
O desafio da inclusão digital
ONG Viva Rio completa 10 anos de existência com a implementação do site “Viva Favela”. Por meio dele, os conhecimentos da informática e da Internet chegam aos bairros mais pobres do Rio de Janeiro. A principal atração é a contribuição dos moradores desses locais com a revista eletrônica que traz notícias do dia-a-dia da comunidade.
Em dezembro de 1993, o clima na cidade do Rio de Janeiro era de medo e indignação. Em meio às tensões políticas, perdas econômicas e crise social, a população sofreu com uma onda de seqüestros, o assassinato de oito meninos junto à Igreja da Candelária e a chacina de 21 pessoas em Vigário Geral. Em resposta, foi organizada uma mobilização em toda a cidade. No dia 17 de dezembro daquele ano, ao meio-dia, milhares de pessoas vestidas de branco fizeram dois minutos de silêncio e pediram paz. Nesta data nasceu o Viva Rio, uma organização não-governamental, sem fins lucrativos e apartidária que incentiva indivíduos, associações e empresas a construir uma sociedade mais justa e democrática.
Com o apoio da população, o Viva Rio desenvolve campanhas de paz e projetos sociais em cinco áreas: direitos humanos e segurança pública, desenvolvimento comunitário, educação, esportes e meio ambiente. Hoje, atua em cerca de 350 favelas e comunidades de baixa renda da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sempre em parceria com entidades locais, investindo principalmente nos jovens, mais vulneráveis aos riscos sociais, e buscando a superação da violência.
A mais nova sacada da ONG foi a criação do portal Viva Favela – uma iniciativa para oferecer, por meio da Internet, serviços, informações, divertimento e oportunidades de comércio para as comunidades de baixa renda. Como uma ponte virtual entre o asfalto e a favela, o portal oferece também outros serviços típicos da Internet como e-mail gratuito, salas de bate-papo e informações em tempo real. O portal funciona, ainda, como um gerador de informações sobre o meio comunitário, pouco conhecido e pouco explorado pela mídia, para os veículos de comunicação, os formadores de opinião e a população em geral. Uma das principais atrações do portal é a revista Comunidade Viva, uma revista eletrônica de variedades, produzida através de uma rede de correspondentes, baseados nas próprias comunidades, e também de contribuições espontâneas dos moradores. A equipe é formada por repórteres e fotógrafos – moradores de favelas e bairros pobres, supervisionados por uma equipe de jornalistas profissionais.
O Viva Favela é o primeiro portal da Internet a tratar exclusivamente de assuntos de interesse da população de baixa renda. Oferece ao internauta acesso a serviços, produtos e informações voltadas para a sua realidade social, como oportunidades de emprego, diversão, cultura, esportes, saúde, educação e noticiário. Além do conteúdo próprio, o Viva Favela hospeda outros websites de interesse dos jovens da periferia, como sites de hip hop, funk, samba, rádios comunitárias, entre outros, incluindo sites de projetos sociais e campanhas. A estratégia do Portal é integrar os principais sites de interesse do público jovem pobre do Brasil, oferecendo hospedagem gratuita, apoio tecnológico e apoio de conteúdo, e, ao mesmo tempo, oferecer mecanismos de inclusão social e de construção de uma cultura de paz e de solidariedade.
O resultado desse trabalho, feito em parceria entre correspondentes e jornalistas, prova que há muito mais para se contar sobre as favelas do que histórias de violência e narcotráfico. A pauta do Viva Favela cobre áreas tão diversas quanto cultura, esportes, serviços, diversão, economia, cotidiano. Um universo rico e praticamente ignorado. Isso, porém, está mudando. Desde que o Portal foi criado, em julho de 2001, seu conteúdo vem se tornando fonte de pautas para a mídia e de pesquisa para acadêmicos.
O Viva Favela ainda criou e hospeda o site Favela Tem Memória – que resgata a memória de comunidades do Rio, com reportagens, depoimentos de moradores e fotos históricas – e o site Beleza Pura, voltado para mulheres de baixa renda, com informações sobre beleza, saúde, direitos da mulher, debates sobre temas polêmicos e uma espécie de agenda virtual para divulgar o trabalho de artistas e modelos de comunidades.
Por tudo isso, o Viva Favela é uma experiência inovadora de comunicação virtual. Afinal, o ambiente da Internet, interativo por natureza, é condicionado pelos interesses de seus usuários. E embora internautas das classes ‘C’ e ‘D’ possam encontrar sites de seu interesse na rede, dificilmente se identificam com o universo navegado. Entrar na Internet, sendo pobre, corresponde a viajar em terra estrangeira. O Viva Favela quer ser um passaporte para quem quer entrar nessa aventura. “Nosso objetivo é abrir uma nova perspectiva sobre a favela, estimulando o resgate da memória, da identidade e o orgulho de sua própria história. Queremos compartilhar esse trabalho com todos os que tiverem interesse em conhecer um pouco melhor a realidade de nosso país”, diz Cristiane Ramalho, coordenadora do portal Viva Favela.
Sites: www.vivafavela.com.br ou www.vivario.org.br
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