
O idealizador e diretor-presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps), Marcus Nakagawa, detalha na entrevista os resultados da primeira pesquisa já realizada com profissionais da área de sustentabilidade no país. Foram ouvidos 370 mil empregados de vários segmentos do mercado. Trata-se, segundo o estudo, de um segmento em expansão no Brasil, com uma forte tendência de ampliação dos quadros de equipes de sustentabilidades nas corporações.
“Cada dia mais as empresas precisarão de profissionais com conhecimento de sustentabilidade, seja no próprio departamento de sustentabilidade ou em outras áreas”, destaca com exclusividade para o Responsabilidade Social.com. A pesquisa revela também que há uma equivalência salarial e de benefícios dos executivos da área de sustentabilidade com os outros departamentos, que variam de R$ 2.796 a R$ 25.149, segundo a função exercida.
O levantamento mostrou que 26% das empresas pesquisadas pretende ampliar o quadro de funcionários da área de sustentabilidade para o ano de 2012 e 74% manterá a quantidade de empregados no setor. Para a produção da pesquisa, foram comparados os cargos que atuam a maior parte do tempo (mais de 70%) em atividades diretamente relacionadas à sustentabilidade como responsabilidade social e ambiental, cidadania corporativa, responsabilidade corporativa, investimento social privado ou similar.
1) Responsabilidade Social – Estudo desenvolvido pela Deloitte com exclusividade para a Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps) revela que 26% das empresas pesquisadas pretende ampliar o quadro de funcionários da área de sustentabilidade. Para o senhor, esses dados são animadores?
Marcus Nakagawa – Sim, pois mostra que o profissional de sustentabilidade está sendo valorizado e buscado no mercado. Cada dia mais as empresas precisarão de profissionais com conhecimento de sustentabilidade, seja no próprio departamento de sustentabilidade ou em outras áreas.
2) RS – Essa foi a primeira pesquisa já realizada com profissionais do setor. Como os resultados desse estudo podem orientar as empresas na adoção de uma gestão pautada em sustentabilidade?
MN – A ideia dessa pesquisa e a criação da Abraps é exatamente essa. Cada vez mais orientar, capacitar e fortalecer os profissionais de sustentabilidade para que possam trabalhar nas empresas, nas áreas governamentais e nas organizações sem fins de lucro. Os resultados desse estudo mostram que existem empresas trabalhando e remunerando profissionais nessa área como em qualquer outra. E serve como inspiração e base para outras que queiram adotar a sustentabilidade em sua gestão.
3) RS – Na sua opinião, qual o potencial de crescimento de mercado para esses profissionais nos próximos anos?
MN – O crescimento será muito grande, principalmente porque o nosso país está em pleno desenvolvimento. E com a expansão de vários setores, o profissional de sustentabilidade será muito requisitado para ajudar as empresas, governos e ONGs a pensarem não somente num crescimento econômico, mas sim num desenvolvimento atrelado às questões sociais e ambientais.
4) RS – O senhor poderia apontar quais as características que as empresas buscam no perfil desse profissional? Como se preparar para atuar nessa área?
MN – As empresas estão buscando profissionais que tenham um conhecimento de negócios e cultura empresarial, porém com uma visão mais holística, com uma característica de resiliência, que consiga agregar e orientar para decisões mais sustentáveis, com uma visão no econômico, sem esquecer e pautar o social e o ambiental, além de conhecimentos técnicos sobre o assunto.
Para se prepara nessa área são necessários alguns cursos e escolher em que área da sustentabilidade deseja trabalhar, pois cada dia mais dentro do próprio tema já existem especialidades, como exemplo, especialistas em projetos sociais, voluntariado empresarial, relatório e indicadores de sustentabilidade, enfim, além de um bom networking dentro da área de sustentabilidade.
5) RS – Quais as principais vantagens para atuar nesse setor hoje no Brasil e quais as dificuldades que esses profissionais ainda encontram?
MN – A principal vantagem é de conciliar crenças pessoais com o trabalho do dia a dia numa empresa. Outra vantagem é que o mercado da economia verde só tende a crescer. As dificuldades são: a falta de entendimento do tema dentro das empresas, o ceticismo e a vontade de algumas empresas de não inovar.
6) RS – Todo mundo hoje diz que é sustentável. Cada um com entendimento diferente desse termo tão vago. Como avaliar quem é sério e quem apenas faz propaganda?
MN – Essa é á maior dificuldade no momento, pois existem muitas empresas que estão utilizando esse tema de forma equivocada devido a um não alinhamento de conceitos. Mas existem vários indicadores e certificações, principalmente para processos mais sustentáveis, que mostram que alguma parte da empresa está se preocupando com o tema. Gosto de ressaltar que é alguma parte da empresa, pois para uma empresa ser sustentável totalmente é quase impossível. Existem certificações como a ISO 14.001, ISO 26000, a OHSAS 18001, entre outras que certificam alguns processos dentro da empresa, além de indicadores como o do ISE da Bovespa, do DJSI, do Instituto Ethos, entre outras, que podem ajudar as empresas a se autoavaliarem ou para se pautar o tema.
7) RS – Qual a sua avaliação do momento atual e sua expectativa sobre o movimento corporativo da responsabilidade socioambiental no mundo e no Brasil?
MN – O movimento infelizmente é muito lento para as situações ambientais e sociais que temos no momento, porém é fundamental que venha crescendo e educando muita gente. É um processo de implementação que é baseado em mudanças com inovação, e muitas empresas têm uma certa dificuldade nesse tema no dia a dia.
O movimento no Brasil está indo muito bem, poderia ser mais rápido, porém tem a pesquisa de “Emissão de Relatórios de Responsabilidade Corporativa 2011’’, da empresa global de auditoria KPMG, que apontou que o Brasil é o país do Bric – formado, também, por Rússia, Índia e China – que possui o maior número de empresas que emitem relatório de sustentabilidade, prestando contas a respeito das ações de responsabilidade socioambiental que realizam.
Os números ainda garantiram ao Brasil o sexto lugar no ranking global de países com o maior número de empresas que incluem os relatórios de sustentabilidade em suas estratégias corporativas. Mas não podemos sentar nessa glória da pesquisa, precisamos agir e colocar a mão na massa.
8) RS – Como o senhor avalia o nível de maturidade das empresas brasileiras quando o assunto é responsabilidade socioambiental?
MN – Apenas algumas grandes empresas efetivamente estão colocando a sustentabilidade na estratégia de negócios da sua empresa e uma pequena quantidade consegue colocar o tema atrelado a produtos e serviços. Quando colocamos que grande parte das empresas brasileiras é formada por pequenas e médias empresas, uma pesquisa do Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] mostra que ainda a maioria não possui conhecimentos sobre o tema.
A pesquisa intitulada “O que pensam as micro e pequenas empresas sobre sustentabilidade”, lançada em 2011, teve o objetivo de avaliar o nível de percepção dos empresários de micro e pequenas empresas, no Brasil, acerca dos temas “sustentabilidade” e “meio ambiente”. Foram entrevistados 3.058 empresários dos segmentos de micro e pequeno porte, em todo o país. Como resultado, constatou-se que a maioria desses empresários (58%) afirma não possuir conhecimento sobre os temas “sustentabilidade” e “meio ambiente”.
9) RS- Quais são os desafios das empresas brasileiras nesse setor para a próxima década?
MN – Primeiro entender, alinhar o conceito e implementar indicadores sobre o tema; buscar profissionais que entendam conceitualmente e efetivamente sobre a questão; e colocar a mão na massa, transformando esse conceito em realidade por meio de processos mais sustentáveis e produtos e serviços que tenham valores reais de desenvolvimento sustentável.
10) RS – Qual o seu entendimento do termo responsabilidade social?
MN – A responsabilidade social é a responsabilidade nas interações e relacionamentos que a empresa tem com os seus vários stakeholders, buscando sempre o desenvolvimento sustentável do país e do planeta.
Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade – Site: www.abraps.blogspot.com
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