A jornalista Natália Capillé, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, é uma das vencedoras da quarta edição do Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, na categoria “Mídia Online e Alternativa”. Com o tema “A Insuficiência de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes indígenas em MS”, a jornalista em parceria com outros profissionais desenvolveu e colocou no ar o portal http://www.indiodepapel.org/, que traz informações de forma detalhada sobre a questão indígena na região.
O prêmio, realizado neste ano, foi promovido pela Andi e Childhood – Instituto WCF Brasil, com apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O intuito foi fortalecer a mobilização social em torno de dois graves problemas que afetam milhares de crianças e adolescentes do país. Segundo a jornalista, o envolvimento com assuntos sociais é uma questão de afinidade pessoal, mas reconhece que a cobertura não é fácil e para desenvolver esse trabalho, por exemplo, teve que encarar muita desconfiança.
Natália Capillé contou ao Responsabilidade Social.com, como o concurso foi importante para o seu aprendizado e fez uma análise rápida da cobertura do tema social pela mídia brasileira.
1) Responsabilidade Social – Você ganhou o Prêmio Tim Lopes de Investigação Jornalística por cobrir assuntos sobre políticas públicas para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes indígenas no Mato Grosso do Sul. Como você vê essa iniciativa da Rede Andi em reconhecer, por meio do prêmio, os jornalistas que falam sobre a temática?
Natália Capillé – Esse concurso não contempla matérias prontas e sim financia o seu projeto de reportagem. Essa é uma forma de incentivar a produção de pautas relacionadas ao tema, fazendo com que a violência sexual contra crianças e adolescentes entre na mídia com qualidade, pois há um suporte técnico, nos instruindo e capacitando para entender algumas questões que vão desde termos corretos, ao entendimento de um sistema de garantia de direitos. Não é somente uma premiação. A iniciativa vai muito além.
2) RS – Como foi ganhar o prêmio? O que significou pessoal e profissionalmente?
NC – Foi fantástico, pois tive a oportunidade de me aprofundar no tema, e de conhecer um pouco mais sobre a cultura indígena. Tudo isso me proporcionou um crescimento pessoal e profissional, uma grande transformação.
3) RS – Na sua avaliação, ainda existe um preconceito dos próprios jornalistas em relação à cobertura de ações de responsabilidade social, pois julgam em geral que se trata de maquiagem verde. Como o jornalista pode aprender a separar o joio do trigo, diferenciar a maquiagem verde das boas práticas?
NC – Quando se trata de responsabilidade social empresarial há uma desconfiança. Muitos realmente usam de incentivos fiscais para se promover, acredito que há muitas iniciativas positivas que merecem ser pautadas. Para separar o joio do trigo é necessário que se faça um processo de investigação jornalística.
4) RS – Em linhas gerais, como está a cobertura dos aspectos sociais?
NC – De um modo geral acho que falta qualidade na informação, pois o processo de comunicação pode e deve ser transformado em um processo educativo, e nesse momento o jornalista precisa estar cada dia mais intelectualizado para passar informação correta.
5) RS – O jornalista do Brasil está mais acessível para pautas sobre a área social ou ainda não?
NC – O jornalista acompanha a situação nacional, vemos que há uma divisão, jornalistas que tratam o tema e adotam a bandeira e outros que não se interessam, mas percebe-se que a pauta tem um aumento gradativo na mídia.
6) RS – Quais são os desafios de cobertura que o tema traz ao jornalista no Brasil e no mundo?
NC – É delicada a abordagem da violência em qualquer situação, principalmente quando se trata de violência sexual de criança e adolescente. Predomina o código do silêncio, a falta de conhecimento do direito assegurado e o abuso de poder, essas são dificuldades que devam ser vencidas, para se fazer uma boa cobertura.
7) RS – Como começou o envolvimento com as pautas sociais?
NC – Todos têm uma preferência, esporte, economia, política, isto é, uma questão de afinidade pessoal. Sempre fui sensível sobre o tema, talvez por minha mãe ser assistente social e ter passado essa responsabilidade cidadã. Todos nós somos agentes sociais e podemos exercê-la independentemente da profissão.
8) RS – Quais dificuldades você enfrenta no dia-a-dia da cobertura desse tema?
NC – Especialmente para esse trabalho uma dificuldade que tive foi a desconfiança que a rede de atendimento tem com o jornalista, pois tratei com questões delicadas, que envolvem pessoas que estão fragilizadas, e que têm a visão do jornalista sensacionalista que acaba atrapalhando o processo ao invés de contribuir.
9) RS – Qual o seu entendimento do termo “responsabilidade social”?
NC – A dimensão é ampla. A responsabilidade social se constitui desde atitudes do dia-a-dia a grandes projetos empresariais. Sempre pensando na coletividade e no desenvolvimento humano.
Natália Capillé – E-mail: natcapille@hotmail.com – Site: www.indiodepapel.org
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