
Gustavo Pierini, gerente corporativo de Novos Negócios da Micolins
O Ministério do Trabalho e Emprego divulgou bons resultados na última semana. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em agosto foram criados 242.126 postos de trabalho com carteira assinada. O saldo foi recorde para o mês e praticamente o dobro dos 138,4 mil novos empregos contabilizados em julho. O desempenho também é o melhor registrado desde setembro do ano passado, quando a crise mundial entrou em sua fase aguda.
Para Gustavo Pierini, gerente corporativo de Novos Negócios da Microlins Franchising, uma das maiores empresas de cursos profissionalizantes do país, com mais de 730 unidades, um dos setores que será explorado como boa opção de emprego nesse momento de retomada de crescimento é o comercial. Em entrevista exclusiva ao Responsabilidade Social.com, o executivo faz um retrato do mercado de trabalho no Brasil, trata do potencial do país para a criação de ‘empregos verdes’ e analisa a inclusão de pessoas com deficiência. Confira.
1) Responsabilidade Social – Como o trabalho da Microlins tem contribuído na inserção de pessoas no mercado de trabalho brasileiro? Houve crescimento do número de pessoas beneficiadas com emprego por meio das ações da empresa neste ano em relação ao mesmo período de 2008?
Gustavo Pierini – O compromisso público da Microlins de encaminhar seus alunos ao mercado de trabalho tem contribuído consideravelmente nas taxas de empregabilidade, pois, oferecemos gratuitamente profissionais qualificados às empresas de qualquer porte. Somente neste mês temos à disposição das empresas 185.425 pessoas qualificadas em condições de início imediato nas áreas de informática, administrativo, contabilidade, fiscal, departamento pessoal, vendas, atendimento, telemarketing, turismo, entre outros. Se compararmos os números de 2008 para 2009, tivemos uma redução de 18% na oferta de vagas aos nossos alunos, porém aumentamos o número de pessoas encaminhadas para entrevistas e o número de contratações se manteve praticamente o mesmo se compararmos ao ano anterior.
2) RS – Para o senhor, quais setores podem ser mais explorados como boas opções de trabalho neste momento de retomada de crescimento?
GP – Neste período as empresas buscam recuperação de suas receitas, e por conseqüência o número de vagas para a área comercial é o que possui maior participação dentre as oportunidades ofertadas. As pessoas que possuem qualificação para atuar nas áreas de vendas, telemarketing, marketing possivelmente encontrarão boas oportunidades. Outro setor que ampliará sua demanda por mão-de-obra qualificada nos próximos anos é o de turismo e hospitalidade, tendo em vista os investimentos que estão sendo realizados para sediarmos a Copa do Mundo de futebol.
3) RS – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem publicado estudos sobre o aumento dos empregos verdes – aqueles que, além de ajudarem a reduzir impactos ambientais, trazem dignidade aos trabalhadores. Como o senhor vê o Brasil nesse cenário? Quais os setores que hoje ofertam mais empregos dentro desse modelo no país?
GP – O Brasil tem um grande potencial para se utilizar da criação de empregos verdes para a redução do desemprego, mas esse precisa se tornar mais difundido e profissional. Ainda há poucos setores que se destacam nesse cenário, mas podemos elencar os de construção civil e energia.
4) RS – Segundo a OIT, o potencial de criação de empregos verdes é de 3,5 milhões até 2020, somente na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, apesar das fontes serem poucas, estima-se que hoje mais de 740 mil pessoas exerçam uma atividade sustentável. Para o senhor, quais medidas devem ser adotadas para aumentarmos nossa participação nesse mercado?
GP – O desenvolvimento sustentável é uma prática sem volta. E como conseqüência disso, temos novas oportunidades de trabalho relacionadas a isso. Até pouco tempo atrás a grande maioria dos empregos verdes eram considerados subempregos, onde encontrávamos pessoas sem qualificação e mal remuneradas atuando nessas vagas. Claro que essas vagas de emprego são uma grande oportunidade de ampliar a colocação da população carente no mercado de trabalho, mas observamos a profissionalização desse setor e vagas que exigem maior qualificação acompanham essa onda.
Para que a área de sustentabilidade em nossa economia cresça como em outros países, são necessárias medidas na área da educação em todos os níveis hierárquicos, pois o desconhecimento sobre as diversas práticas de sustentabilidade é algo que dificulta o desenvolvimento rápido dessa área. Muito disso é cultural: quantas pessoas ainda jogam lixo na rua? O número de pessoas que fazem a separação do lixo é mínimo.
São necessários investimentos estruturais para facilitar ações sustentáveis nos diversos setores da economia e incentivos para as empresas que desenvolvem atividades que contribuam para a redução do impacto ambiental.
5) RS – A Microlins também atua na inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, por meio do Programa Qualifica, que inclui serviços de recrutamento, seleção e qualificação de pessoal para as empresas que ainda não conseguiram atender aos requisitos da Lei de Cotas, n° 8.213/91. Qual aspecto o senhor acha mais importante para ser trabalhado nas empresas que empregam deficientes?
GP – O trabalho de inserção de pessoas com deficiência nas empresas é algo que pode ser realizado com êxito desde que haja conscientização de todos na empresa, desde a liderança à área operacional. As empresas precisam pensar na acessibilidade desde o momento da construção de uma nova instalação, do desenho das funções que serão realizadas na empresa até a sua comunicação. Mas tudo isso é conseqüência de falta de informação e de uma visão de curto prazo que muitas empresas possuem, o que acarreta na tentativa frustrada da inclusão em um ambiente inacessível, não somente na questão arquitetônica, mas também no quesito comportamental, onde colegas de trabalho não sabem lidar com determinadas deficiências.
Retomando à pergunta, o aspecto mais importante é trabalhar o conhecimento das equipes quanto à acessibilidade nos mais amplos sentidos.
6) RS – A Lei de Cotas obriga grandes empresas a destinarem de 2% a 5% das vagas para pessoas com deficiência. Por ser um mercado de trabalho competitivo, como o senhor vê o ingresso dos deficientes nas grandes empresas?
GP – A competição das pessoas com deficiência no mercado de trabalho é bastante desigual, sendo que um dos principais motivos é a falta de acessibilidade e de programas de inclusão desde a educação fundamental. Temos inúmeros exemplos no mercado de pessoas com deficiência que tiveram acesso igualitário à educação e hoje são bem sucedidas.
No cenário atual, o ingresso desse público às grandes empresas é realizado com muito sucesso quando essas investem em programas de qualificação para a adequação desses profissionais ao perfil das vagas oferecidas. Somente no banco HSBC, por exemplo, já recrutamos, selecionamos, qualificamos e contratamos mais de 200 pessoas em todo o Brasil para atuarem em suas agências.
7) RS – Dados da Secretaria Especial de Política para as Mulheres apontam que a participação das mulheres no mercado de trabalho apresentou crescimento nos últimos anos – passado de 46% em 1996, para 52,4% em 2007 – mas elas ainda têm uma participação bastante inferior à taxa de participação dos homens, que em 2007 alcançou 72,4%. Para o senhor, o que explica a desigualdade de gênero no mercado de trabalho? No Brasil, o mercado pode ser considerado “machista”?
GP – Não acredito que o mercado brasileiro seja “machista”. Acredito que as mulheres das famílias mais pobres ainda tenham que “sacrificar” sua carreira profissional para cuidar da educação dos filhos, pois não contam com estrutura pública para educá-los em tempo integral e poder trabalhar.
Mas de qualquer forma o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho é fato e está se consolidando a cada ano, tendo em vista que constatamos com freqüência mulheres atuando nos altos postos de liderança das empresas.
8) RS – Para o senhor, quais medidas são prioritárias para termos uma economia limpa e igualitária hoje no Brasil?
GP – Acredito muito que a educação de qualidade é um dos principais agentes de mudança da sociedade. Uma sociedade conhecedora de seus direitos, deveres, com opinião e senso crítico sabe claramente a conseqüência de seus atos, sabendo como atuar em sociedade. Vemos isso todos os dias na Microlins, onde jovens com mínimas possibilidades de emprego e de desenvolvimento pessoal, se formam cidadãos e profissionais muitas vezes já encaminhados às nossas empresas parceiras.
9) RS – Qual o seu entendimento pessoal do conceito de responsabilidade social?
GP – Responsabilidade social é agir conhecendo as conseqüências, agindo de forma que essas sejam positivas ao próximo.
Microlins – Tel.: (16) 2111-7200
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