
O diretor da Artemisia, organização pioneira e referência em negócios sociais no Brasil, Renato Kiyama, destaca quais são os principais desafios nessa área. Ele afirma que o cenário é favorável para a atuação nos negócios sociais, existindo cerca de R$ 500 milhões disponíveis para empreendimentos com impacto social no País. Segundo ele, o segmento ainda é muito jovem no Brasil. “Somente o diálogo e a articulação entre empresas, organizações sociais e governo é que conseguiremos de fato avançar”, alerta. Leia a entrevista na íntegra.
Responsabilidade Social – Como um empreendimento pode produzir resultados financeiros e sociais?
Renato Kiyama – A princípio, todo negócio produz resultados financeiros e sociais, pois paga impostos, gera empregos, etc. Entretanto, existem empreendimentos que nascem com o propósito explicito de resolver um problema social ao mesmo tempo em que gera valor econômico. São os negócios de impacto social ou negócios sociais. Esses negócios devem cumprir, no mínimo, dois critérios:
O primeiro consiste em oferecer um produto ou serviço que diretamente resolve um problema social. Por exemplo, uma das empresas aceleradas pela Artemisia oferece reformas completas (material, mão de obra e crédito) a baixo custo para pessoas que moram em favelas. Chama-se Vivenda. O grande problema aqui está relacionado à qualidade habitacional. Muitas das casas sofrem com a falta de ventilação (casas sem janelas), luminosidade e umidade, que causam sérios problemas respiratórios principalmente em crianças e idosos. Já a falta de acesso ao crédito faz com que as pessoas realizem reformas eternas, pois compram um saco de cimento com o dinheiro que sobra do mês, no próximo mês compram outro, depois vem a chuva e estraga tudo. O gasto total no fim das contas é muito maior.
Já o segundo ponto, consiste em possuir um modelo de negócio escalável. O modelo de negócio da Vivenda é atuar com pequenos escritórios locais nas comunidades. Cada escritório possui uma equipe padrão de venda, assistência técnica e operação. As reformas são vendidas em quatro opções de “kits”. O kit banheiro, o kit anti-umidade, o kit revestimento e o kit janela. Cada kit possui um valor entre R$ 1,5 mil a R$ 4 mil e a pessoa pode parcelar em até 12 vezes.
RS – Quais são os instrumentos para medir sucesso em ambas as dimensões?
RK – Medir sucesso financeiro é fácil. Basta verificar se houve lucro ou não. Já os resultados sociais são mais complexos. Hoje, existem duas ferramentas para os negócios sociais medirem seu impacto. O Iris [(Impact Reporting and Investment Standards] e o Giirs [(Global Impact Investment Rating Sistem]
O Iris é uma biblioteca de indicadores sociais padronizados que permitem a produção de reportes de impacto social e ambiental com uma linguagem comum. Ou seja, o indicador “acesso a crédito” possui o mesmo significado para duas empresas diferentes mesmo se estiverem em países diferentes.
Já o Giirs é sistema de avaliação do impacto social e ambiental gerado por um negócio. Utiliza os indicadores do Iris como base de análise, audita a veracidade dos dados reportados nos indicadores e ranqueia a empresa de acordo com uma comparação de empresas atuantes no mesmo setor.
RS – É possível que o governo, organizações sociais e empresas trabalhem conjuntamente em um negócio social?
RK – Não só é possível como extremamente necessário. O setor dos negócios sociais é muito jovem no Brasil. Somente o diálogo e a articulação entre empresas, organizações sociais e governo é que conseguiremos de fato avançar. O que temos percebido hoje é que essa articulação já está acontecendo. Muitos negócios sociais estão vendendo seus produtos e serviços para o governo. E muitas organizações sociais estão vendo negócios sociais como uma alternativa a mais de financiamento de suas operações.
RS – Há um cenário favorável aos investimentos de impacto no Brasil?
RK – A Artemisia foi fundada em 2004 no Brasil. Daquela época para hoje verificamos uma evolução surpreendente no setor dos negócios sociais e investimento de impacto no país. Há três anos, existia apenas um fundo de investimento de impacto, hoje, já são dez fundos. Fora o crescente número de investidores de impacto internacionais que abordam a Artemisia interessados em atuar no Brasil. Poderia calcular que existem atualmente entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões disponíveis para investimento em negócios de impacto social no país.
(Responsabilidade Social com informações do Gife)
Artemisia – Telefone: (11) 3812-4303 – Site: www.artemisia.org.br
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