A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) realizou de 19 a 21 deste mês a oitava edição do Seminário de Responsabilidade Social Empresarial. O evento buscou aprofundar as discussões sobre a temática e reuniu autoridades no setor, como o economista alemão Georg Kell, executivo do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU).
Com o tema ‘futuro sustentável’, o seminário teve como proposta estimular líderes empresariais a encontrar caminhos e articular alianças para responder aos desafios que surgem na busca por gestões sustentáveis. “O crescimento demográfico, o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza afetam diretamente a maneira de fazer negócios”, explica a coordenadora do Núcleo de Responsabilidade Social da federação, Marisa Resende.
Em entrevista exclusiva para o portal Responsabilidade Social.com, ela fala, ainda, sobre os desafios da indústria para encontrar o equilíbrio entre crescimento econômico e preservação dos recursos naturais e as oportunidades que se abrem nesse campo. Questionada sobre se o discurso de ‘ambientalmente correto’ não passa de modismo, ela foi contundente ao afirmar: “a história é que dará a resposta, mas é certo que não existe retrocesso”. Leia.
1) Responsabilidade Social – A Fiemg realizou neste mês a oitava edição do Seminário de Responsabilidade Social Empresarial. Na sua avaliação, como essa temática evoluiu ao longo desses últimos anos?
Marisa Resende – A Responsabilidade Social é um tema que vem evoluindo significativamente nos últimos 20 anos entre as empresas. Iniciamos o século com um grande desafio de atender as demandas de uma sociedade em pleno crescimento demográfico, preservar os recursos naturais, garantir os direito básicos da pessoa, combater a corrupção, entre outros. Então, nos últimos dez anos estamos vivendo uma mudança significativa de posicionamento da própria humanidade quanto à sua evolução. As exigências da sociedade impulsionam dessa forma o avanço da responsabilidade social das empresas. Nas empresas isso se traduz em uma nova forma de fazer negócios.
2) RS – O tema deste ano foi ‘futuro sustentável’. Quais os desafios para a adoção de novas formas de gestão que levem em conta o bem estar social e o futuro das próximas gerações?
MR – O grande desafio é o posicionamento das lideranças empresariais. O crescimento demográfico, o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza afetam diretamente a maneira de fazer negócios. São desafios conjuntos debatidos em espaços como o seminário e também pretendemos avançar coletivamente em espaços como o Programa Minas sustentável liderado pela Fiemg.
3) RS – Qual o papel das indústrias nesse contexto?
MR – A carga de responsabilidade que recai sobre as empresas é muito grande, pois a mesma sociedade que demanda bens e serviços é aquela que exige das empresas um novo reposicionamento. Por exemplo, a exigência por embalagens cada vez mais personalizada, segura e completa vem do mesmo consumidor (enquanto sociedade) que exige a redução de resíduos da indústria. São os dilemas da atualidade. O papel da indústria é encontrar o equilíbrio a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável e atender as demandas da sociedade. Para isso, é preciso participar do processo decisório no campo político, legislativo, associativo empresarial e institucional.
4) RS – Na avaliação de alguns críticos, os discursos de ‘ambientalmente correto’ e ‘responsável socialmente’ não passam de modismos. Para a senhora, o modelo de crescimento econômico, com responsabilidade socioambiental é realmente sustentável à longo prazo? Empresas e indústrias, conhecidas por sua constante busca por lucros cada vez maiores, estão prontas para abrir mão de uma fatia dos ganhos em prol do planeta e da população mais carente?
MR – Modismo ou não? Se olharmos para o movimento da qualidade, podemos observar exatamente essa dimensão. O mundo nunca mais será o mesmo depois do movimento da qualidade. As empresas mudaram. Os processos produtivos mudaram e isso não tem volta. No entanto, ainda existe uma parcela das empresas que sequer deram os primeiro passos em direção à qualidade.
O movimento social e ambiental é posterior e a história é que dará a resposta, mas é certo que não existe retrocesso… até pouco tempo atrás era normal que os veículos soltassem livremente a fumaça preta, hoje isso é inadmissível. O mesmo acontece com o trabalho infantil e trabalho degradante, que são inadmissíveis. Apesar disso, ainda existem aqueles que estão na contramão, mas nunca mais serão considerados como bons negócios. São investimentos que surtem efeitos no médio e longo prazo. Quem investe tem mais chance de sobreviver no longo prazo.
5) RS – Quais as oportunidades que se abrem para o setor industrial no cenário de busca por formas de produção que proporcionem desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais?
MR – Existe um mercado mundial ávido por produtos mais sustentáveis, por fazer negócios com empresas idôneas. Quem está atento a esse mercado já contabiliza os lucros e os retornos. Até os resíduos estão se tornando bons negócios para quem consegue inovar e identificar oportunidades. É uma questão de liderança. É uma questão de percepção e capacidade de evolução dos lideres empresariais.
6) RS – Como a inovação pode ser um fator de desenvolvimento?
MR – A sustentabilidade depende da inovação. Não alcançaremos melhores níveis de sustentabilidade fazendo tudo igual ao que fazemos hoje. Inovar exige pesquisa e investimentos. Nossa cultura não é de inovação, o que exige grandes mudanças, muito planejamento e novas formas de alianças que favoreçam o processo de inovação.
7) RS – Para a senhora, em que estágio está o Brasil nesse contexto de economia verde? Quais os avanços do país no caminho para sustentabilidade?
MR – De acordo com a ONU, a Economia Verde pode ser definida como aquela que resulta em melhoria do bem-estar das pessoas devido a uma maior preocupação com a equidade social, com os riscos ambientais e com a escassez dos recursos naturais. É um longo caminho a ser trilhado. O Brasil está à frente dos debates com uma grande mobilização e com amplos espaços de reflexão e proposição de caminhos. Esse tema foi o foco do seminário, que trouxe as informações mais atuais da discussão do tema em todo Brasil.
8) RS – Qual o seu entendimento do termo ‘responsabilidade social’?
MR – É o relacionamento ético da empresa com todos os seu públicos.
Fiemg – Telefone: (31) 2535-5257
Também nessa Edição :
Perfil: Fernando Duarte
Artigo: Marketing verde x realidade insustentável
Notícia: Fundação Tide Setubal lança segunda edição do Fundo Zona Leste Sustentável
Notícia: Dívidas por sustentabilidade
Notícia: Juristas discutem sustentabilidade em evento no Sul do país
Oferta de Trabalho: Procura-se (10/2011)
Leave a Reply