A gerente de programa no Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (Unops), Daniela da Silva, fala sobre formas de incentivar as empresas que investem na sustentabilidade e oportunidades para o Brasil nesse campo. Ela se formou na Copenhagen Business School e atua em projetos internacionais em cenários os mais complexos, buscando a consolidação da paz e um desenvolvimento efetivo, por meio de operações humanitárias.
1) – Muitas empresas brasileiras vêm adotando melhores práticas em seu modo de produção. Como é possível ajudá-las a fazer frente à alta competição do mercado e, ao mesmo tempo, avançar na direção de ciclos sustentáveis?
Daniela da Silva – Todas as empresas que estão investindo efetivamente em ciclos sustentáveis merecem ser reconhecidas e promovidas pelo público, por outras empresas e pelo próprio governo. Esse reconhecimento pode vir de diversas formas, como por exemplo, na diminuição de taxas ou de impostos, na redução e eliminação de subsídios a atividades poluentes ou exploradoras de recursos naturais, e não apenas por meio de certificações.
No entanto, esses são fatores-chave para nos relembrar os padrões a serem seguidos, como no caso da certificação ISO 14001, a qual apresenta os requisitos para um sistema de gestão ambiental e, no caso da Unops, reconhece o compromisso da organização com construções que respeitem a proteção ao meio ambiente. Além disso, a conscientização do público é mais uma determinante a se defender. O público tem um conhecimento geral sobre os benefícios da sustentabilidade para o meio-ambiente, mas falta uma maior e melhor compreensão em termos de ganhos individuais e para a sociedade como um todo.
Quando o retorno sustentável for extremamente claro para todos, este será o preço que todos irão procurar no momento “da compra”. É necessário investir e focar no longo prazo. Se continuarmos investindo no uso de produtos não renováveis – em vez de produtos verdes –, presos a um padrão de crescimento atrelado a uma economia intensiva em carbono, não conseguiremos alcançar um modelo sustentável.
2) – Como o processo de passar da visão para a ação pode ser acelerado?
DS – Acredito que temos algumas alternativas disponíveis. No entanto, a fim de avançarmos e colocarmos em prática os ideais sustentáveis, devemos trabalhar em conjunto com os diversos setores, tanto públicos quanto privados. Nesse sentido, podemos usar e promover os parâmetros de avaliação da sustentabilidade que tenham como base o ciclo de vida dos produtos e instrumentos a serem utilizados.
Além disso, como foi dito na resposta anterior, compartilhar conhecimento sobre os benefícios da sustentabilidade e como encontrá-los e adotá-los efetivamente, tanto em relação àqueles que “vendem” o produto quanto aos que “compram” (clientes), é fundamental para a aceleração desse processo.
3) – Qual é a importância para o Brasil de institutos e ONGs voltados para a promoção e o fortalecimento da responsabilidade socioambiental e empresarial?
DS – Institutos e ONGs normalmente operam em áreas em que a atuação privada ou governamental não é satisfatória – ou, pelo menos, muitos foram criados com esse propósito. Como esse tipo de organização não tem como objetivo a obtenção de lucro, suas ações tendem a ser mais voltadas a melhorias nas comunidades ou regiões em que trabalham.
Os institutos e ONGs que trabalham na temática do desenvolvimento sustentável e da responsabilidade social, por exemplo, prestam um importantíssimo trabalho de conscientização e monitoramento independente, além do impacto direto que causam na sociedade. Sua influência e habilidade em demonstrar que a sustentabilidade faz parte de um processo e não de um fim é, portanto, deveras crucial para colaborar com a conscientização da sociedade.
4) – Em sua opinião, quais são e onde estão as melhores oportunidades ligadas a negócios sustentáveis e responsáveis no país?
DS – Acredito que o setor de infraestrutura apresenta uma grande oportunidade. Como sabemos, esse é um dos setores produtivos que contribuem substancialmente para a emissão de gases do efeito estufa no país, mas, felizmente, também é o setor que tem as melhores condições de contribuir para uma economia/sociedade sustentável. É um setor do país que está crescendo abaixo da estimativa necessária, o que oferece uma grande oportunidade sustentável, e é um dos setores que mais precisam aprimorar sua capacidade de planejamento.
O investimento em planejamento e nos estudos anteriores à implementação de certo projeto garante a vida sustentável de uma construção, assim como a otimização de recursos, minimizando os impactos negativos e contribuindo para a redução de riscos de desastres. Por último, a capacitação de profissionais na área de infraestrutura sustentável também possibilitaria uma maior aderência e afinidade para com a construção verde, além de social e economicamente sustentável.
Podemos melhorar a eficiência energética, diminuir o consumo de água e a geração de resíduos sólidos e, consequentemente, trazer melhorias para o bem-estar das pessoas, propiciar um ambiente mais saudável e gerar melhores práticas que podem ser incorporadas por outros setores, como o setor de compras sustentáveis. Uma pequena mudança de atitude em direção ao uso de produtos e instrumentos verdes pode trazer um grande impacto positivo.
(Entrevista concedida ao Instituto Ethos e reproduzida pelo Responsabilidade Social)
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