Instituição desenvolve proposta socioeducativa para tratar de jovens vítimas de abuso e maus tratos
O movimento contra a exploração sexual de crianças e adolescentes tem novo aliado no Distrito Federal. A organização não-governamental Chamaeleon atende gratuitamente vítimas desse tipo de violência, com medidas socioeducativas que aliam psicologia, musicoterapia e arteterapia. Instalada no Sudoeste, a instituição realiza também palestras preventivas em escolas públicas e privadas. O objetivo é orientar professores e pais para que sejam detectados casos de abuso.
São atendidas atualmente 20 crianças por uma equipe multidisciplinar e experiente, alguns do projeto “Anjos do Amanhã”, da Vara da Infância e da Juventude (VIJ). “Podemos afirmar que conseguimos estabelecer relações terapêuticas e com o tempo, os pacientes vão compreendendo a situação vivenciada até conseguirem seguir em frente com qualidade de vida e possibilidades de planos para o futuro”, destaca a presidente da ONG, Beatriz Fernandes.
Criada há três anos, a entidade soma mais de 60 crianças beneficiadas diretamente e outras 100 famílias atendidas pelo Instituto Agilità, parceiro da organização. Somente de janeiro a setembro de 2009, foram registrados 50 novos casos, sendo a maior parte de abuso sexual, com 15 queixas e depressão, com 11. “Atendemos também os abusadores, como medida preventiva para tentar evitar repetição nesses casos”, pontua.
Os pacientes são encaminhados, principalmente, pela VIJ, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) e pelas administrações regionais do DF e entorno. “São pessoas que necessitam e não possuem a mínima condição de pagar por um atendimento particular”, diz a presidente da ONG. Em média, o tratamento custa cerca de R$ 85,00 por sessão. A população de Ceilândia é a que mais procura pelos serviços da entidade, seguida por Taguatinga e Varjão.
Beatriz Fernandes explica que o processo psicoterápico ocorre no tempo do paciente e algumas abordagens podem durar até 24 meses. “Mas quando se trata de crianças vítimas de abuso sexual, sabemos que é difícil cumprir essa meta, pois a criança, devido ao trauma, tem uma forte resistência, oriunda dos mecanismos de defesa”, completa.
Esse maior prazo e a situação financeira dos pacientes é uma das principais preocupações da equipe da Chamaeleon. De Ceilândia ao Sudoeste, por exemplo, o custo da passagem pode chegar a R$ 12,00, por sessão, caso a criança vá com acompanhante. “Esse é um fator que prejudica o processo, uma vez que constantes faltas fazem com que o progresso oscile, pois pode ocorrer uma quebra no processo de vinculação”, diz.
Nesse sentido, uma das metas para esse ano é ampliar o número de empresas que apóiam a instituição, com a concessão do “selo de responsabilidade social”, que poderá ser utilizado nos estabelecimentos e nas comunicações virtuais. Hoje, para realizar o trabalho, a entidade conta com doações de pessoas físicas e jurídicas e com o apoio de uma rede de parceiros, que auxilia na promoção de eventos.
Para aumentar as receitas, a entidade criou no ano passado o projeto “Confraria do Bem”, em parceria com o restaurante Panelinha Brasileira, situado na Asa Norte. Pela iniciativa, os clientes que frequentam às noites de terças-feiras, automaticamente se tornam “Confrades do Bem”, pois um percentual da renda dos pratos é revertido diretamente para a organização.
Educação e cidadania
Há mais de dois anos, a Chamaeleon ministra dois cursos anuais sobre violência sexual intrafamiliar, voltado para profissionais que atuam na área. Em 2009, também iniciou simpósio sobre a temática, que ocorrerá anualmente. O de 2010 está previsto para o dia 13 de maio e terá como tema “Diretrizes para o Atendimento Clínico em Situação de Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes”.
Hoje a ONG tem um grupo de estudos e iniciou a produção de um artigo científico para estudar os indivíduos que cometem abuso sexual intrafamiliar contra crianças e adolescentes. “As supervisões são constantes, pois existem poucas publicações bibliográficas de atendimentos clínicos, isso significa que temos que ir conhecendo na prática”, completa Fernandes. Segundo ela, geralmente as publicações bibliográficas estão relacionadas a uma visão jurídica, antropológica, social e médica.
Chamaeleon – Tel.: (61) 3234 2738 / 2068 – E-mail: chamaeleon@chamaeleon.org.br
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