
História de Dorina Nowill foi marcada por luta e superação
País perde mulher referência mundial na luta pelo direito dos cegos
O Brasil perdeu no último dia 29, a mulher símbolo da luta pelos direitos das pessoas com deficiência visual. A pedagoga Dorina de Gouvêa Nowill morreu aos 91 anos, em decorrência de uma parada cardíaca, após 15 dias de internação devido a uma infecção. Casada havia 60 anos com o advogado Edward Hubert Alexander Nowill, ela deixou cinco filhos, 12 netos e três bisnetos.
A história de Dorina foi marcada por ousadia, luta e superação. Cega desde os 17 anos, por conta de uma infecção ocular, Dorina foi a primeira aluna cega a frequentar um curso regular. Sua persistência foi decisiva na abertura das portas das escolas de todo o país para estudantes cegos.
Conhecida pelo seu espírito guerreiro, ainda estudante, Dorina conseguiu que a Escola Caetano de Campos, onde estudava, implantasse o primeiro curso de especialização de professores para o Ensino de Cegos, em 1945. Esse só foi o início de uma vida dedicada à inclusão das pessoas com deficiência visual.
Após diplomar-se, viajou para os Estados Unidos para frequentar um curso de especialização na área de deficiência visual na Universidade de Columbia. De volta ao Brasil, a pedagoga dedicou-se ao trabalho pioneiro da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, e à implantação da primeira imprensa braille de grande porte no país. Em 1991, a fundação recebeu seu nome em reconhecimento ao seu trabalho.
O legado deixado por Dorina Nowill é extenso. Ela formou a maior rede digital em braille da América Latina, na Fundação Dorina Nowil Para Cegos, entidade criada por ela em 1946. A instituição, instalada em São Paulo, trabalha em prol da produção e distribuição de livros em braille e é responsável pela produção de 80% dos livros distribuídos pelo governo federal nas escolas que oferecem cursos especiais para cegos.
Mas vale ressaltar que o seu trabalho não se restringe à educação. Dorina sempre se preocupou com a prevenção da cegueira e com a inserção do cego no mercado de trabalho. Em 1954, conseguiu reunir no Brasil o Conselho Mundial para o Bem-Estar do Cego, com forte participação do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e da Associação Panamericana de Saúde.
Dorina também trabalhou com organizações mundiais de cegos e órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU), como representante do Brasil. Ocupou importantes cargos em Organizações Internacionais de Cegos. Em 1979, foi eleita Presidente do Conselho Mundial dos Cegos. Em 1981, Ano Internacional da Pessoa Deficiente, Dorina falou na Assembléia Geral da ONU e trabalhou para a criação da União Latino Americana de Cegos (ULAC).
Ainda no Brasil, Dorina dirigiu de 1961 a 1973, a campanha do Ministério da Educação para a inclusão dos cegos no sistema de ensino brasileiro. Ela também foi responsável pela criação na Secretaria da Educação de São Paulo do Departamento de Educação Especial para Cegos. Com o seu empenho, a educação para os deficientes visuais se transformou em atribuição do governo quando, em 1953, em São Paulo, e em 1961, na Capital Federal, o direito à educação ao cego foi regulamentado em lei.
Homenagens
O reconhecimento mundial da atuação da professora em prol do desenvolvimento e da inclusão social de pessoas com deficiência visual veio por meio de inúmeros prêmios, condecorações, títulos, comendas e outros concedidos por organizações do mundo todo, pelo governo brasileiro e por organizações brasileiras.
No Brasil, vale citar a personagem Dorinha, criada por Maurício de Sousa em 2007. Inspirada na educadora, Dorinha é uma das figuras da Turma da Mônica. No Distrito Federal, por exemplo, uma biblioteca pública leva o seu nome. A unidade instalada em Taguatinga é referência na capital e conta com um acervo extenso de obras em braille. Há livros de ficção, contos e didáticos.
Fundação Dorina Nowill – Telefone: (11) 5087.0999
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