
Por Rafael Eichemberger Ummus
Ao longo das últimas décadas assistimos o paradigma ambiental ser gradativamente internalizado pelas empresas. Ao controle de poluentes e licenciamento ambiental da operação somaram-se a gestão de resíduos, programas de redução de consumo de água, energia e matérias primas, a preocupação com a cadeia de suprimentos, e, mais recentemente, o investimento social e ambiental. No entanto, vivemos no Brasil, onde altos índices de informalidade, pulverização de fornecedores e baixa produtividade ainda são fantasmas que nos assombram. Implementar essas práticas simples de gestão ambiental ainda é um desafio a ser vencido. E quando implementadas, nos deparamos com o desafio de integrar estas práticas entre si e com o funcionamento da parte “produtiva” do empreendimento. Estas ações, destacadas dos negócios, dificilmente são monitoradas, avaliadas e comunicadas de modo plenamente efetivo. Soma-se a esse quadro o cenário atual de recomoditização da economia brasileira, esfacelamento do estado e múltiplas crises de governança.
Diante disso, para nós que estamos pensando e fazendo a sustentabilidade empresarial no país, que alertas se destacam no nosso radar de futuro?
Em primeiro lugar eu diria que nesse contexto reforça-se o papel de inovação e atuação socioambiental dos atores privados. Cada vez mais as empresas devem gerenciar seus riscos de modo mais ativo e abrangente, o que significa cultivar seu ambiente ecológico e social tendo em vista a sustentabilidade de operações e resultados. Trata-se de reconhecer que as empresas não estão isoladas na sociedade, mas sim imersas em um contexto social e ecológico que é vital para sua manutenção enquanto organização lucrativa. É mais do que simplesmente atender às regulamentações, a dimensão socioambiental é agora uma questão de negócio.
Em um cenário de aquecimento global onde já perdemos as esperanças de ficar no limite minimanente aceitável de 2 graus centígrados e às vésperas da vigésima primeira Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas da ONU, a COP 21 que vai acontecer ano que vem em Paris, o mundo será chamado a ajustar-se a uma economia de baixo carbono. Taxações sobre combustíveis fósseis e sobre processos intensivos em emissão de carbono podem mudar o panorama geopolítico e fazer a dimensão ambiental se tornar cada vez mais um diferencial de mercado, além de ser um diferencial de imagem.
A importância de comunicar os resultados socioambientais e de integrá-los estruturalmente ao negócio ganha força no conceito de Relato Integrado, já adotado por empresas de vanguarda, onde a dissociação entre negócio e investimento socioambiental desaparece. Trata-se da internalização plena da dimensão ambiental ao funcionamento da empresa, em um modelo que tende a se converter em importante instrumento de gestão e comunicação com acionistas, clientes e público em geral. Considera-se a totalidade de capitais essenciais para o négocio, e monitoram-se os estoques e fluxos ao longo do tempo e das políticas internas.
Observa-se também uma tendência de aumento nas parcerias entre empresas e ONGs, em detrimento das parcerias entre Governos e ONGs, o que é esperado diante da fragilização do Estado brasileiro.
O profissional de sustentabilidade será cada vez mais solicitado, e terá como desafios encontrar soluções inovadoras e integradas, do ponto de vista técnico e social. Este profissional cada vez mais será um moderador e negociador entre distintos interesses, dentro e fora da empresa, e precisa saber operar em um ambiente multicultural, complexo e diante de múltiplos pontos de vista válidos.
Para além de práticas isoladas e destacadas do negócio-nucleo, o futuro chama as empresas a posicionarem-se de modo assertivo e inovador, no sentido de inspirar e guiar a sociedade para a sustentabilidade. Apesar de estarmos chegando de um passado onde as empresas tinham que “se defender” da sociedade, no futuro próximo elas adotam uma postura pró-ativa e de liderança. Contribui para isso uma nova geração de executivos da sustentabilidade, ocupando cargos chave.
Diante das incerteza inerentes ao mundo dos negócios, resta perguntar o quanto resilientes estas posturas são diante das flutuações econômicas e políticas. A sustentabilidade empresarial será capaz de sobreviver ao mercado? Diante de potenciais cenários de redução de custos, qual o grau de prioridade dado às interações sociais e ambientais da empresa?
No entanto, apesar do otimismo, na escala biosférica ainda notamos uma constante degradação das condições ambientais. Manter condições mínimas para nossa qualidade de vida ainda depende de negociações amplas entre os vários setores da sociedade.
Rafael Eichemberger Ummus é Bacharel e licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo e Mestre em Ciência Ambiental pelo PROCAM-USP.
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