José Mindlin
Quem disse que a responsabilidade social não envolve também a cultura? É nesse sentido que a 20ª ediçãode nossa revista homenageia um dos maiores patronos da cultura brasileira, o empresário e bibliófilo José Mindlin, ex-Secretário Municipal de Cultura de São Paulo e Conselheiro da Fundação Vitae.
Filho de imigrantes russos, Mindlin tornou-se empresário por acaso. José Mindlin, na verdade, começou sua carreira como jornalista. Aos 15 anos foi contratado como repórter de O Estado de S.Paulo e participou da Revolução de 1930. Como era um dos poucos no jornal que falavam inglês, o dono de O Estado, Júlio de Mesquita Filho, o encarregava de passar informações por telefone aos revolucionários no Rio de Janeiro, driblando os censores monoglotas.
Posteriormente, Mindlin se formaria em direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Formado, ele atuou 15 anos como advogado. Durante o Estado Novo, defendeu imigrantes europeus que tentavam ingressar no Brasil, fugindo da Segunda Guerra, mas tinham sua entrada negada pelo governo. Em 1950, alguns clientes o procuraram para redigir um contrato de sociedade com uma fabricante alemã de pistões – em temp são peças cilíndricas que “sugam” o combustível permitindo o funcionamento do motor. Como os clientes desistiram do negócio, Mindlin não perdeu a oportunidade e assumiu o compromisso. Juntou-se a outros quatro empreendedores e fundou a Metal Leve – nome escolhido em homenagem ao alumínio, matéria-prima do produto. Começou com 50 funcionários. Não demorou até que Juscelino Kubitschek chegasse à Presidência e, na esteira do desenvolvimento da indústria automobilística, a Metal Leve se tornasse uma potência no setor de autopeças.
“Uma loucura mansa”. É assim que o bibliófilo José Mindlin define sua paixão pelos livros. Por amor a eles, é capaz de passar 20 anos atrás de um exemplar raro, como aconteceu com a primeira edição de O Guarany, de José de Alencar. A obsessão começou quando era menino e hoje, aos 89 anos, está expressa numa imensa biblioteca particular de mais de 30 mil volumes que não pára de crescer.
O empresário ensina que a mais importante qualidade de um bibliófilo não é a fortuna, ou a erudição, mas a paciência. Formar uma biblioteca como a de Mindlin é obra de uma vida inteira e resultado de muito conhecimento, paciência e esforço, sem falar em dinheiro. A pedra fundamental dessa Alexandria dos trópicos foi lançada quando ele tinha 13 anos e comprou o Discurso sobre a História Universal, de Jacques Bossuet, em edição portuguesa do século 18. O conjunto inclui desde manuscritos dos Sermões do Padre Vieira a edições originais de relatos das primeiras viagens de cunho científico pelo Brasil, como a de Hans Staden; das cartas de dom Manuel ao papa aos originais revistos de Grande Sertã Veredas e Sagarana, de Guimarães Rosa, e de dezenas de grandes obras da literatura brasileira.
José Mindlin, ganhador do Prêmio Unesco para Cultura em 2003, também é autor do livro “Uma vida entre livros – reencontros com o tempo”, obra confessional em que relata sua longa paixão pelos livros.
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