
Em 1992, a pedagoga Cybele Amado de Oliveira deixou sua vida em Salvador para se tornar professora de língua portuguesa em Palmeiras, região rural da Chapada Diamantina (BA). Isso aconteceu apenas seis meses depois de ter visto as terríveis condições de uma escola daquela localidade, numa viagem de feriado para o distrito de Caeté-Açu.
Mesmo tendo vindo de uma família de classe média baixa, onde tudo precisava ser contado e dividido entre cinco irmãos, aquele não era o cenário com o qual estava acostumada. “Na hora em que entrei naquela escola pública, fiquei em choque”, lembrou, hoje, aos 45 anos.
Entre 1999 e 2000, Cybele, já pós-graduada em pedagogia, criava o Projeto Chapada, embrião do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), formado em 2006. Desde o início, o caminho escolhido foi o de articular professores, secretarias municipais, associações locais, a Secretaria Estadual de Educação e a iniciativa privada. Tudo com o objetivo de melhorar a capacidade de leitura e escrita dos alunos e a formação dos responsáveis por seu ensino.
O Icep, instituição sem fins lucrativos, trabalha com a formação continuada de professores, educadores e gestores educacionais, por meio da criação de redes colaborativas que envolvem todos os atores do processo educacional. Suas formadoras passam alguns dias em cada escola, onde trabalham com professores, coordenadores e supervisores, levando textos e criando grupos de discussão.
O instituto também incentiva a existência do coordenador pedagógico, figura fundamental para garantir a continuidade da proposta. Com foco em crianças do ensino fundamental 1 (do primeiro ao quinto anos), os projetos beneficiam, atualmente, cerca de 76 mil pessoas, entre educandos e docentes.
Com o passar dos anos, as atividades extrapolaram — e muito — a cidade de Palmeiras, sede do instituto. Ao todo, abrangem 22 municípios na Bahia e três em Pernambuco, por meio de várias parcerias com o poder público e a iniciativa privada. O resultado: além de aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nas cidades da Chapada — a média é de 4,32%, enquanto no estado da Bahia não passa de 3,9 —, a evasão escolar diminuiu de 50% para 1,9%.
“Minha história é uma rede colaborativa desde que nasci”, explicou Cybele. “Sempre vivi em espaços de reflexão, de cuidado, de pensar a vida e a transformação”, declarou a vencedora da 8ª edição do Prêmio Empreendedor Social, que na edição de 2012 registrou a inscrição de 335 líderes socioambientais, de 24 estados e do Distrito Federal.
O anúncio dos vencedores foi realizado no dia 7 deste mês, em São Paulo. A iniciativa é promovida no Brasil pela Fundação Schwab, em parceria exclusiva com a Folha de S.Paulo. A ideia é valorizar líderes sociais que atuam há pelo menos três anos de maneira inovadora, sustentável e com forte impacto na sociedade e em políticas públicas, em áreas como agricultura, ambiente, cultura, desenvolvimento de negócios, educação, habitação, saúde.
Criado em 2005, o prêmio já elegeu 228 empreendedores sociais em 59 países, o Empreendedor Social. Atualmente, a iniciativa é considerada o principal concurso de empreendedorismo socioambiental da América Latina e um dos mais concorridos do mundo.
“Esse é o prêmio da educação pública brasileira. Nós acreditamos nela, e o nosso país precisa muito voltar a fortalecê-la. A premiação vai nos ajudar a expandir a metodologia para mais territórios. Com isso, daremos mais força aos milhares de educadores da escola pública do Brasil que podem mudar para sempre a história de vida das nossas crianças, ensinando aquilo que elas precisam aprender”, disse.
Participação comunitária e expansão
Um dos mais inovadores projetos do Icep, a campanha Chapada e Semiárido pela Educação, se dá em anos de eleições. Consiste em mobilizar toda a população para influenciar políticas públicas locais. No chamado Dia E, candidatos dos municípios participantes recebem um documento com propostas da comunidade para a educação municipal. Após uma apresentação, assinam um termo para priorizá-las. Daí forma-se uma comissão de acompanhamento para garantir o cumprimento dos compromissos.
Em 2012, o trabalho do Icep chegou aos municípios pernambucanos de Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes, com o projeto Via Escola. Ele mescla frentes de formação continuada e mobilização pública, as duas principais vertentes de atuação do Icep. Entre os objetivos futuros estão a consolidação de um instituto de ensino superior (com o intuito de continuar a oferecer formação de qualidade a educadores) e o aumento de 500 escolas públicas beneficiadas para 2 mil, garantindo dentro delas 100% de alunos de até oito anos lendo e produzindo textos.
Por suas iniciativas, Cybele foi finalista de vários prêmios, como Experiência em Inovação Social, da Fundação W. K. Kellogg e da Cepal/ONU (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), em 2005, e do Prêmio Ashoka-McKinsey, em 2009.
Cybele Amado de Oliveira – Site: www.institutochapada.org.br
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