Documentário sobre catadores de material reciclável é premiado na mostra, que disponibilizou recursos para pessoas com deficiência visual e auditiva
O documentário “À Margem do Lixo”, longa-metragem de Evaldo Mocarzel sobre a rotina de grupo de catadores de material reciclável de São Paulo, foi um dos destaques da 41° edição do Festival de Cinema de Brasília, realizado de 18 a 25 de novembro. A produção ganhou os Candangos de melhor filme, segundo o júri popular, além de prêmio especial do júri, e de fotografia, para a dupla Gustavo Hadba e André Lavenère.
O apelo social do filme é evidente. O longa renovou o olhar dos espectadores para temas como dignidade, responsabilidade social e relação com o poder público, tudo trazido à tona por integrantes do Movimento Nacional dos Catadores. De forma objetiva, são apresentadas histórias e o cotidiano de quem vive da reciclagem de papel, plástico e metais na capital paulista.
“O filme tenta focalizar a indústria da reciclagem a partir do ponto de vista do catador. O Brasil é líder em reciclagem de alumínio: 87% do que é consumido é reaproveitado. Essa indústria gera R$ 4 bilhões por ano no país e é sustentada pela economia informal e pela miséria dos catadores”, destaca o cineasta.
Na avaliação da coordenadora da Secretaria-Executiva do Comitê Insterministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis, Ana Pinho, a vitória é tanto dos produtores, como dos catadores. Para ela, o reconhecimento obtido pelo documentário, além da relevância temática que apresenta, atesta a importância da coleta seletiva realizada nos órgãos públicos, agora implementada com o decreto presidencial 5.940/06. “A vitória de À Margem do Lixo fortalece ainda mais o trabalho realizado pela categoria dos catadores em todo o país”, comemora.
A produção é a terceira parte de uma tetralogia sobre sobrevivência dos excluídos, iniciada por Mocarzel com “À Margem da Imagem” (2003) – ganhador de 19 prêmios em festivais no Brasil e no Exterior, que trata da estetização da miséria e o roubo da imagem dos excluídos – e “À Margem do Concreto” (2006), sobre os prédios ocupados pelos movimentos de moradia na região central da cidade de São Paulo.
No debate do documentário, o cineasta admitiu ter feito um cinema de propaganda. “Eu queria fazer um filme panfletário, mas não panfletário no mal sentido. Eu queria que tivesse uma pujança política”, afirmou. Mocarzel, que também é jornalista, fez questão de frisar a diferença entre um documentário e uma reportagem. “No documentário, você pode fazer uma imersão em um tema e não tem que ouvir todos os lados. Se eu colocasse um dono de fábrica (de reciclagem de materiais), eu estaria criando uma armadilha ética condenável”, explicou.
Durante os seis dias de mostra competitiva, cerca de 70 mil pessoas passaram pelo festival que, neste ano, teve como característica marcante a presença de vários documentários. Os filmes selecionados para o evento concorreram a mais de R$ 500 mil em prêmios.
Acessível
Outra marca do festival foi a acessibilidade. Pelo segundo ano consecutivo as pessoas com deficiência visual participaram da mostra com o auxílio de aparelhos de audiodescrição, que permitem aos cegos acompanhar a película por meio de uma narração, seguida pela descrição de cada cena. Ao todo, 50 aparelhos foram disponibilizados.
A adaptação para pessoas com deficiência auditiva também foi uma preocupação dos organizadores do evento. Nessa edição, 18 produções foram legendadas, assegurando a todos os expectadores direitos iguais no acesso à cultura. A iniciativa teve adesão de 98% dos cineastas inscritos nas mostras.
Também pela primeira vez, as pessoas com deficiência visual formaram um júri e escolheram o melhor filme, segundo sua percepção. Para contemplar a escolha, um prêmio paralelo foi criado. Trata-se do Vagalume, nome dado em referência ao inseto que só aparece no escuro. As produções escolhidas foram “O Milagre de Santa Luzia” de Sergio Roizenblit (Longa 35mm) e o “Na Madrugada”, de Duda Gorter (Curta 35mm).
Secretaria de Cultura do Distrito Federal: www.sc.df.gov.br e www.sc.df.gov.br/festival/ – Telefone: (61) 3325-6161
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