
Slogan da campanha Fome Zero
Ao assumir a presidência da República do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva foi terminativo: sua grande e principal missão é a de eliminar a fome do país. O ambicioso objetivo alcançou a rápida aprovação do público e pegou carona na onda de popularidade que cercou Lula no seu primeiro mês de mandato. Porém, a positividade inicial logo foi substituída por uma série de furos descobertos na estrutura do Fome Zero e pelas trapalhadas cometidas pelo homem escolhido para representar o projeto, o ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, José Graziano da Silva.
Declarações infelizes e a óbvia desorganização inicial deixaram à mostra a fragilidade do programa. Um dos grandes exemplos foi a demora em depositar o cheque de R$ 50 mil doado, pioneiramente, pela top model Gisele Bündchen, durante a semana de desfiles do São Paulo Fashion Week, em janeiro deste ano. Veio à tona que, simplesmente, ainda não havia conta bancária pública disponível para depósito de doações. Resultado: o cheque ficou na gaveta de Graziano, por dias, e a imprensa não se negou a enfatizar a falha.
Passada a fase de críticas intensas, a população observa a desenvoltura do programa com certa desconfiança. A chamada de atenção recebida parece ter servido para uma corrida atrás do prejuízo inicial – o Fome Zero tem se organizado e, prova disso, é o envolvimento crescente do empresariado brasileiro. Entre os principais apoios, constam nomes de empresas públicas, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – que já na sua primeira participação mostrou seu poder de fogo reunindo mais de 110 toneladas de doações e transformando todas as suas 1.950 agências bancárias, em postos de arrecadação espalhados por todas as regiões brasileiras.
Entre as empresas privadas, destaca-se o apoio do grupo Pão de Açúcar (que também transformou todas as suas unidades de venda em pontos de doações), da Nestlé, da Embratel, da HP Brasil, da Companhia Vale do Rio Doce, e das empresas de telefonia Embratel, Telefônica e Telemar, além das expressivas doações realizadas pela Organização das Cooperativas Brasileiras (COB). A comunidade internacional também tem demonstrado seu apoio por meio de diversos contatos com governo brasileiro, a exemplo da comitiva de ONGs italianas que veio ao Brasil para firmar parceria com o programa.
Além disso, o Fome Zero mostrou melhor a que veio. Nas suas incursões publicitárias iniciais deixou claro que sua consolidação terá duas fases: a primeira terá, sim, caráter assistencialista (para desespero de muitos críticos do programa), uma vez que a situação de fome no país é emergencial; e a segunda fase, esta sim, pretende combater as causas estruturais do problema. “Está claro que garantir a segurança alimentar e nutricional é garantir o desenvolvimento social e econômico do país”, explica-se. Para que esta segunda fase se concretize, o governo anuncia que tomará medidas que visam, por exemplo, gerar empregos, aumentar a produção local de alimentos, dinamizar o comércio local e dar condições de cidadania às famílias.
Muito além das opiniões contrárias, tanto governo quanto críticos precisam estar atentos para o fenômeno mais importante que acompanha o nascimento do Fome Zero: a boa vontade da sociedade em cooperar. As muitas toneladas entregues nos últimos três meses são prova incontestável que o ‘timing’ não pode ser desperdiçado com discussões vaidosas e debates pouco práticos. É preciso, sim, aperfeiçoar o funcionamento do projeto. Mas dá-lo como fadado ao fracasso é um tremendo engano. A solidariedade brasileira mostra isso e espera que simpatizantes e opositores estejam dispostos a tratar essa postura com respeito e admiração.
Fome Zero – Tel.: 0800-707-2003 – E-mail: fomezero@planalto.gov.br
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