Arte e dança estimulam afetividade e auto-estima de mais de 200 crianças e adolescentes carentes da Barragem Santa Lúcia, em Belo Horizonte
“Eu nem queria ser bailarina. Achava que a dança era uma bobagem de menina rica antes de entrar aqui”, diz Liliane Xavier Martins, 10 anos, referindo-se ao projeto social Reinventando a Escola. Entre outras atividades, esse projeto oferece oficinas de dança com professores do Grupo 1º Ato para mais de 180 crianças e adolescentes carentes da Barragem Santa Lúcia, na periferia de Belo Horizonte. “Mas quando entrei na sala de aula e vi aquele espelho enorme e aquelas fotos de gente dançando nas paredes achei tudo tão lindo que resolvi uma coisa para minha vida: quero ser bailarina”, resume a bela menina, com um sorriso no rosto.
O depoimento de Liliane, bem como de milhares de outras crianças integrantes de projetos sociais, revela uma vitória para aqueles que acreditam nessas iniciativas como ferramentas importantes para, senão mudar a difícil realidade de todos os envolvidos, ao menos proporcionar novas perspectivas de vida e a esperança num futuro mais promissor para muitos dos integrantes. E o primeiro passo para que isto ocorra é estimular a auto-estima das crianças, oferecendo-lhes atividades prazerosas que as façam acreditar em sua própria capacidade e descobrir novas potencialidades, a exemplo de Liliane que descobriu o gosto pelo balé e passou a apostar num destino diferente.
Outro aluno das aulas de dança do Reinventando a Escola, Rodrigo Alves Venâncio, de 12 anos, não tem o mesmo sonho de Liliane mas garante que a dança lhe ajuda a alcançar seu objetivo: ser jogador de futebol. “Achava que balé era coisa de mulher, mas hoje sei que ele me ajuda a esticar mais o corpo para ser um bom jogador”, observa. Rodrigo nem quer ser bailarino, mas passou a acreditar mais em si mesmo, na força e flexibilidade de seu corpo, através da oficina de dança.
“A valorização crescente da auto-estima em alguns alunos é visível. Muitos entraram tímidos e foram ganhando confiança. Outros aprenderam a levar mais a sério a disciplina”, afirma Suely Machado, diretora do Grupo de Dança 1º Ato. “Iniciamos o trabalho priorizando a auto-estima do aluno, o cuidado com seu uniforme, seu cabelo, seu corpo (instrumento para uma vida mais saudável), a disciplina, o limite, o toque, a respiração que oxigena o corpo, a cabeça e o coração. Uma condição para uma postura segura diante da vida”, completa.
Integrante da oficina de artes culinárias, também promovida pelo projeto, Lucas Santos Souza, de 11 anos, é mais um exemplo de que investir na auto-estima das crianças pode gerar resultados muito positivos. Ele conta que, depois que aprendeu a fazer quitutes na oficina, passou a ajudar a mãe na cozinha e a receber elogios da família pelos pratos. “Acho legal homem cozinhar. Ainda quero aprender a fazer pizza”, diz ele, que já faz biscoitos de limão e pãezinhos doces para cozinheiro nenhum botar defeito.
Por promover mudanças como essas na auto-estima das crianças, o projeto foi uma das apostas do Instituto Junia Rabello, ligado ao Banco Rural, que este ano apoiou 20 projetos sociais em todo o Brasil. “A idéia do Instituto é apoiar iniciativas já existentes e que necessitam de ajuda para darem continuidade às suas ações”, afirma a presidente da entidade, Leda Rabello.
O Reinventando a Escola é dedicado aos alunos da Escola Estadual Dona Augusta, dentro da Barragem Santa Lúcia, e conta com a parceria da Cultura Inglesa, que promove aulas de inglês, e do Grupo de Dança 1º Ato, cujos professores ministram as aulas de dança. A missão do projeto é manter as crianças em tempo integral na escola através de aulas de dança, artes plásticas, artes culinárias e de língua estrangeira. Para estimular os alunos a permanecerem na escola a fim de participarem das aulas de dança, este ano o 1º Ato passou a oferecer merenda.
Cinco anos após sua criação, o Reinventando a Escola receberá do Instituto Junia Rabello R$ 50 mil em 2005 e poderá melhorar sua estrutura que começou com 80 crianças, atende hoje 200 e tem demanda de 560 alunos para o período integral. No entanto, a mais gratificante recompensa vem das mudanças positivas nas crianças e adolescentes envolvidos. “Quando se investe na afetividade e no emocional das crianças, até a alfabetização é melhor porque em casa eles não têm ambiente para a aprendizagem e a escola tem que suprir essa carência”, afirma a coordenadora e idealizadora do projeto, Nádia Cistina Pereira, da Escola Dona Augusta.
Primeiro Ato – Tel.: (31) 3296-4848
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