
Autora do livro Empresários e Educação no Brasil – um projeto financiado pela Fundação Ford – a pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, na Fundação Getúlio Vargas, Helena Bomeny, comenta em entrevista ao www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, as principais conclusões encontradas nesse levantamento sobre o investimento em educação realizado pelas empresas brasileiras. Atualmente, Bomeny também ocupa as funções de professora titular de sociologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e de coordenadora do Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe (PREAL). Por meio de sua vasta experiência na área educacional, Bomeny mostra em seus estudos porque o empresariado tem voltado seus recursos para melhorar a educação dos funcionários e, em alguns casos, da comunidade à sua volta. Também revela o panorama atual deste processo, bem como as formas mais comuns de investimento em educação praticadas dentro das empresas. Confira a entrevista:
1) Responsabilidade Social – Qual foi a intenção inicial de realizar uma pesquisa para traçar o histórico de investimentos em educação por parte do empresariado brasileiro?
Helena Bomeny – A educação tem sido minha área de interesse acadêmico há alguns anos. No final da década de 80, e especialmente, na primeira metade da década de 1990, o tema da educação e da falência do sistema educacional brasileiro passou a ser matéria de discussão em muitos fóruns até então não mobilizados pela questão educacional. Um dos pontos mais enfatizados dizia respeito justamente ao fracasso do sistema educacional em preparar recursos humanos para a nova fase de estruturação da economia. Dizia-se muito que o empresariado estava particularmente mobilizado em tomar esta causa como sua causa, e envolvia-se cada vez mais com projetos de educação. Nossa intenção foi medir a extensão desse envolvimento, e qualificar a direção em que de fato o investimento se dava. Acreditávamos que seria um mapeamento não apenas interessante do ponto de vista acadêmico, mas que poderia se transformar em um instrumento de orientação para futuras discussões sobre a relação entre empresários e educação no país.
2) RS – Quais as principais ferramentas de pesquisa? Todos os estados brasileiros foram contemplados?
HB – Não todos. O IBOPE seguiu como metodologia a seleção de empresas pelo cadastro da empresa Duns & Bradstreet do Brasil LTDA, líder mundial na confecção e elaboração de relatórios de informações comerciais de empresas. Uma espécie de páginas amarelas. E a concentração das maiores empresas indicou a definição por certos estados em certas regiões. Foram aplicados questionários em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Salvador, Recife e Fortaleza.
3) RS – Quais foram as principais conclusões encontradas por meio da pesquisa?
HB – A primeira conclusão mais importante é que 51% das 1000 empresas entrevistadas responderam que sim, investem em educação. A segunda, e igualmente importante, o investimento empresarial em educação é recente, local, de pequeno porte, regular, voltado em sua expressiva maioria para a capacitação da própria força de trabalho, gerado e gerido na própria empresa. Começa a aparecer, ainda de forma tímida, um outro tipo de investimento, que consideramos externo à empresa, voltado para o entorno, a comunidade externa à empresa.
4) RS – Quanto é investido, atualmente, em educação no Brasil por meio das empresas privadas?
HB – Encontramos que o montante do investimento é de até 100 mil reais/ano, em 56% dos casos da empresas consultadas. De 100 até 500 mil é o investimento de 18% das empresas consultadas. Investimentos maiores (de até mais de 10 milhões de reais/ano) correspondem a menor número de empresas. Este último caso pode ser exemplificado, muito provavelmente, pela Fundação Roberto Marinho, com o Projeto Telecurso 2000 que é financiado por um conjunto de empresas do sistema FIESP.
5) RS – A senhora acredita que tais investimentos acontecem como uma forma de sanar as deficiências da rede pública de ensino?
HB – Não diretamente. Se considerarmos que uma educação básica de qualidade garantiria às empresas recursos humanos mais qualificados, então sim, o investimento feito é uma resposta ao não atendimento pela rede pública. Mas o que avaliamos como investimento foi uma política setorial de qualificação para trabalho direto na empresa.
6) RS – Um trabalho conjunto entre empresariado e governo poderia ser a melhor solução para a péssima qualidade que hoje marca a educação brasileira?
HB – Não diria que seria a melhor solução, porque seria pedir muito a um segmento da sociedade. Mas a parceria entre esfera privada e pública pode, em muitos pontos de vista importantes, contribuir para melhor desempenho da rede pública naquilo que lhe falta para funcionar. No entanto, retirar da esfera pública a função de garantir a rede pública e básica de ensino é um equívoco. A iniciativa privada não tem por que persistir, manter continuadamente, garantir um bem público na extensão, quantidade e tempo necessários ao bom funcionamento de um sistema de ensino.
7) RS – Quais são os setores econômicos que mais investem em educação? E os que menos investem?
HB – Nossa pesquisa não nos oferece dados para uma resposta precisa a esta questão.
8) RS – Quais são os investimentos mais comuns em educação realizados pelas empresas?
HB – Cursos de qualificação, treinamento de pessoal e uma tendência mais recente que é facilitar o acesso ao ensino superior, em alguns casos, e parece ser crescente, com o que vem se convencionando como universidade corporativa.
9) RS – Como a senhora avalia o atual panorama dos investimentos em Educação no Brasil por parte da iniciativa privada e quais as expectativas futuras (crescimento, queda, etc…)?
HB – Ainda é muito tímido o investimento. Há muito que fazer. Tudo indica que as empresas que têm política de investimento para dentro, continuarão a fazê-lo pelos resultados positivos que detectaram. Os que estão entre os 10% – ou seja, os que começam a investir para fora da empresa, terão um leque grande de possibilidades. Algumas sugestões já vêm sendo ensaiadas em organizações como o GIFE (Grupo de Instituições, Fundações e Empresas), que acaba de publicar um catálogo sobre investimento em educação. Essas organizações – GIFE e Instituto Ethos de Responsabilidade Social, por exemplo – estão tentando sensibilizar o setor empresarial para o investimento social que cada empresa pode fazer, e em que setores ou áreas tais investimentos são racionalmente positivos, ou seja, correspondem a uma relação racional entre custo e resultado. Investir apoiando a escola pública, por exemplo, tem sido identificado como um grande exemplo de boa aplicação de energia e recursos.
Você pode adquirir a publicação entrando em contato com Helena Bomeny ou Raquel Emerique, pelo telefone (021) 2559-5678, ou pelo e-mail: bomeny@fgv.br
Também nessa Edição :
Perfil: Benedita da Silva
Artigo: SA 8000 – O modelo ISO 9000 aplicado à responsabilidade social*
Notícia: O que deu na mídia (Edição 3)
Notícia: Como vai a menina dos olhos de Lula?
Notícia: Bombeiro Amigo da Criança
Notícia: Lixo: fonte de vida e trabalho
Leave a Reply