O indiano Kailash Satyarthi nasceu e cresceu em Vidisha, no estado de Madhya Pradesh (centro do país) em uma família que “não era rica nem era pobre”. O distingue vencedor do Prêmio Nobel da Paz 2014 é um exemplo de gente que faz diferença. Nascido em 11 de janeiro de 1954, ele se tornou um ativista indiano pelos direitos das crianças. Desde 1990, quando percebeu que gostaria de seguir uma causa maior, abandonou o curso de engenharia eletrotécnica e ingressou no movimento contra o trabalho infantil. Hoje em dia, ele comanda pessoalmente invasões a fábricas para libertar crianças e devolvê-las à infância.
Nesse período, calcula-se que sua organização, a Bachpan Bachao Andolan (BBA), tenha libertado mais de 80 mil crianças de diversas formas de escravidão, além de outros tantos adultos mantidos em regime de escravidão moderna. Ele também ajudou na reintegração, reabilitação e educação desses pequenos trabalhadores.
A BBA está no terreno há mais de 30 anos, com cera de 70 mil voluntários espalhados pelo mundo, tentando investigar as áreas onde a intervenção é mais urgente. “É uma vergonha para qualquer ser humano se uma criança estiver fazendo trabalho escravo em qualquer parte do mundo”, afirmou Kailash em uma conferência de imprensa em Nova Deli. “Sinto-me muito orgulhoso por ser indiano, por ter conseguido travar esta luta na Índia ao longo desses anos”.
O trabalho infantil continua sendo um problema verdadeiramente mundial, que prejudica milhões de meninos e meninas. Na Ásia meridional, cerca de 250 mil crianças, algumas de apenas quatro anos, trabalham até 18 horas por dia dando nós em tapetes que são exportados para os Estados Unidos e a Europa. Em todo o mundo, mais da metade das meninas e dos meninos que trabalham o fazem na agricultura, inclusive nos Estados Unidos, onde a organização de direitos humanos Human Rights Watch denunciou que os menores que trabalham nas plantações de tabaco estão expostos à intoxicação pela nicotina.
Segundo a BBA, praticamente 80 mil crianças já foram resgatadas, vítimas de maus tratos, tráfico ou exploração laboral – a maioria eram de fato escravas, usadas para pagar as dívidas dos pais (uma prática proibida por uma lei de 1975, que dificilmente é aplicada por falta de vigilância). O número é respeitável, mas ainda há muito por fazer. Segundo as estimativas de algumas organizações humanitárias, 135 mil crianças indianas desapareceram só no ano passado; os dados oficiais apontam para um número muitíssimo inferior: 26 mil.
Satyarthi contrapôs o número de crianças trabalhando em tempo integral com os 200 milhões de adultos que carecem de emprego em todo o mundo. Abordar esse desequilíbrio é uma questão complexa, em parte porque nas populações vulneráveis as crianças são consideradas mais fáceis de explorar do que os adultos. Agora, ele tem um roteiro sobre o que se deve fazer, pelo menos na Índia. Uma das respostas, que deixou numa entrevista ao Times of India, em Junho, não está nas mãos do Governo, nem das autoridades locais, nem da polícia (apesar de defender fortemente que são precisas melhores leis e mais atenção por parte das autoridades). Está em quem entra numa loja ou restaurante e deve boicotar produtos ou serviços que de alguma forma sejam resultado de trabalho infantil.
Ele quer agora ampliar a batalha contra a escravidão infantil. “Eu me recuso a aceitar que as algemas da escravidão sejam mais fortes do que a busca pela liberdade”, disse o indiano. “Eu perdi dois dos meus colegas”, disse Satyarthi sobre seu trabalho. “Carregar o corpo de um colega que está lutando pela proteção de crianças é algo que nunca vou esquecer, mesmo quando sento aqui para receber o prêmio Nobel da Paz.”
Em discurso realizado dia 25 de Março, o ativista propôs um movimento mundial de compaixão humana para combater o problema persistente do trabalho e da escravidão infantis. “Vivemos em um mundo globalizado, vamos globalizar a compaixão humana”, exortou Satyarthi em uma sessão informativa organizada pelo Departamento de Informação Pública da Organização das Nações Unidas (ONU), em sua sede de Nova York. Ele concluiu seu discurso com um forte chamado à ação. “Se uma só criança em qualquer parte do mundo está em perigo, o mundo não é seguro. Se uma só menina é vendida como um animal e sexualmente abusada e violada, não podemos dizer que somos uma sociedade culta. Cada um de vocês tem algo de responsabilidade moral”, enfatizou o Nobel da Paz.
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