Entre os dias 19 e 26 deste mês, cerca de 400 jovens participarão do projeto Missão Solidária Marista. A ação será realizada em quatro cidades do País. O objetivo é promover a educação para a solidariedade, a partir de uma experiência vivencial de aprendizado recíproco e dialógico e utilizando-se da metodologia de imersão em realidades sociais desafiadoras.
“Por uma semana, os jovens Maristas deixam seus afazeres diários para inserirem-se em uma comunidade, integrando-se no cotidiano das pessoas dessa comunidade”, resume Diogo Galline, do Setor de Pastoral do Grupo Marista, em entrevista exclusiva ao Responsabilidade Social.com.
A iniciativa prevê oficinas socioeducativas para crianças, adolescentes e jovens; visitas missionárias às famílias da comunidade; ações de revitalização em espaços comunitários; entre outros. Nesta edição, o projeto também ofertará um curso inédito de extensão sobre educação para a solidariedade. Leia a entrevista na íntegra.
Responsabilidade Social – Em linhas gerais, qual a proposta da Missão Solidária Marista (MSM), realizada pelo Grupo Marista?
Diogo Galline – A Instituição Marista é uma congregação confessional que tem como proposta educativa formar, por meio de seus processos educacionais, cidadãos éticos, justos e solidários, visando à transformação da sociedade. Essa formação ocorre dentro e fora dos muros das salas de aula dos colégios, unidades sociais e universidades. Uma das iniciativas que vai a esse encontro é a Pastoral Juvenil Marista (PJM): um espaço ofertado aos adolescentes e jovens Maristas para a vivência e o amadurecimento da fé daqueles que assim desejam.
Uma das atividades que faz parte do itinerário formativo da PJM denomina-se Missão Solidária Marista (MSM). Trata-se de uma atividade que tem por objetivo central promover a educação para a solidariedade, a partir de uma experiência vivencial de aprendizado recíproco e dialógico e utilizando-se da metodologia de imersão em realidades sociais desafiadoras. Também são objetivos: reconhecer os direitos humanos fundamentais e os pilares da dignidade humana; compreender as causas e consequências da pobreza; vivenciar a fé a partir de uma espiritualidade sociotransformadora; fomentar o protagonismo juvenil.
As missões solidárias ocorrem há 30 anos, sendo que, desde 2005, adotou-se a formatação e a nomenclatura atual (Missão Solidária Marista). Participam dela jovens (a partir de 16 anos) provenientes de colégios particulares, unidades educacionais/sociais filantrópicas e universidades particulares dos estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Neste ano, as Missões Solidárias acontecerão em quatro cidades: Criciúma (SC), Fazenda Rio Grande (PR), Ponte Serrada (SC) e São Paulo (SP) e terão a participação de aproximadamente 400 jovens.
RS – O escopo da ação é “experiência de educação para a solidariedade”. Para alcançar essa meta, quais atividades serão realizadas?
DG – A educação para a solidariedade é um processo de emancipação das pessoas envolvidas, isto é, aquela que concede ao ser a oportunidade de reconhecer a si e ao outro como sujeitos de direitos, autônomos e interdependentes, em um processo gerador de humanização. Como diz Paulo Freire: “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
Por uma semana, os jovens Maristas deixam seus afazeres diários para inserirem-se em uma comunidade, integrando-se no cotidiano das pessoas dessa comunidade. Nesses sete dias, promovem diversas atividades missionárias, tais como: oficinas socioeducativas para crianças, adolescentes e jovens; visitas missionárias às famílias da comunidade, com o objetivo de compartilhar a vida e promover o diálogo; ações de revitalização em espaços comunitários, colocando literalmente “a mão na massa”; formações de temáticas que estejam de acordo com a necessidade das pessoas da comunidade; espiritualidade; e outras ações, de acordo com a realidade de cada Missão Solidária. Além disso, os jovens são acolhidos nas famílias da comunidade, possibilitando-se, assim, a convivência e a partilha de diferentes realidades.
RS – A Missão Solidária será realizada nas cidades de Criciúma e Ponte Serrada (SC), Fazenda Rio Grande (PR) e São Paulo (SP). Há alguma razão especial para estas localidades receberem o evento? Houve um processo de seleção?
DG – O Grupo Marista compreende os estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal. Diante dessa grande extensão territorial e pensando em possibilitar que um grande número de jovens consigam participar da experiência, a Pastoral do Grupo Marista propõe que a MSM ocorra simultaneamente em diversas localidades, facilitando o acesso a um maior número de jovens. Portanto, um dos fatores de escolha da sede para a Missão Solidária é a localização geográfica das cidades. Além disso, busca-se também contemplar diferentes realidades possíveis: metrópole, realidade rural, cidade de médio porte, cidades que não tenham estrutura Marista, entre outros. Essas escolhas são feitas a partir de diálogo com a comunidade acolhedora da MSM e entre diferentes áreas de trabalho do Grupo Marista, como o setor de solidariedade e a diretoria de ação social.
RS – Qual a expectativa do Grupo para esta edição?
DG – O Grupo Marista tem o desejo de que essa experiência de solidariedade possa inquietar e desacomodar os 400 jovens participantes. Que consigam retornar as suas realidades e perceber as injustiças sociais existentes, para que sejam agentes de transformação social e consigam, junto a outros jovens, mudar a realidade em busca de um mundo mais fraterno e justo. Em suma: serem “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13). Como ser sal da terá e luz no contexto em que o jovem está inserido? Sem dúvida, o desafio para isso é se abrir aos outros, romper com sua comodidade e deixar espaço para os outros, para os pobres.
O Papa Francisco afirma em sua exortação que “na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar vida aos demais. A vida amadurece a medida que é entregue para gerar vida aos outros”.
Assim sendo, por meio desta ação despertamos nos jovens o desejo de participar da formulação das políticas públicas consistentes, de inserir-se no mundo da política, de fazer incidência nos espaços que produzem a injustiça e a pobreza. Por fim, o Grupo Marista não pretende formar jovens anestesiados frente às injustiças sociais, também não pretende formar assistencialistas baratos, mas jovens conscientes de que é preciso atuar de forma orgânica e organizada para gerar transformações consistentes e duradouras.
Outra expectativa é direcionada à comunidade que acolhe a MSM: que consigam estabelecer elementos emancipadores, na esperança que essas pessoas se sintam sujeitos de direitos e deem continuidade à iniciativa realizada.
RS – Neste ano, será ofertado aos participantes da MSM um curso inédito de extensão, na modalidade ensino a distância, de tema “educação para a solidariedade”. Você poderia destacar como os objetivos da iniciativa evoluíram ao longo do tempo?
DG – A cada ano, pequenas adaptações são feitas no intuito de tornar a Missão Solidária sempre mais assertiva aos seus participantes, levando-se em conta as características dos momentos em que ocorrem. Por exemplo, na primeira edição da Missão Solidária Marista, em 2005, houve a participação de 60 jovens em um único local. Em 2014, a MSM ocorrerá em quatro localidades e contará com a presença de aproximadamente 400 pessoas. Ou seja, foi feita uma evolução na maneira de se ofertar a MSM. Nascida como uma ação de solidariedade, percebeu-se que a MSM poderia ir muito além de um mero evento pontual. Objetivou-se que a MSM fizesse parte de um itinerário formativo (que, no caso, é a PJM), ao invés de ser um ponto de partida ou de chegada. Havendo uma continuidade local à MSM, realiza-se a tão esperada educação para a solidariedade.
O curso de extensão surgiu a partir dos esforços conjuntos da Pastoral do Grupo Marista e do Curso de Graduação em Teologia da PUCPR [Pontifícia Universidade Católica do Paraná], almejando a preparação dos participantes da MSM e as reais motivações para a realização da MSM. O curso conta com módulos teóricos propostos justamente para embasar a prática solidária (missiologia, políticas públicas, espiritualidade humana, análise de conjuntura, teologia da solidariedade e outros) e também com a prática, que é a vivência na MSM. Por fim, cada participante fará uma síntese pessoal de sua participação, apresentando-a como trabalho de conclusão.
RS – Você poderia apresentar um balanço das edições anteriores da MSM? Quais os principais resultados alcançados?
DG – A experiência de missão ocorre há 30 anos no Grupo Marista. Desde 2005 ela adotou a formatação e a nomenclatura de Missão Solidária Marista. Desde então, em seus nove anos de existência, houve o registro de aproximadamente 1.300 participações em 24 Missões Solidárias. Os resultados alcançados podem ser muitos e em diversos níveis. O maior deles dá-se nos frutos gerados a partir da educação para a solidariedade. Ele resulta na ressignificação de projetos (e até mesmo sentido) de vida dos participantes; na prática do voluntariado; no engajamento de causas sociais; em projetos e ações não governamentais; no envolvimento político; entre outros espaços.
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