
Cena comum de nossas grandes cidades
Em mais uma tarde de ócio do ano de 1998, a auxiliar de enfermagem e desempregada Sônia da Silva assistia televisão quando ouviu uma frase solta num programa de entrevistas: “O lixo é a solução do mundo”. A expressão partiu de um sociólogo que Sônia não lembra o nome, porém lhe despertou a curiosidade e a fez perceber que aquilo poderia ser, de fato, uma boa idéia.
Durante um longo período, Sônia e amigos da vizinhança procuravam uma alternativa para dar fim àqueles dias sem ter o que fazer e, pior, sem salário no fim do mês. Moradora do Riacho Fundo – uma cidade satélite do Distrito Federal – Sônia uniu-se a outros moradores do bairro recém-criado e procurou orientação no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Eles queriam saber o que deveriam fazer para ganhar dinheiro com o lixo. Lá, encontraram apoio imediato e, rapidamente, estavam sendo encaminhados a aulas nos cursos de capacitação em coleta seletiva e artesanato de produtos reciclados.
Hoje, quatro anos depois, aquela frase solta deu origem à maior cooperativa de lixo do DF – a 100 Dimensão. Ela é formada por 130 pessoas, entre elas, muitos catadores de lixo que se dividem no trabalho de coleta seletiva e artesanato. Os materiais aproveitados são papéis, metais, vidros e plásticos. No artesanato, são desenvolvidas peças recicladas de ferro, esculturas, papel reciclado, luminárias, mesas, relógios, estantes, painéis de ambientação, entre muitos outros.
A resistência inicial de alguns cooperados em abrir sacos de lixo foi eliminada com profissionalismo e treinamento. “Depois das aulas, cada um recebeu roupas especiais e luvas protetoras. Todos passaram a ver o lixo de uma forma diferente”, explica Sônia, que ocupa o cargo de presidente da 100 Dimensão. Por mês, a cooperativa coleta 80 toneladas de lixo e alcança um faturamento total de R$ 40 mil. Entre os principais locais que doam seu lixo para a 100 Dimensão, destacam-se a sede do Sebrae Nacional, o prédio da Presidência da República e o Supremo Tribunal Federal (STF).
Para 2003, a 100 Dimensão tem o objetivo de trazer novos catadores de lixo independentes para o grupo e mudar as instalações da cooperativa (que atualmente funciona num local com tamanho bastante limitado) para um terreno de sete mil metros quadrados, já prometido pelo governo local. “Ao mudar para esse novo endereço, poderemos ampliar nossa captação de lixo e oferecer oportunidade de trabalho para outros 400 catadores que já estão registrados na nossa cooperativa”, explica Sônia.
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