
A Arator Sustentabilidade registrou no último ano um crescimento de 10% na busca por planejamento estratégico em gestão sustentável. O dado foi apresentado por Roberta Valença, diretora de Relacionamento da consultoria especializada no tema em entrevista exclusiva ao site Responsabilidade Social.com. Segundo ela, o desempenho se deu comumente pelo “compliance”, ou seja, as obrigações legais que por vezes são exigidas pela própria lei ou pela cadeia onde a empresa está inserida.
Mesmo com alta, Roberta Valença alerta que a gestão sustentável ainda está longe de ser uma realidade no país. “Se considerarmos que 90% do universo produtivo brasileiro é de pequenas empresas, então conseguimos enxergar a distância sob o aspecto do melhor dos mundos”, pondera. Ela ainda aponta que o maior desafio das empresas brasileiras é o planejamento de longo prazo. “No momento da tomada de decisões, onde se escolhe entre externalidades negativas a sociedade ou gerar impacto negativo aos resultados de curto prazo, as empresas travam”. Leia e a entrevista na íntegra.
Responsabilidade Social – A Arator é um consultoria com foco na gestão sustentável. Quais projetos estão no centro das atenções da empresa neste ano?
Roberta Valença – A Arator é uma consultoria especializada na gestão da sustentabilidade aliada à estratégia da empresa e na educação para sustentabilidade. Dentre os vários projetos, se destacam os relatórios de sustentabilidade, que já estão, em certa medida, incorporados a agenda de algumas organizações e os cursos de gestão da sustentabilidade, nos formatos de 4 ou 16 horas ou o curso-consultoria que pode variar de seis meses a um ano, os cursos são as apostas desse ano. O intuito é fornecer aos participantes as ferramentas necessárias para a gestão do tema dentro de suas áreas, quaisquer que sejam. Acreditamos assim, que a disseminação da cultura não fica atrelada somente aos líderes, gerando talvez maior rapidez em direção aos resultados pretendidos. Como a prática depende da inserção de uma nova cultura, a capacitação dos colaboradores se torna uma das principais chaves de transformação para essa tarefa.
RS – Como a Arator avalia cenário mundial do ponto de vista da sustentabilidade como o Brasil se insere nesse contexto?
RV – Diante de uma crise ambiental sem precedentes, mais precisamente no final do século passado, a agenda internacional se voltou para o desenvolvimento sustentável, afim de expressar a necessidade de retomar o equilíbrio entre as esferas ambiental, econômica e social, pois vivemos hoje um total esgotamento do modelo vigente.
No Brasil, muito irá depender da inquietação do indivíduo frente à corrupção, falta de governo decente, pois esse elo enfraquece e muito, a seguirmos rumo ao desenvolvimento sustentável. Mas, por outro lado há muita coisa sendo feita, por algumas empresas comprometidas que acabam por arrastar sua cadeia de fornecedores para boas práticas, há pessoas envolvidas em virar o jogo dentro da política e muitas pessoas envolvidas com uma educação melhor para as próximas gerações conseguirem mudanças mais rápidas.
Muito está também na descoberta de novas tecnologias verdes, com capacidade de solucionar problemas com recursos finitos. Temos muito para fazer, precisamos causar este senso de urgência nas pessoas, para podermos promover a mudança necessária e para que ela venha a tempo.
RS – A consultoria registrou, em 2013, um crescimento de 10% na busca por planejamento estratégico em gestão sustentável. Na sua avaliação, quais as principais causas para esse desempenho? Quais são as expectativas para 2014?
RV – O desempenho se deu comumente pelo “compliance”, ou seja, as obrigações legais que por vezes são exigidas pela própria lei ou pela cadeia onde a empresa está inserida. A Arator nasceu da vontade de aumentar a consciência das pequenas e médias empresas sobre o valor da sustentabilidade, para isso acreditamos que investimentos em conteúdo e treinamento podem ajuda-las a enxergar os benefícios duradouros que podem gerar.
RS – Gestão sustentável já é uma realidade para empresas de todos os portes no Brasil? Ou, na prática, há diferença entre um projeto desenvolvido para uma grande empresa ou para uma microempresa?
RV – Não, está distante de ser uma realidade. Se considerarmos que 90% do universo produtivo brasileiro é de pequenas empresas, então conseguimos enxergar a distância sob o aspecto do “melhor dos mundos”. Mas, sou otimista, acredito que como indivíduo, a empresa demora para mudar um valor, um hábito, práticas que já fazem parte de seu cotidiano há muito tempo.
A diferença de um projeto desenvolvido para uma grande empresa ou pequena está na complexidade das relações tanto internamente quanto externamente. Por isso, que defendo que uma PME [Pequena e Média Empresa] ou média que ainda está em fase de profissionalização tem mais facilidade para crescer já com a sustentabilidade incorporada do que o contrário. Além disso, a questão é somente a postergação, pois alguém tem dúvida que a sustentabilidade veio pra ficar?
RS – Quais os principais desafios que as empresas brasileiras ainda encontram para instituir gestões pautadas em questões socioambientais?
RV – O maior desafio de todos é atuar no campo do longo prazo. Todas as empresas têm demandas a serem atendidas sempre pra ontem e a sustentabilidade é, em certa medida, incompatível com esse comportamento organizacional. No momento da tomada de decisões , onde se escolhe entre externalidades negativas a sociedade ou gerar impacto negativo aos resultados de curto prazo, as empresas travam. Fato é que dá para se desenvolver um planejamento simultâneo de curto e longo prazo, basta ter visão, ter anseios de fazer parte de um Brasil, de empresas, de sociedade melhores. Basta ter a vontade genuína de fazê-lo.
RS – Na sua avaliação, projetos socioambientais mantêm-se adequados para este momento de baixo crescimento econômico? Precisa ser revisto?
RV – Projetos socioambientais deveriam ser transversais em toda a estratégia da empresa, pois eles se misturam. São estes que gerarão impacto positivos nos resultados a longo prazo e que são adequados sempre. Muitas empresas criam fundações, ONGs, no intuito de fragmentar os objetivos, porém, isso muitas vezes é filantropia (não que seja ruim), mas nesse caso pode ocorrer o risco de se cortar esse tipo de projeto em momento de baixo crescimento econômico, devido a sua pouca relação com o negócio em si.
RS – Você acha que é possível países em desenvolvimento atingirem compromissos como a redução da pobreza e das desigualdades e ainda proteger o meio ambiente?
RV – Sim, e muito. Precisamos apenas unir forças (empresas, sociedade, governo etc.) para que possamos ter mais inclusão, mais educação. As grandes empresas ainda resistem muito, mas é indiscutível o grande mercado que se tem na base da pirâmide, tanto para produtos como serviços, que gerariam a inclusão social e promoveriam o crescimento econômico um dos fatores para se diminuir a desigualdade. A proteção do meio ambiente tende a entrar cada vez mais no contexto de todos, em qualquer nível, principalmente pela escassez dos mesmos. Daqui alguns meses, sentiremos na pele com o racionamento de água em São Paulo, que o governo está mascarando até as eleições e a Copa.
RS – Qual o seu entendimento do termo ‘responsabilidade social’?
RV – Pra mim o termo ‘responsabilidade social’ é amplo. Ele começa no papel do indivíduo, onde ele se encontra, entende os motivos de sua existência e toda a implicação de suas relações com os outros papéis exercidos, seja ele na família, no trabalho, na comunidade, enfim sua relação com o sistema todo que é interligado. Todos nós somos responsáveis por todo o esgotamento que vivemos hoje, ambiental, econômico – advindo do consumo em excesso, da desigualdade exacerbada por este consumo e, principalmente quando queremos beneficiarmos somente a nós mesmos. O termo nos convida a repensar como queremos continuar nossa jornada no mundo de hoje, olhar que mundo queremos deixar para os nossos.
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