O professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração da Pontifícia (PPGA) Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Armindo dos Santos de Sousa Teodósio, mais conhecido como Téo, faz uma consistente avaliação sobre o movimento de responsabilidade social empresarial brasileiro. O pesquisador traça em entrevista exclusiva ao Responsabilidade Social.com um panorama sobre o tema, aponta as principais conquistas do Brasil na área e cita as dificuldades que as empresas brasileiras ainda enfrentam para adotar práticas socioambientais responsáveis.
Téo, doutor em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, destaca que a nossa legislação ambiental e de regulação de práticas empresariais irresponsáveis é uma das mais avançadas do mundo e que a fiscalização e punição da corrupção empresarial tem avançado. Entretanto, pontua que ao mesmo tempo em que se pode observar boas e interessantes práticas de responsabilidade social empresarial, paralelamente perduram posturas e ações do meio empresarial ainda pautadas no oportunismo antiético.
Armindo Teodósio é pesquisador das áreas de Gestão Social e Ambiental, Políticas Públicas e Estudos Organizacionais. Líder do Núcleo de Pesquisas em Ética e Gestão Social do PPGA da PUC Minas. Seus interesses de pesquisa concentram-se em organizações da sociedade civil, movimentos sociais, responsabilidade socioambiental de empresas, políticas públicas e desenvolvimento sustentável.
Responsabilidade Social – A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) realiza neste mês o Seminário de Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade. Qual a sua avaliação sobre a relação das empresas brasileiras com as práticas socioambientais?
Armindo Teodósio – O Brasil tem sido considerado por especialistas internacionais da importância de Michael Porter e Henry Mintzberg como um país de destaque no campo das práticas sociais e ambientais. Nosso país tem sido alvo da atenção de especialistas em desenvolvimento sustentável e responsabilidade social empresarial porque estariam reunidas aqui oportunidades, condições, vontades políticas e experiência para se promover formas mais responsáveis de gerar negócios, distribuir riquezas e promover a preservação ambiental. Nossa legislação ambiental e de regulação de práticas empresariais nefastas é uma das mais avançadas do mundo, a fiscalização e punição da corrupção empresarial tem avançado, os movimentos sociais e ambientais que atuam no país têm uma visão avançada em várias agendas de responsabilidade social empresarial e uma série de organizações empresariais como o Ethos e o Gife têm se esforçado muito para modernizar as práticas de responsabilidade social empresarial no Brasil.
No entanto, nem tudo são flores, e na realidade brasileira, ao mesmo tempo em que se pode observar boas e interessantes práticas de responsabilidade social empresarial, paralelamente perduram posturas e ações do meio empresarial ainda pautadas no oportunismo antiético, na conivência e pacto com a corrupção, no desrespeito aos direitos dos stakeholders e na agressão aos patrimônios ambientais e culturais. Ainda resta muito caminho a percorrer, mas bons exemplos e boas práticas são cada vez mais disseminadas por diferentes setores da economia brasileira, deixando um alento e boas expectativas quanto ao futuro.
RS – Na sua opinião, como essa temática avançou na última década? Quais foram as principais conquistas no Brasil? E os retrocessos?
AT – Nas últimas décadas, houve uma profissionalização bastante evidente das práticas de responsabilidade social empresarial e do investimento social empresarial. Profissionais especializados na área, ferramentas de gestão, estratégias e planos melhor elaborados de gerenciamento da responsabilidade social empresarial e do investimento socioambiental das corporações começaram a se difundir entre várias empresas e redes empresariais em atuação no país. Além disso, o tema da responsabilidade social empresarial deixou de ser um assunto acessório e secundário para estar presente e de forma central no discurso de lideranças empresariais e da própria sociedade. Em várias agendas de intervenção social empresarial, a preocupação com resultados e avaliação de impacto disseminou uma cultura de maior transparência, efetividade e busca de transformação social real não só entre as empresas, mas também entre seus parceiros da sociedade civil e do governo em projetos sociais e ambientais.
Infelizmente, mas como é bastante comum em vários processos de modernização acelerada de práticas sociais e empresariais, retrocessos, permanência de problemas históricos da intervenção social e mesmo a irresponsabilidade social e ambiental empresarial convivem com esses avanços. Houve uma aproximação entre empresas e comunidades, porém o diálogo entre as partes ainda é precário, cheio de vícios e dominado por uma lógica tecnocrática que coloca a boa gestão feita de técnicas e ferramentas gerenciais empresariais no centro de toda a relação com os stakeholders.
Assim, toda a riqueza da excelência das comunidades em encontrar soluções de cooperação social na solução de problemas sociais e ambientais acaba ficando em segundo plano e sendo desvalorizada pelas empresas, que são incapazes de reconhecer méritos gerenciais para fora de seus portões. O que hoje se chama de tecnologia social, muitas das vezes, é fruto da arrogância e centralidade técnica de empresas que impõem seu modus operandi de projetos às comunidades.
No que tange a agenda de investimento social empresarial, os temas que são alvo da ação das empresas continuam muito acanhados e restritos a temas pouco controversos, as vezes muito conservadores e pouco transformadores da sociedade. Educação, infância e adolescência e meio ambiente são as áreas de concentração de investimento social empresarial no Brasil. São áreas temáticas importantes, porém a agenda de direitos sociais e ambientais se tornou mais ampla e difusa e se renovou nos últimos anos. E as empresas não acompanharam esses avanços. Por isso, é muito raro encontrar investimentos sociais empresariais em públicos como a população em situação de rua, profissionais do sexo, grupos que sofrem com drogadição e comunidades que vivem em situação de insegurança pública.
No campo do investimento social empresarial, a presença de fundações empresariais fez com que os recursos para as ONGs ficassem mais raros e escassos, visto que ao invés de efetivamente representar um avanço no volume de recursos para projetos sociais e ambientais, as fundações empresariais passaram a concorrer com outras ONGs já estabelecidas na captação de fundos públicos e internacionais.
Por fim, cabe destacar que o meio empresarial brasileiro ainda pauta seu discurso em uma lógica de deslegitimação do Estado e crítica sistêmica a tudo e todos que têm origem no governo. Com isso, o investimento social empresarial torna-se um substituto e não um complemento ou um apoio para a conquista de níveis mais avançados de investimento governamental nos direitos sociais e ambientais. E isso é trocar uma forma de assistencialismo e paternalismo por outra. Se antes vinha do Estado, agora vem de grandes empresas provendo equipamentos e serviços sociais para comunidades, que continuam sem poder de lutar efetivamente por seus direitos e sem a compreensão de que o que recebem não é doação ou favor empresarial, mas a realização de seus direitos sociais através do investimento social empresarial. Ainda assim, algumas empresas têm olhado com coragem para esses problemas e avançado. Um exemplo são aquelas empresas que começam a trabalhar com o desenvolvimento de territórios e não apenas com agendas específicas de intervenção social e ambiental.
RS – Muitos especialistas acreditam que há muito mais modismo do que realmente práticas sustentáveis sendo desenvolvidas. Você acha que todo esse movimento é oportuno? Ou oportunista?
AT – Não vejo modismo na difusão da responsabilidade social e ambiental empresarial. Acho que o diagnóstico sobre modismo da RSE é superficial, equivocado, mal feito e muitas vezes mal intencionado. Mas, ao contrário da postura que muitos defensores acríticos da RSE adotam, não é possível deixar de reconhecer que há casos de oportunismo, como sempre há em qualquer sociedade complexa e interligada, como são as sociedades contemporâneas.
Não se pode falar de modismo ou oportunismo porque a RSE não é fruto apenas do desejo das empresas ou da boa (ou má) índole de suas diretorias. A responsabilidade social e ambiental empresarial, no Brasil e no mundo, é fruto de vários fatores históricos, que vão desde a pressão de ONGs competentes, com grande reputação junto a sociedade e agressivas no controle social das empresas, passando pelo surgimento de leis mais rígidas e efetivas contra a irresponsabilidade social e ambiental empresarial até chegar na compreensão cultural mais ampla que a sociedade tem hoje dos problemas sociais e ambientais planetários. Paradoxalmente e contraditoriamente, quem afirma que RSE é oportunismo, tentando ser crítico quanto às empresas, acaba por colocar as corporações em um lugar que elas tentam ter, mas felizmente nunca conseguem atingir completamente em qualquer sociedade, um papel de poder total, capaz de fazer apenas o que quiserem e manipular a tudo e a todos. Caso isso aconteça, aí sim, temos uma grave ameaça à democracia.
Imaginar que as empresas são capazes de tudo fazer, a despeito do controle da sociedade me parece um equívoco analítico e interpretativo grave. Empresas, antes da busca pelo lucro, precisam legitimar junto à sociedade suas práticas, produtos e serviços. Sem isso, elas não sobrevivem em nenhum ambiente social. E, felizmente, nos últimos anos e de forma acelerada, a compreensão sobre o que as empresa podem e não podem fazer de forma legítima tem se alterado de forma importante, considerando seu papel social e ambiental de maneira mais central ainda. Hoje é muito difícil uma empresa justificar sua ação em um território, impactando uma comunidade, por menor que seja essa comunidade e esse território, apenas com o discurso que vai gerar emprego, renda e impostos. Diferentes stakeholders têm diferentes e cada vez mais exigentes expectativas quanto ao papel social e ambiental desempenhado pelas empresas para além do simples e obrigatório ciclo de gerar produtos e serviços, emprego, renda e salários.
RS – Como avaliar quem é sério e quem apenas faz propaganda?
AT– Sempre há o risco de se associar uma boa avaliação e imagem às empresas que efetivamente pouco fazem pela responsabilidade social e ambiental empresarial. Balanço social, que em tese deveria servir para separar o joio do trigo, se transformou numa forma pasteurizada de fazer apologia da própria empresa. O GRI também padece de sérios problemas. Aqueles que conhecem sua dinâmica interna estão plenamente cientes desses problemas, apesar de pouco fazerem em termos de mobilização política para alterá-lo ou superar seus problemas intrínsecos e extrínsecos. Então, para quem quer efetivamente descobrir as efetivas práticas ambientais e sociais de uma empresa, em primeiro lugar deve dar pouca ou nenhuma atenção a balanços sociais, a prêmios e selos concedidos por instituições pouco conhecidas e que não tenham em sua constituição a participação em igual proporção de organizações empresariais, da sociedade civil e do governo. Além disso, é sempre bom estar atento ao que organizações sérias e prestigiosas de defesa dos direitos do consumidor como o Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] e ONGs combativas como a Anistia Internacional e o GreenPeace falam de determinadas empresas e dar menor atenção a procedimentos, ferramentas, prêmios, consultorias e outras formas de avaliação da responsabilidade social empresarial criadas pelas empresas e para as empresas.
RS – Que visão o senhor tem hoje do cenário mundial do ponto de vista da responsabilidade socioambiental e como o Brasil se insere nesse contexto?
AT – O Brasil é visto hoje como um dos países que detém alguns dos melhores fundamentos para a promoção do desenvolvimento sustentável. É recorrente na cultura brasileira a ideia de não somos uma nação capaz de avançar. Essa crítica à brasilidade é compensada, de tempos em tempos, por um ufanismo também despropositado, no qual, ao contrário de sermos um país sempre complicado e cheio de problemas graves e intransponíveis, nos tornamos o país no qual tudo acontece.
Tornamo-nos a pátria da flexibilidade, ginga, jeitinho, inovação e superação. Para além dessas idiossincrasias do ser brasileiro, se nos compararmos a outras economias emergentes, como Índia, China, África do Sul e Rússia, temos melhores fundamentos em termos de institucionalização da democracia, inclusão social de parcelas expressivas da população, reconhecimento e garantias de direitos sociais de populações em vulnerabilidade social e ambiental, redução da desigualdade social e preservação do patrimônio ambiental. Porém, nossas mazelas nesses campos ainda são enormes. Perduramos ainda como um país com problemas de participação popular na democracia deliberativa, forte preconceito contra pobres, negros, mulheres, homoafetivos, indígenas e outros grupos sociais estigmatizados, desigualdade socioeconômica expressiva e degradação ambiental.
Em comparação com outras nações de capitalismo avançado, faltam políticas industriais mais agressivas capazes de sinalizar a reconversão da matriz energética para fontes mais sustentáveis e investimentos mais planejados em educação para a sustentabilidade, ações que os Estados Unidos, por exemplo, apesar de todas as suas mazelas contemporâneas, têm realizado com muito mais arrojo que o Brasil. A riqueza de recursos na matriz do carbono e do petróleo também acabam levando a poucos esforços em termos de reconversão da matriz energética.
Ainda assim, pela inovação e capacidade de construir arranjos socioambientais capazes de promover eixos de desenvolvimento sustentável, como por exemplo, na importante trajetória brasileira de reciclagem com inclusão social e produtiva, o Brasil assume relevância no contexto internacional contemporâneo.
RS – Quais são, na sua opinião, as principais dificuldades que as empresas brasileiras ainda enfrentam para adotar práticas socioambientais responsáveis?
AT – Muitas são as dificuldades. As maiores delas, criadas pelas próprias empresas ou por imenso mercado de consultoria desenvolvido para dar vazão à sustentabilidade e a responsabilidade social empresarial, mas que é repleto de profissionais pouco capazes, oportunistas, tecnicistas e sem experiência com questões sociais e ambientais. Geralmente, o perfil desse tipo de profissional é baseado em formação na área de gestão (Administração, Contábeis, Economia e Relações Públicas), muitas ferramentas técnicas de gestão, linguagem empresarial de negócios e muito ‘achismo’ e pouca experiência efetiva em dialogar e intervir em comunidades.
Dentre várias dessas dificuldades, podemos listar o fato de não conseguirem operar em ambientes de conflito, tendendo a impor uma lógica cooperativa e de desqualificação de grupos sociais que fazem oposição à empresa; inexperiência em elaborar planos e metas que operem efetivamente a partir da lógica e da realidade temporal de alcance de objetivos da comunidade e não da própria empresa; desconhecimento de mecanismos de avaliação de projetos sociais e ambientais cuja experiência e expertise vêm da área da administração pública, como a avaliação de efetividade e de impacto; e a ausência de exemplo da alta diretoria das empresas, sempre afoita em promover voluntariado para os outros, mas nunca para si.
RS – Quais estratégias os líderes e organizações estão adotando para se posicionar de maneira competitiva no mercado brasileiro?
AT – Em primeiro lugar, cabe destacar que a ideia de que líderes são capazes de promover a sustentabilidade e a responsabilidade social e ambiental é extremamente questionável e frágil. Trata-se, na verdade, de uma incorporação de um ethos norteamericano de viver em sociedade e conduzir negócios, centrado na ideia-força do “homem que se faz a si mesmo”. Na tradição brasileira, o culto ao líder pode remeter termos da responsabilidade social empresarial aos mesmos problemas de paternalismo, assistencialismo e desconstrução da cidadania que aconteceram e acontecem em nossa história política e social com os líderes governamentais.
Assim, paradoxalmente, no Brasil líderes empresarias criticam uma suposta presença anticidadã da figura do ex-presidente Lula junto à população de baixa renda, se fazendo um caudilho dos pobres, ao mesmo tempo em que não perdem um flash das câmeras de jornalistas mais interessados em captar recursos a partir do culto a líderes do que em promover a efetiva sustentabilidade nas empresas. Mano Brown com sua lapidar frase, “não acredito em líderes, só nas pessoas”, e Bertold Bretchet com seu aforismo “feliz a nação que não precisa de heróis”, deveriam ser mais lembrados quando estamos tentando construir processos mais robustos e consistentes de responsabilidade social empresarial e sustentabilidade no Brasil.
Mais interessante do que falar e pensar em líderes é trabalhar com outras tradições de análise do processo de liderança que operam a partir da ideia de “liderança sem líderes”, como o fazem pesquisadores da qualidade de Sonia Ospina e Andrew Pettigrew. Nessa abordagem, não existem líderes, mas sim liderança, ou seja, processos nos quais os atores sociais contribuem e cooperam de forma a alcançar resultados social e ambientalmente relevantes, tendo muitas vezes alternâncias de protagonistas, sejam eles indivíduos ou organizações. No entanto, na lente pouco crítica e autocentrada de líderes empresariais e empresas que falam em stakeholders, mas continuam pensando o mundo a partir de si mesmos, ou seja, se fazendo centro da realidade, tratar da liderança sem líderes é quase uma heresia. Esse é um problema grave da responsabilidade social empresarial que se desenvolve a partir da cultura política e gerencial brasileira.
Quanto às estratégias competitivas, as corporações mais preparadas e atentas às transformações contemporâneas já percebem que é preciso entender e operar melhor junto à população de baixa renda, que muitos chamam de “Nova Classe Média” ou então de “Base da Pirâmide”; desenvolver novas formas de geração de energia em bases mais leves e sustentáveis; e conceber negócios a partir das lógicas de compartilhamento, doação e colaboração e não só a partir da propriedade intelectual, venda e competição.
As empresas realmente interessantes atualmente e com melhores condições de sustentar sua capacidade competitiva no futuro estão operando e aprendendo com comunidades e populações supostamente despreparadas, mas que na verdade muito capazes e sábias, como desenvolver negócios junto aos pobres, compartilhar e não apenas deter direitos de propriedade, atuar a partir de energias leves e renováveis, e agir em colaboração com governos, ONGs, empresas e até mesmo concorrentes. Infelizmente, tudo isso é muito inovação para a maioria das empresas, que acabam fazendo alguma coisa um pouco melhor do que faziam antes pela sociedade e pelo meio ambiente, mas muito aquém do que poderiam efetivamente fazer se fossem capazes de efetivamente inovar e se reinventar para além do discurso de que são inovadoras, sustentáveis e socialmente responsáveis. Aqui reside a diferença entre sustentabilidade e a falácia da “economia verde”, como bem destaca o brilhante Ricardo Abramovay em seu livro essencial “Além da Economia Verde”.
RS – Como avançará agenda de Responsabilidade Social Empresarial no Brasil na próxima década?
AT – É extremamente difícil antecipar tendências. Muitas vezes, no campo dos negócios, vários consultores e pesquisadores mais interessados em vender palestras, livros e consultorias se arvoram a produzir prognósticos muito badalados e pouco consistentes, tentando adivinhar o futuro. São os novos adivinhos, ou o mercado mesmo chama, os gurus do século XXI. Assim como havia adivinhos e gurus nas sociedades tradicionais, hoje padecemos com esses gurus remunerados a preço de ouro por empresas, eventos e pelo seu sucesso na venda de livros com pouco conteúdo e consistência. No campo da responsabilidade social empresarial também há muitos desses gurus, os quais mais vale a pena esquecer e fingir que não existem, dado o alto grau de charlatanismo em seus prognósticos.
A despeito disso, acho que é bastante razoável imaginar que na próxima década as empresas sofrerão muito mais pressão para desenvolverem boas práticas sociais e ambientais, esclarecer seu envolvimento com práticas de corrupção junto ao governo, explicar práticas trabalhistas que infligem o trabalho decente, deixar mais claros seus impactos efetivos sobre comunidades e territórios em que operam e promover a mudança tecnológica em direção à eco-efetividade.
Em termos do cenário social e político, é bastante provável que o controle social sobre qualquer tipo de organização de grande porte, seja ela empresarial, governamental ou mesmo não-governamental seja ainda maior que hoje, derivado da insatisfação com a qualidade de vida das cidades e que tomou as ruas com as recentes passeatas no país.
A oferta de produtos e serviços para populações localizadas mais abaixo na escala social (pobres e classes médias próximas à pobreza) precisará ser baseada em melhor padrão de serviços, inclusive do ponto de vista ambiental, para não impactar ainda mais o consumo de recursos naturais não renováveis.
A agenda de direitos civis ligados à raça, gênero, orientação ou opção sexual, etnia, etc., estará mais presente e em debate na sociedade brasileira e exigirá uma renovação das práticas e políticas de gestão de pessoas, de forma a não apenas passar ao largo de tais questões, como acontece hoje na maioria das vezes, mas lidar diretamente e corajosamente com isso no cotidiano das organizações.
RS – Qual o seu entendimento do termo ‘responsabilidade social’?
AT – Responsabilidade Social Empresarial refere-se a um conjunto de ações, políticas e estratégias, mais articuladas ou menos articuladas e até mesmo desarticuladas, promovidas por empresas de forma a atender demandas sociais e ambientais relevantes para as sociedades nas quais se inserem. Essas práticas e estratégias não são protagonizadas apenas por grandes corporações, mas também estão presentes na ação de pequenas e médias empresas, que investem mais em termos proporcionais ao seu faturamento em projetos sociais e ambientais do que grandes empresas no Brasil, conforme apontam estudos como o do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea).
Além disso, cabe destacar que apesar do discurso de modernização da intervenção das empresas sobre os problemas sociais e ambientais, perduram práticas antigas e posturas arcaicas e ultrapassadas, como o assistencialismo e o centralismo técnico mesmo dentro de esquemas que se propõem a ser inovadores e transformadores em termos de responsabilidade social empresarial. Por fim, é importante destacar que múltiplos fatores e não apenas um único fator ou uma orientação principal levam as empresas a desenvolverem ações, políticas e estratégias de responsabilidade social empresarial. Os principais fatores são a pressão social e das ONGs por melhores práticas socioambientais, a difusão de marcos regulatórios mais rígidos quanto a desvios éticos, sociais e ambientais das empresas, os diferentes ganhos competitivos para o próprio negócio derivados das inovações sociais e ambientais e a mudança de valores da alta gerência das empresas e da própria sociedade.
Armindo dos Santos de Sousa Teodósio: armindoteodosioblog.blogspot.com.br
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