por meio do programa Cidadão do Amanhã. Nesses casos, os critérios são estabelecidos por políticas específicas, que foram desenvolvidas para dar total transparência à nossa atuação com recursos públicos.
É importante mencionar que com o programa Cidadãos do Amanhã, 64 instituições em Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Sul investiram, em 2009, em projetos voltados para 15 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. As contribuições, que alcançaram a cifra de R$ 2 milhões, foram feitas em 2008 por mais de 7 mil funcionários, familiares, fornecedores e clientes do grupo ArcelorMittal Brasil, que destinaram parte do Imposto de Renda aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente. As entidades beneficiadas foram selecionadas pelos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente de 28 cidades, onde estão situadas as empresas do Grupo ArcelorMittal no país. Criado em 1999, o Cidadãos do Amanhã já destinou mais de R$ 11 milhões para entidades inscritas nos Conselhos.
5) RS – Para o senhor, quais os principais avanços sociais e os retrocessos do Brasil nos últimos dez anos?
LG – O principal avanço foi a mudança do conceito de responsabilidade social empresarial. Antes, o que se observava eram ações pontuais, desenvolvidas no contexto do assistencialismo e da filantropia. Hoje, muitas fundações empresariais já trabalham no foco no investimento social privado, com programas planejados, com objetivos, indicadores de performance e metas para o monitoramento dos resultados. Quem investe quer retorno e não é o de imagem. No caso do Programa Ensino de Qualidade (PEQ), por exemplo, o retorno que queremos é o aumento do desempenho dos alunos e a redução dos índices de repetência e evasão. Há, porém, empresas que tratam a responsabilidade social como estratégia de marketing. Nesse caso, acredito que seja uma questão de tempo para que percebam o equívoco que cometem.
6) RS – Entre os anos de 2008 e 2009, o montante repassado para o setor aumentou? Qual a expectativa de investimento para 2010?
LG – A Fundação recebe aporte financeiro da ArcelorMittal em função de suas necessidades, definidas no planejamento para o ano seguinte. Além disso, cabe à Fundação gerenciar os recursos provenientes de incentivo fiscal e dos Fundos da Infância e Adolescência. De maneira geral, os investimentos variam de acordo com a demanda e a participação ou não dos municípios no custeio de algumas ações dos programas.
7) RS – Como os negócios da ArcelorMittal são impactados com esse investimento responsável?
LG – Verificamos impactos positivos em diferentes dimensões, que se refletem no dia a dia da empresa, como, por exemplo, uma boa relação com nossos stakeholders: empregados, comunidade, clientes, fornecedores etc. Quem investe seriamente na sustentabilidade, certamente, vai se destacar no novo cenário de consumo e negócios que se desenha no século XXI.
8) RS – A fundação também tem projetos na área de educação ambiental. Qual o peso das questões climáticas e ambientais nas tomadas de decisão do grupo hoje e de que forma a empresa tem contribuído para a preservação do meio ambiente?
LG – Um dos programas desenvolvidos pela Fundação é o Prêmio ArcelorMittal de Meio Ambiente, que tem como objetivo estimular a reflexão e a ação da cidadania de crianças e adolescentes nas questões ligadas à sustentabilidade. Realizado desde 1992, em parceria com escolas, inclui concurso de desenho e redação sobre temas como mudanças climáticas, alimentação saudável, consumo consciente, dentre outros.
Na produção do aço, a ArcelorMittal Brasil sempre busca avaliar e analisar novos investimentos para a melhoria contínua dos processos, proporcionando a redução ou eliminação dos impactos ao meio ambiente. Para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, os programas em desenvolvimento seguem as diretrizes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) preconizadas pelo Tratado de Quioto. No caso da ArcelorMittal Aços Longos, por exemplo, há iniciativas associadas ao uso de biomassa renovável (carvão vegetal) para a fabricação sustentável de gusa. Sustentabilidade é, hoje, sinônimo de sobrevivência dos negócios.
9) RS – A instituição manterá ativos no próximo ano todos os programas desenvolvidos hoje?
LG – Não só manteremos como ampliaremos nossas ações em 2010. Neste ano, mesmo com a crise, conseguimos manter o mesmo ritmo de 2008, sem eliminar um só programa.
10) RS – Os colaboradores da empresa estão envolvidos nas ações sociais do grupo? O que tem sido feito para envolvê-los nas práticas socioambientais da empresa?
LG – Atualmente, dois programas estão abertos à participação voluntária dos empregados. O Pró-Voluntário, que incentiva a criação de Comitês de Voluntariado nas unidades da ArcelorMittal Brasil, e o Empreendedorismo Juvenil, realizado em parceria com a ONG Junior Achievement. Cerca de 3,5 mil alunos de 10 a 14 anos de escolas públicas de Juiz de Fora, João Monlevade, Vespasiano (MG) e Osasco (SP) estão participando da edição 2009 do programa Empreendedorismo Juvenil. Nas salas, os empregados atuam como voluntários no repasse do conteúdo sobre negócios e na organização de dinâmicas para incentivar a inovação e estimular a autoconfiança dos adolescentes no planejamento do próprio futuro.
11) RS – Qual o significado do movimento da RS para o grupo ArcelorMittal?
LG – A sustentabilidade é um dos três pilares de atuação da ArcelorMittal no mundo. Na nossa visão, não é apenas a empresa que deve ser sustentável, mas o entorno também. A empresa produz, lucra e deve compartilhar seus ganhos com a sociedade por meio de programas sociais voluntários.
Fundação ArcelorMittal Brasil – Tel.: (31)2552-2796
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