Apesar de portar um nome de homem branco, Francisco de Moura Cândido é filho de cacique, da comunidade Apurinã, localizada no sul do Amazonas. Ele nasceu para ser caçador e viver na floresta, mas, aos 10 anos, saiu da tribo e iniciou os estudos na cidade de Boca do Acre (AM).
Depois de ter concluído o ensino médio, em Roraima, graduou-se e, no mês passado, aos 39 anos, entrou para a história da Universidade de Brasília (UnB). Ele faz parte do primeiro grupo de 13 índios a concluir o mestrado em sustentabilidade junto de povos e terras indígenas.
Com o trabalho “BR-364: análise da sustentabilidade das medidas mitigatórias e compensatórias na terra indígena Colônia 27 no estado do Acre”, Francisco pretende manter a pesquisa realizada há 12 anos em diversos povos. “O Acre tem 37 terras indígenas e 209 aldeias, tenho o privilégio de conhecer todas. A experiência fundamentou meu mestrado e ajudará a estabelecer o diálogo entre o científico e o cultural”, analisou.
A partir do estudo, avaliou os pontos positivos e os negativos nas compensações decorrentes do estudo e produziu alternativas. “Quando se fala em medidas de mitigação e compensação, entende-se que são ações pontuais, mas é necessário ter ações continuadas. Não adianta construir uma escola, por exemplo, e não qualificar professores”, exemplifica. “Como índio, lutarei por isso porque essa é a melhor maneira de ajudar o meu povo. Nasci para ser caçador, mas, por meio dos estudos e da qualificação, encontrei a maneira de fazer a diferença”, completou.
Francisco enfrentou um curso com duração de 22 meses e carga horária de 420 horas. Estudou com alunos de perfis e ideais parecidos. Os mestrandos trabalham em consultorias, órgãos do governo ou com as aldeias, e o programa fornece instrumentos para quem atua em defesa dos interesses indígenas. Ele contou com a participação de lideranças como pajés e caciques, além de professores doutores da UnB, entre outros. Cinco estudantes defenderam a dissertação em dezembro, e o segundo ciclo de apresentações será concluído no fim deste mês.
O curso é uma iniciativa pioneira da UnB por disponibilizar 50% das vagas para índios, trabalhar a sustentabilidade de forma insterdisciplinar e ter a participação de professores indígenas no programa. Criada em 2010, a seleção para integrar o grupo de novos mestres foi a mais concorrida da pós-graduação nos últimos tempos: cerca de 170 candidatos disputaram 26 vagas: 13 para índios e outras 13 para não índios que trabalham no setor.
Todo o aprendizado e a interação entre culturas e dissertações concluídas só ocorreram devido às parcerias firmadas com o programa. O apoio dos ministérios da Cultura e da Defesa, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e da United States Agency for International Development (Usaid) possibilitou que os estudantes recebessem bolsas e apoio logístico para a formação.
Até o dia 04 de fevereiro, a UnB recebe as inscrições para o vestibular destinado a estudantes indígenas. Para 2013, estão abertas 10 vagas para o primeiro semestre e 10 para o segundo, nos cursos de agronomia, ciências biológicas, ciências sociais, enfermagem, engenharia florestal e medicina. As inscrições são gratuitas. As provas objetivas e a redação serão aplicadas em 9 de março. A seleção faz parte de um convênio firmado em 2004 entre a UnB e a Fundação Nacional do Índio (Funai). As regras estão disponíveis nesse link.
(Responsabilidade Social com informações do Correio Braziliense)
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