
Jacques Pena
Jacques Pena (foto), Diretor da Fundação do Banco do Brasil e Sérgio Ried, Gerente-Executivo da Unidade Relações com Funcionários e Responsabilidade Sócio-ambiental do Banco do Brasil falam à revista www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM sobre todas as ações que têm sido desenvolvidas nessa área dentro do maior banco do país. Os dois trabalham neste sentido, mas com públicos diferentes – Pena atende o público externo, e Ried, o público interno. Conheça, na entrevista a seguir, todas as nuances desse trabalho e saiba como a Fundação Banco do Brasil pretende investir seu orçamento de R$ 65 milhões durante o ano de 2004.
1) Responsabilidade Social – Qual a principal proposta de atuação da Fundação Banco do Brasil?
Jacques Pena – A Fundação Banco do Brasil atua em diversas áreas. Desenvolvemos ações ligadas à educação, cultura, meio ambiente e outras, por meio de programas estruturados com foco social. Nesse próximo ano, devemos priorizar as ações ligadas à geração de trabalho e renda e à educação.
2) RS – Em quantos estados brasileiros a Fundação atua? Existe uma estimativa do número de pessoas beneficiadas pelos projetos?
JP – Sim. Estamos presentes em todos os estados da Federação. Atualmente, desenvolvemos pelo menos um de nossos programas em mais de 750 municípios brasileiros. Através de parcerias firmadas com prefeituras, associações, empresas e até com Ministérios, levamos programas como o BB Educar e o AABB Comunidade para centenas de localidades. O BB Educar alfabetizou, em 2003, 18 mil jovens e adultos, outras 80 mil pessoas continuam nas salas de aula do programa. O AABB Comunidade, que oferece reforço escolar, alimentação e iniciação esportiva para crianças e jovens de baixa renda, atende anualmente mais de 52 mil pessoas. Entre ações de alfabetização, capacitação, treinamento e assistência, foram beneficiadas, somente em 2002, 3,2 milhões de brasileiros.
3) RS – Qual a prioridade nos projetos da Fundação? Ela visa o assistencialismo, atendendo necessidades imediatas, ou lança um olhar no futuro?
JP – Nossa prioridade são as ações geradoras de trabalho e renda. Com uma linha de atuação que está em sintonia com o Programa Fome Zero, identificamos soluções sociais viáveis que aproveitam as potencialidades regionais para responder a diversas demandas, como as de geração de trabalho e renda. Algumas dessas ações foram debatidas em um Comitê Operativo do Programa Fome Zero – COPO Multisetorial, do qual a Fundação Banco do Brasil faz parte, e escolhidas para serem multiplicadas. São as nossas prioridades. Iniciativas que propõem a geração de renda a partir da intervenção em cadeias produtivas já estão transformando a vida de centenas de famílias. Na região Norte, a Fundação Banco do Brasil investe na expansão de uma tecnologia desenvolvida nos laboratórios da Universidade de Brasília (UnB), que otimiza o processo de beneficiamento da borracha, agregando mais renda para os seringueiros extrativistas; na região Nordeste, iniciativas voltadas para o melhor aproveitamento da castanha do caju e da água rejeitada por dessalinizadores começam a oferecer melhores perspectivas de vida à população de diversos estados; no Centro-Oeste e Sudeste, o trabalho da Fundação é dirigido às cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, que hoje somam mais de 500 mil pessoas no Brasil e que precisam se fortalecer enquanto categoria. O investimento social realizado pela Fundação Banco do Brasil e seus parceiros têm gerado o lucro que desejamos: transformar a realidade de brasileiros que vivem em situação de risco de exclusão social. Os resultados obtidos mostram-nos que estamos no caminho certo possibilitando que mais e mais brasileiros recebam apoio e capacitação para andar com as próprias pernas.
4) RS – Qual o volume de investimento na Fundação em 2003 e qual a previsão de investimentos neste ano?
JP – Em 2003, a Fundação Banco do Brasil teve um orçamento de R$ 58,2 milhões para investimento em ações sociais. Neste ano, os recursos são 12,82% superiores. Trabalharemos com um montante de R$ 65,6 milhões.
5) RS – A FBB pode contar com uma parceria com o governo federal para executar seus projetos? De que maneira isso acontece?
JP – Sim, em alguns casos já trabalhamos em parceria com o Governo. Os programas são operacionalizados através de protocolos e convênios. Já desenvolvemos ações no campo da capacitação profissional para geração de trabalho e renda utilizando recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Na área da educação, somos parceiros do Programa Brasil Alfabetizado, que está mobilizando diversos intervenientes no país para combater o analfabetismo. Nem sempre as parcerias envolvem recursos financeiros, na região amazônica, trabalhamos a expansão da tecnologia de beneficiamento de borracha ‘Tecbor’ ao lado da UnB e do Ibama, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, que oferecem treinamento e apoio logístico, respectivamente.
6) RS – Com que objetivo o Banco do Brasil criou a Unidade Relações com Funcionários e Responsabilidade Sócio-ambiental do Banco do Brasil?
Sérgio Ried – A Unidade RSA foi criada no primeiro semestre de 2003 com a finalidade principal de instigar a organização a conciliar o atendimento aos interesses dos acionistas com o desenvolvimento de negócios social e ambientalmente sustentáveis, mediante o estabelecimento de relações eticamente responsáveis com todos os seus públicos de interesse. Para o Banco do Brasil, responsabilidade sócio-ambiental é “ter a ética como compromisso e o respeito como atitude nas relações com funcionários, colaboradores, fornecedores, parceiros, clientes, credores, acionistas, concorrentes, comunidade, governo e meio ambiente”. Explicita-se, portanto, o interesse da nossa organização em contribuir para o desenvolvimento de um novo sistema de valores para a sociedade, que tem como referencial maior o respeito à vida humana e ao meio ambiente, condição indispensável à sustentabilidade da própria humanidade. A missão da unidade é disseminar essa postura frente aos negócios para todo o conglomerado.
7) RS – A que público sua Gerência atende?
SR – A responsabilidade da Gerência de Relações sócio-ambientais é coordenar a implementação das políticas e normas para Responsabilidade sócio-ambiental do conglomerado. Portanto, sua atuação é basicamente interna, despertando a atenção das áreas negociais – relacionamento com clientes, parceiros, etc – e administrativas – relacionamento com funcionários, fornecedores, entre outros – para a importância da adoção dos princípios de responsabilidade sócio-ambiental. Assim, são nossos clientes todas as áreas do Banco, sejam relacionadas ao negócio ou às funções administrativas, estejam em nível estratégico, tático ou operacional. Além dessas áreas, também são públicos-alvo da gerência as empresas controladas, coligadas e subsidiárias do Banco do Brasil, além das entidades representativas do funcionalismo. Adicionalmente, também gerenciamos os programas de “Voluntariado” do Banco do Brasil, “Adolescente Trabalhador”, “Estágio de Estudantes”, “Núcleo Gestor do Fome Zero” e “Qualidade de Vida no Trabalho”. Nesse caso, são públicos atendidos os funcionários do Banco do Brasil, o governo e a comunidade.
8) Quais são os principais projetos da Unidade?
SR – Com relação à Unidade podemos destacar a implementação de um Plano de Participação nos Lucros e Resultados para os funcionários, que foi desenvolvido de forma participativa, e a celebração do melhor acordo coletivo de trabalho realizado nos últimos nove anos. Ainda com relação a essas questões, foi instalado escritório para negociar e reduzir o estoque de ações trabalhistas existentes contra o banco, o que permitiu o estabelecimento de vários acordos em várias ações coletivas que tramitavam há décadas na Justiça do Trabalho. Também ressaltamos o desenvolvimento de um programa para a reinserção de funcionários afastados por doença há mais de 90 dias. No que diz respeito à gerência, o foco de nossa atuação em 2003 recaiu sobre a preparação da Unidade para o exercício de suas atribuições. Foram desenvolvidos e aprovados pelo Conselho Diretor do BB o conceito e a Carta de Princípios de Responsabilidade sócio-ambiental. Também foi aprovada a adesão do Banco do Brasil ao Global Compact das Nações Unidas, uma iniciativa que objetiva mobilizar a comunidade empresarial internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente que conta com a participação das agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais inclusivo e igualitário. Por fim, foi desenvolvido um modelo de gestão para o tema de forma a garantir o comprometimento de todo o conglomerado na questão e um plano estratégico de ação (2003 – 2007), elaborado a partir das orientações estratégicas do Banco e de diagnóstico organizacional. Para 2004, deseja-se focar a implementação das ações planejadas, com destaque para a revisão dos produtos/serviços existentes e dos contratos com fornecedores e demais parceiros à luz dos princípios de responsabilidade sócioambiental; o desenvolvimento de linhas de produtos e serviços voltados especificamente para a questão social e/ou ambiental; o estabelecimento de sistema de gestão ambiental (ecoeficiência) visando otimizar a utilização dos recursos naturais no ambiente corporativo, bem como o tratamento de resíduos, inclusive lixo tóxico (baterias de celular, pilhas, reatores) gerados pela atuação do Banco; e o desenvolvimento de programas focando o público e as práticas administrativas internas: gestão compartilhada, ascensão profissional, ouvidoria interna, qualidade de vida no trabalho e diversidade.
9) RS – Como é possível desfazer a imagem negativa que marca o setor financeiro, sempre visto como o “vilão”, em função do atual sistema econômico, marcado pelos juros altos, pela exclusão e pela diferença social? Nesse caso, o ato de investir em Responsabilidade Social não poderia ser visto pela sociedade como um contra-senso?
SR – Ao contrário, investir em Responsabilidade Social Corporativa significa exatamente atender aos interesses dos demais públicos de relacionamento da empresa e não somente aos dos acionistas. O envolvimento do Banco do Brasil em um movimento que é tendência mundial, e em grande parte fruto da cobrança dos próprios clientes, indica o compromisso de nossa organização na busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Gostaria de diferenciar aqui o movimento de Responsabilidade Social Corporativa da filantropia empresarial e do investimento social privado. A filantropia empresarial costuma ser expressa por uma ação social externa da empresa, ou seja, por doações eventuais cujo beneficiário principal é a comunidade. O investimento social privado, por sua vez, diferencia-se da filantropia por ser uma ação social realizada sem caráter assistencialista, de forma planejada, articulada e sistemática, mormente conduzida por Institutos ou Fundações criados pela Empresa para este fim. Já a Responsabilidade Social Corporativa foca a cadeia de negócios da empresa e engloba preocupações com um público maior (acionistas, funcionários, fornecedores, consumidores, comunidade, meio-ambiente), ou seja, trata-se da forma de como a empresa conduz seus negócios. Dessa forma, contra-senso seria uma empresa realizar investimentos em projetos sociais, beneficiando a comunidade, e pautar sua atuação de maneira a explorar seus funcionários, fornecedores ou até mesmo a própria comunidade. Comprometer-se com o movimento de Responsabilidade Social Corporativa significa que o Banco buscará continuamente alcançar o sucesso comercial mediante ações que respeitem o meio social e o meio ambiente ao qual ele está inserido.
Site: www.bb.com.br
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