
Ilda Peliz, presidente da Abrace, na inauguração do HCB
Há oito meses, o Distrito Federal conta com um hospital especializado no atendimento ao câncer. Fruto de um extenso trabalho realizado pela Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) atende, em média, 200 crianças por dia e registra mais de 120 mil atendimentos.
“Ofereceremos às crianças do Centro-Oeste e de outras regiões como o Norte e Nordeste, um hospital pediátrico de alta complexidade, feito com projeto inovador à luz do que existe de melhor no mundo”, comemora Ilda Peliz, que está à frente da Abrace há 16 anos.
O Hospital da Criança é o único serviço de oncologia pediátrica da região e atende todas as especialidades pediátricas, com destaque em oncologia, neuro, endócrino e gastrohepatologia. A Abrace atua de forma direta dentro do hospital com a coordenação do voluntariado. Na entrevista exclusiva, Ilda Peliz apresenta o balanço de atendimento da instituição, destaca as principais metas para os próximos anos e avalia o atendimento ao câncer no país. Acompanhe.
1) Responsabilidade Social – Foi inaugurado no dia 23 de novembro de 2011, no Distrito Federal, o Hospital da Criança de Brasília José Alencar, que presta um atendimento integrado para crianças e adolescentes com câncer e hemopatias. A ação é resultado de um extenso trabalho desenvolvido pela senhora ao longo dos últimos anos à frente da Abrace. Como a senhora avalia esta conquista?
Ilda Peliz – Para mim a inauguração do hospital foi uma conquista de toda a sociedade. Desde a luta para conseguir o terreno até a fase final da construção a sociedade esteve junto com a Abrace, apoiando e ajudando na arrecadação de recursos. Essa conquista confirma que a união faz a força.
2) RS – É possível antecipar um balanço prévio dos atendimentos desse complexo de atendimento infanto-juvenil?
IP – O Hospital da Criança de Brasília José Alencar atende em média 200 crianças por dia. Desde a inauguração, ou seja, de novembro de 2011 para cá, a instituição realizou mais de 120 mil atendimentos, dentre eles, mais de 68 mil exames laboratoriais e por volta de 28 mil consultas. Foram cerca de 5,2 mil diárias (2.471 internações e 2.706 hospital-dia), pouco mais de 3,8 mil seções de quimioterapia e cerca de 1,5 mil transfusões.
3) RS- Quais são as principais metas do hospital para os próximos dois anos?
IP – A nossa principal meta é a edificação do Bloco II do Hospital da Criança, que terá 200 leitos (164 para internação clínica, cirúrgica, oncológica, cuidados paliativos e pós-transplantes; 20 para UTI; e 15 semi-intensiva), centro cirúrgico com quatro salas, centro de diagnóstico, centro de ensino e pesquisa, hemodiálise, hemoterapia, quimioterapia, etc.
Com isso, ofereceremos às crianças da região Centro-Oeste e de outras regiões como o Norte e Nordeste, um hospital pediátrico de alta complexidade, feito com projeto inovador à luz do que existe de melhor no mundo em termos de assistência médica infantil e com capacidade para consultas, exames, cirurgias e tratamentos de ponta em todas as especialidades pediátricas, inclusive com a realização de transplantes.
4) RS – Uma das bases do trabalho desenvolvido pelo hospital e pela Abrace é ação voluntária. Como a senhora avalia a participação da sociedade civil nesses projetos? É possível dizer que há um engajamento da comunidade do DF?
IP – A solidariedade já faz parte “do jeito de ser” de quem mora em Brasília. Há um engajamento geral das pessoas, das empresas e até os órgãos públicos. Esses geralmente fazem doações de móveis e equipamentos em desuso, incentivam os funcionários a apoiarem as nossas campanhas. Empresas apoiam nossas ações e as pessoas isoladas ou organizadas sempre atendem nossos apelos.
5) RS – Como a senhora avalia o atendimento hoje no Brasil para pessoas com câncer e quais são os principais desafios do país nesse setor?
IP – No caso da oncologia pediátrica, que é o nosso foco, temos tido uma melhoria no país desde a estruturação da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica, na década de 1980, e também com a padronização dos protocolos de atendimento, ou seja, de diagnóstico e de tratamento. Hoje, tanto faz o paciente tratar nas capitais como Brasília, Curitiba, São Paulo ou em uma cidade do interior, pois o protocolo do tratamento é padronizado pelos grupos terapêuticos. Além disso, foram surgindo os grupos multi-institucionais de estudo para cada patologia, permitindo uma parceria técnico-científica importante. Assim, acredito que estamos avançando, mas sempre é preciso avançar mais.
No campo das políticas públicas, é inegável o avanço obtido com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, mas que vem sendo progressivamente implantado e que tem proporcionado o acesso da população aos serviços de saúde. Vale lembrar que poucos planos de saúde dão cobertura para o diagnóstico e tratamento do câncer. No fim, a população conta mesmo é com o sistema público.
Outro ponto que merece destaque são as iniciativas de parceria entre o governo e a sociedade civil, como é o caso do Instituto do Câncer Infantil e Pediatria Especializada (Icipe) que administra o Hospital da Criança. Temos também a nossa Confederação Nacional das Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer (CONIACC) que articula, colabora e cobra do governo federal o seu papel conforme previsto na Constituição Brasileira: “A saúde é um direito de todos e dever do Estado”.
6) RS – Na sua opinião, qual o papel do Hospital da Criança de Brasília José Alencar e da Abrace nesse contexto?
IP – O Hospital da Criança é o único serviço de oncologia pediátrica da região e está pronto para atender os pacientes do Distrito Federal e entorno. Para se ter uma ideia, 43% dos pacientes não são do DF. Brasília por tradição recebe também pacientes de outros estados como Norte e Nordeste. Cobrimos, portanto, uma área de aproximadamente quatro milhões de habitantes. O HCB permite o aprimoramento da assistência, melhorando o acesso ao diagnóstico e a atenção integral e multidisciplinar, porque unificamos no mesmo complexo hospitalar a oncologia e todas as outras especialidades pediátricas.
É importante lembrar que o Hospital da Criança de Brasília atende todas as especialidades pediátricas, com destaque em oncologia, neuro, endócrino e gastrohepatologia. A Abrace atua de forma direta dentro do hospital com a coordenação do voluntariado, visando oferecer aos pacientes e acompanhantes, entretenimento, acolhimento e humanização.
7) Quais os desafios da Abrace e do Hospital para os próximos anos?
IP – Com a inauguração do hospital, as demandas da Abrace naturalmente cresceram muito, uma vez que mais pacientes são encaminhados para receber assistência da instituição. O GDF [governo do Distrito Federal] é quem custeia as despesas do hospital, mas é a sociedade que mantém as despesas da Abrace.
Além da hospedagem completa na Casa de Apoio para pacientes de fora, a Abrace garante ao paciente toda a assistência social necessária como transportes inclusive os aéreos, cestas básicas, medicamentos de uso domiciliar, tratamento dentário para a família, fornecimento de próteses e órteses e de produtos e equipamentos hospitalar para uso domiciliar.
Também mantemos o Projeto Wilian que oferece assistência domiciliar para os pacientes que não têm possibilidade de cura. Outra iniciativa é o de Melhora da Habitabilidade que oferece melhorias na residência do paciente quando essa traz riscos para a saúde da criança. Portanto, cada vez mais precisamos do apoio da comunidade, pois o crescimento e reconhecimento do nosso trabalho geram mais demandas, o que requer mais recursos.
8) RS – De que forma a atuação nesse projeto modificou sua vida?
IP – Quando perdi minha filha eu decidi assertivamente transformar minha dor em ajuda ao próximo. Assim, fui ser voluntária da Abrace. Ao longo desses 16 anos à frente da instituição eu descobri que a gente pensa que está ali só para ajudar as crianças com câncer e suas famílias, mas na verdade o voluntário também ganha, pois cresce muito como ser humano. Com as diversidades ele aprende a ser tolerante, paciente e mais solidário. Hoje, eu tenho certeza que sou uma pessoa muito melhor e mais feliz.
9) RS – O que a senhora entende por Responsabilidade Social?
IP – Responsabilidade social para mim é um valor comportamental que as pessoas físicas ou jurídicas devem perseguir. É simples de adotar. Basta querer e se comprometer com o respeito à vida e ao planeta. Se cada pessoa ou empresa agir pensando e respeitando o próximo, em especial os mais fragilizados, o meio ambiente, os animais, a comunidade, os empregados, os consumidores, certamente faremos um mundo melhor. O planeta agradece e a sociedade será mais livre e feliz. Todos ganham com a responsabilidade social.
Abrace: www.abrace.com.br
Também nessa Edição :
Perfil: Oscar Pistorius
Artigo: Ambiente corporativo mundial vivencia a Era do Significado
Notícia: ABNT lança diretrizes para ajudar MPEs a se enquadrar no sistema de gestão ambiental
Notícia: Longa vida para o meio ambiente
Notícia: Compromisso social
Oferta de Trabalho: Procura-se (08/2012)
Leave a Reply