Em entrevista ao site www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM, a gerente sócio-ambiental da Shell, Simone Guimarães, mostra como uma empresa do setor de abastecimento de combustíveis consegue se mobilizar em prol de uma atitude responsável. Inserida em um setor produtivo conhecido como poluidor e irresponsável ecologicamente, a Shell tem investido pesado em ações de responsabilidade social, especialmente, na área de meio-ambiente e integração com as comunidades nos países onde atua. Conhecedora do assunto, Simone Guimarães explica a linha de atuação que a empresa resolveu adotar para ser considerada responsável: “Muitas vezes, Responsabilidade Social é confundida com projetos sociais, o que é uma grave simplificação da questão. Vamos muito além disso” A seguir, conheça melhor as ações dessa grande multinacional no Brasil:
1) Responsabilidade Social – Como ocorre a atuação da Shell em Responsabilidade Social no Brasil? Quais são os projetos desenvolvidos pela empresa neste setor?
Simone Guimarães – Nossos Princípios Empresariais, uma espécie de “Constituição” do Grupo Shell, pauta nossa atuação responsável na sociedade. As companhias Shell têm como valores centrais a honestidade, a integridade e o respeito pelas pessoas e crêem firmemente na importância de se promover a confiança, a abertura, o trabalho em equipe e o profissionalismo. Esses princípios se aplicam a todas as transações, grandes ou pequenas, e descrevem o comportamento esperado de cada empregado em cada companhia Shell, na condução de suas atividades. Em nossos Princípios Empresariais, ressaltamos nosso compromisso com o desenvolvimento sustentável, com os direitos humanos e com a sociedade de uma forma mais ampla, conforme o texto destacado abaixo: “A contribuição mais importante que as companhias podem dar ao progresso social e material dos países nos quais operam é desempenhar suas atividades básicas com a maior eficácia possível. As companhias Shell também estão interessadas em questões sociais, mesmo que elas possam não estar diretamente relacionadas à sua atividade. As oportunidades de envolvimento – por exemplo, através de programa comunitários, educacionais ou de doações – irão variar de acordo com o tamanho da companhia envolvida, a natureza da sociedade local e as oportunidades para iniciativas privadas.”
2) RS – Como uma empresa de um setor que é tradicionalmente poluidor pode promover o desenvolvimento integrado e sustentável?
SG – O compromisso com o Desenvolvimento Sustentável, por exemplo, explícito em nossos Princípios vem sendo trabalhado interna e externamente desde 1997. Toda e qualquer atividade possui impactos econômicos, ambientais e sociais. A Shell acredita que as empresas podem representar um papel vital na construção de um futuro melhor para as pessoas. Para que isto se torne realidade, é necessário identificar novos caminhos comerciais de realizar seu negócio, contribuindo com o desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento Sustentável para a Shell significa: 1) Integrar nas decisões de negócio aspectos econômicos, ambientais e sociais; 2) Equilibrar prioridades de curto e longo prazo; 3) Valorizar a opinião das partes interessadas (“stakeholders”) em nossos negócios, entendendo suas expectativas e buscando formas de alinhá-las aos nossos Princípios Empresariais. Comprometer-se com o desenvolvimento sustentável é como olhar em um caleidoscópio. A cada vez que o giramos, diferentes cenários se formam. Precisamos ter o foco nas partes, mas também no todo. Se por um lado, nos comprometemos através de estratégias e sistemas de gerenciamento globais. Por outro, temos reveladas as contribuições individuais dos nossos funcionários.
3) RS – Como ocorreu o surgimento do projeto “Iniciativa Jovem”?
SG – As questões sociais, ligadas ou não à atividade da Shell, são parte de sua preocupação em todos os países nos quais atua. Agir com responsabilidade social significa muito mais do que apenas dar apoio financeiro a projetos ou áreas. Envolve todas as questões resultantes do relacionamento da empresa com a sociedade como, por exemplo, o tratamento justo e ético dado aos funcionários, aos fornecedores e parceiros; a preocupação com o impacto de suas operações no meio ambiente e a necessidade de ouvir os anseios da comunidade local. A Shell acredita que suas contribuições para as comunidades onde atua vai além das contribuições econômicas e de preservação ambiental. Em 1998, a Shell Brasil reestruturou sua política de investimentos sociais no País, de forma a adequá-la às expectativas da sociedade brasileira. Antes da mudança, a Shell buscou ouvir a sociedade e detectar os problemas que mais a afligiam. Os pontos críticos apontados foram educação, desemprego e desigualdade social. A partir destes dados, a nova política estruturada aumentou a participação da companhia em projetos voltados à geração de renda e incentivo do empreendedorismo, reforçando o comprometimento do grupo Shell com o desenvolvimento sustentável. O principal projeto da Shell Brasil a partir desta perspectiva é o INICIATIVA Jovem, baseado no programa mundial Shell LiveWire, desenvolvido pelo Grupo Shell. Lançado em 2001, o INICIATIVA Jovem tem como objetivo incentivar o espírito empreendedor de jovens com idade entre 18 e 30 anos, preferencialmente de classes sociais menos favorecidas.
4) RS – Como este projeto funciona?
SG – O Iniciativa Jovem faz parte do programa Shell LiveWire, do Grupo Shell que, desde 1982, vem ajudando milhares de jovens no mundo inteiro a iniciar seu próprio negócio. Com o objetivo de dar aos jovens a oportunidade de montar seu próprio negócio e contribuir para o desenvolvimento da região que abriga o programa, o Iniciativa Jovem comemorou seu primeiro aniversário, em outubro de 2002, como o primeiro projeto social do Grupo Shell a receber a chancela e o apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco. Após formar a primeira turma de empreendedores, em março de 2002, o programa já iniciou mais duas novas turmas. Cerca de 900 jovens se inscreveram no ano passado e 40 geraram empreendimentos sustentáveis (na fase de incubação), mostrados na última Vitrine de Negócios, em abril de 2003. Além de contribuir para o progresso da comunidade na qual o jovem e sua família estão inseridos, transformando potencialidades locais em empreendimentos geradores de renda, o Iniciativa Jovem — desenvolvido e implantado em parceria com a ONG Dialog – Educação, Tecnologia e Desenvolvimento — estimula o debate sobre o papel do jovem na sociedade, capacitando-o e incentivando sua visão empreendedora. O público-alvo são os jovens de 18 a 30 anos, com escolaridade variada (da 4ª série à pós-graduação). O programa, dirigido preferencialmente aos jovens em desvantagem social, divide-se em três ciclos: pré-incubação (empreendedor sustentável), incubação (empreendimento sustentável) e pós-incubação (comunidade empreendedora). A fase de pré-incubação — que leva cerca de seis meses — visa à instrumentalização do jovem e ao planejamento do negócio. Inclui o Portal de Oportunidades, que envolve a divulgação do programa, inscrição e seleção dos jovens; a Oficina de Idéias, onde são feitas a identificação do perfil empreendedor, seleção e adequação da idéia de negócio à comunidade; a Fábrica de Negócios, na qual o jovem conta com palestras, jogos e orientação para apoiar o desenvolvimento de seu plano de negócio; o Selo Empreendedor Sustentável, uma chancela aos planos que cumprirem os requisitos do Selo; e, por fim, a Vitrine de Negócios, feira de oportunidades que ajuda a promover a inserção dos jovens participantes no mercado. Neste evento, são montados estandes de diversos tipos de negócios, com o objetivo de captar parcerias e financiadores para os projetos. A segunda fase, a chamada incubação do projeto, dura de dois a três anos e engloba o laboratório de atividades, montagem e operação dos empreendimentos. O último ciclo, de pós-incubação, visa à consolidação do empreendimento na região onde está localizado. Ao todo, o projeto pode levar até seis anos para ser concluído. No ano passado, foram premiados com uma ajuda financeira os três melhores do programa-piloto e, neste ano, receberam a premiação mais quatro participantes. Santa Teresa, no Rio de Janeiro (RJ), foi o bairro escolhido para abrigar a sede do Iniciativa Jovem. Um ponto importante do projeto é o estabelecimento de parcerias em torno do projeto: além da Unesco, a Shell conta com a ajuda da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ), Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), IBMEC, Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Sebrae, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Portal do Voluntário.
5) RS – Qual o valor investido em Responsabilidade Social pela Shell do Brasil em 2002 e qual a previsão para 2003?
SG – Não existe um número fechado para tal, já que diversas ações são realizadas nas diferentes áreas da companhia com o objetivo de promover a responsabilidade social, o desenvolvimento sustentável, como a publicação do relatório Shell na Sociedade Brasileira, a campanha de identidade corporativa, voltada para o desenvolvimento sustentável, os investimentos em projetos sociais, ambientais e culturais, o investimento da criação de modelos de gerenciamento de performance social e campanhas internas sobre diversidade.
6) RS – Quais os projetos futuros de Responsabilidade Social que a Shell do Brasil tem intenção de implementar?
SG – Nossa ação prioritária é a criação de um modelo de performance social para os negócios da Companhia. O Grupo Shell criou uma unidade de Performance social. Estamos desenvolvendo no Brasil modelos que poderão ser aplicados em diferentes países nos quais atuamos.
7) RS – Como a senhora define o conceito de Responsabilidade Social?
SG – Joelmir Beting publicou em sua coluna que “Responsabilidade Social das empresas é o exercício pleno da forma superior do capitalismo: respeito ao consumidor, ao trabalhador, ao fornecedor, ao distribuidor, à comunidade, ao meio ambiente aos encargos fiscais e aos programas sociais. Combinação refertilizadora do segundo setor (recursos privados para fins privados) com o terceiro setor (recursos privados para fins públicos).” Este é exatamente o conceito utilizado pela Shell. Muitas vezes, Responsabilidade Social é confundida com projetos sociais, o que é uma grave simplificação da questão.
8) RS – Como a senhora avalia a atuação do Terceiro Setor no Brasil? Que iniciativas podem ser tomadas para otimizar os resultados nesse setor?
SG – O terceiro setor está se tornando cada vez mais profissional e articulado. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito em relação à criação de parcerias que assegurem uma otimização dos esforços e, conseqüentemente, resultados ainda melhores. Uma das premissas do INICIATIVA Jovem é não duplicar ações. Sabemos que isoladamente não resolveremos a questão do jovem brasileiro, mas a partir do momento que nos articulamos com outras instituições, seremos mais capazes de contribuir para a questão.
9) RS – A senhora acha que o governo oferece estímulos suficientes para que a iniciativa privada invista em Responsabilidade Social?
SG – Sim. Tanto o governo quanto instituições do terceiro setor, como o Instituto Ethos.
Tel.: (21) 3984-769 – E-mail: simone.g.guimaraes@shell.com.br – Site: www.iniciativajovem.com.br ou www.shell.com.br
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