Uma obra lançada recentemente no Brasil é leitura obrigatória para quem quer saber e entender quais são os verdadeiros problemas do país. O livro “Carregando o Elefante”, de Alexandre Ostrowiecki, discute de forma extremamente clara os dilemas e traz para cada assunto tratado, soluções concretas e possíveis, ainda que bastante incomuns em alguns casos.
Nem todos irão concordar com os polêmicos pontos de vista expostos na publicação. No entanto, é impossível deixar se sentir tragado pela lógica dos argumentos, a honestidade das análises e pelos pontos de vista expostos. Alexandre Ostrowiecki, fala com exclusividade ao Responsabilidade Social.com sobre o livro e mostra sua visão nada convencional a respeito do termo “responsabilidade social”. Confira:
1) Responsabilidade Social – O livro Carregando o Elefante discute dilemas e aponta soluções para o desenvolvimento de todos os setores do Brasil. Quando e como surgiu o interesse sobre o tema?
Alexandre Ostrowiecki – Como brasileiro e empresário, acredito que o país precisa passar por uma série de mudanças para atingir patamares mais elevados de crescimento econômico e desenvolvimento social. Tendo em vista essas mudanças, decidi, juntamente com o meu co-autor Renato Feder, compilar em um livro os diversos problemas que afligem o Brasil, bem como as ações que, a nosso ver, devem ser tomadas para corrigi-los. Nossa sensação é que no campo da esquerda ideológica existe muita articulação intelectual e política. Já no campo liberal, isso é muito tímido. Viemos trazer a visão liberal para a problemática brasileira e as soluções que o liberalismo pode oferecer.
2) RS – E qual a avaliação que o senhor faz do Brasil hoje?
AO – Somos um país de renda média, nem tão ricos como os canadenses nem tão pobres como os somalianos, por exemplo. O país tem algumas conquistas importantes, como a democracia, a estabilidade da moeda e, claro, a calorosa cultura brasileira. No entanto, isso convive com desigualdade social fortíssima, violência, miséria e o que ao nosso ver seria o grande problema que causa todos os demais: o tamanho e ineficiência do Estado e a impunidade.
3) RS – É possível mudar esse cenário? Quais os caminhos que devem ser tomados?
AO – O tamanho do Estado brasileiro e o problema da impunidade são, na nossa opinião, as grandes questões nacionais. Atualmente o governo cobra uma carga desproporcional de impostos em relação à economia e isso é feito através de um sem número de taxas, impostos e contribuições. Todo esse dinheiro acaba indo parar nos ralos da corrupção e desperdício. Enfim, temos um sistema que cobra muito, devolve pouco e desmoraliza a população ao longo do caminho. Se esse ciclo vicioso não for quebrado, estaremos sempre condenados a um crescimento pífio.
4) RS – De que forma o terceiro setor pode otimizar esses resultados?
AO – Cabe ao terceiro setor se organizar e pressionar pelas mudanças necessárias. Como a corrupção é endêmica e ela depende de um sistema já corrupto para ser combatida, existe pouco que pode ser feito por vias oficiais. No entanto, informalmente, é preciso fazer campanhas de vergonha pública para os corruptos. Apesar de ninguém ir preso por corrupção no Brasil, talvez o infrator pensará duas vezes se souber que, uma vez exposto, ele será vaiado nos lugares públicos por onde for, seus filhos saberão na escola que o pai é um ladrão, etc. Outra ação importante do terceiro setor é pressionar pelo enxugamento do Estado. É preciso listar quais políticos estão inchando as suas respectivas máquinas administrativas e quais não. Com essa lista, fazer campanhas e divulgar, para que as pessoas votem nos parlamentares que estão tornando o Estado mais leve.
5) RS – Qual o papel do Estado no Brasil e suas principais limitações hoje?
AO – Na visão liberal clássica, o Estado deve fazer sempre o mínimo possível, cobrando o mínimo de impostos. Segundo esse pensamento, o qual compartilhamos, a mão do Estado tende a atrapalhar mais as coisas do que ajudar e é preciso que o governo faça apenas funções intrínsecas como cuidar da polícia e das leis. A constituição brasileira prevê exatamente o oposto, dando ao Estado uma infinidade de obrigações.
6) RS – Qual a sua opinião sobre o programa Bolsa Família? O assistencialismo resolve o problema da fome e da pobreza no Brasil?
AO – Fome e pobreza só se resolvem com crescimento econômico e o ciclo de prosperidade que ocorre quando a produtividade aumenta. Quando isso ocorre, as pessoas produzem cada vez mais, tornando os produtos mais baratos. Isso por sua vez aumenta a demanda e incentiva as empresas a contratarem mais. Até lá, é claro, é preciso fazer algo para ajudar os mais necessitados, especialmente os que estão vivendo na miséria. O problema é quando o necessitado começa a depender tanto do programa que pára de trabalhar. Vemos isso com muita preocupação e como sinal de que as coisas podem estar andando para trás.
7) RS – Qual o seu entendimento pessoal do termo “responsabilidade social”?
AO – Minha formação liberal, como afirmei, pode às vezes destoar da forma como a maioria das pessoas entende o termo. Acredito que o maior dever de uma empresa para com a sociedade é cumprir as leis e dar lucro. Longe de ser uma atividade que beneficia apenas a ganância do dono, dar lucro é uma função social de extrema importância. Quando uma empresa quebra, centenas de pessoas vão para a rua sem receber nada e passam a depender do governo. O lucro é o motor do crescimento. Se a empresa fizer isso dentro da lei já está ótimo. Vejo com uma dose de ceticismo essas empresas todas querendo parecer boazinhas, tipo ajudando os índios, fazendo papel do governo, etc. Para mim é mais propaganda do que qualquer outra coisa.
8) RS – Como o senhor vê a participação cada vez maior da sociedade civil engajada em ações voluntárias na luta por um Brasil melhor? É uma forma eficaz de mudar o país?
AO – O governo em última análise é o reflexo dos cidadãos que habitam um país. Quanto mais engajados e vigilantes forem os cidadãos, melhor será o governo. No Brasil é fundamental difundir adequadamente o conceito de cidadania. Hoje entende-se que cidadão é um individuo com direitos: direito a pensão, direito a saúde, educação, bolsa família, auxilio creche, etc. É preciso que as pessoas tenham claro que isso não basta e que cidadão tem, fundamentalmente, deveres. Cuidar da sua rua, cumprir as leis e vigiar o poder estão entre os maiores deveres.
Sobre o autor: Alexandre Ostrowiecki é administrador pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Cursou economia na Universidade de Jerusalém e realizou MBA em negócios no Ibmec. Atuou como consultor na área de estratégia de telecomunicações, atualmente é diretor da Multilaser e articulista na revista “Com Shalom”.
Site: www.carregandooelefante.com.br – E-mail: alexandre@multilaser.com.br
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