
Marcos Schwingel, gerente de Educação Cooperativa da Fundação Sicredi
O gerente de Educação Cooperativa da Fundação Sicredi, Marcos Schwingel, detalha na entrevista exclusiva a política de responsabilidade social do maior agente privado brasileiro em valores e em número de operações no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). A iniciativa disponibiliza recursos aos financiamentos de produtores de familiares em suas atividades.
Com expressivo investimento em ações de responsabilidade social, o Sicredi incentiva o propósito cooperativo de gerar o desenvolvimento das comunidades onde atua. Essas ações têm o objetivo de semear o crescimento econômico social e a melhoria da qualidade de vida
“Por estarmos falando de um tipo societário específico – sociedades cooperativas – temos uma normatização própria onde nos orienta a destinarmos no mínimo 5% do resultado bruto para o Fates (Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social), sendo assim cada cooperativa possui esse recurso para suas ações locais”, explica Schwingel.
Ele também apresenta o programa “A União Faz a Vida”, considerado a principal ação social da empresa. Criada em 2005, a iniciativa está presente hoje em 154 cidades, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso e recebeu, em 2012, aportes da ordem de R$ 4,1 milhões. Leia a entrevista na íntegra.
Responsabilidade Social – O principal programa de responsabilidade social do Sicredi, “A União Faz a Vida”, completa, em 2013, 18 anos de atuação. Qual é o balanço que pode ser apresentado?
Marcos Schwingel – O principal benefício do programa é colocar em prática a cooperação e a cidadania por meio de uma metodologia própria. Os projetos são desenvolvidos nas escolas tendo as crianças e adolescentes como protagonistas com o apoio de educadores, pais e da comunidade. Sua forma de trabalho envolve as chamadas expedições investigativas, que são ponto de partida para a definição dos temas que serão trabalhados por alunos e educadores. Assim, a turma vai para a rua observar e experimentar, percorrendo a comunidade e descobrindo o ambiente a sua volta.
Os educadores formulam questões que orientam a visita ao território da investigação. E é das perguntas que surgem os desejos de conhecimento. Na sequência, é definido o projeto que delimita o objeto sobre o qual se quer conhecer mais. As curiosidades de cada projeto são respondidas pelo currículo escolar (história, matemática, português, etc.) e pela comunidade de aprendizagem (pessoas que compartilham seus conhecimentos e experiências com os alunos, como nutricionistas, donas de casa, comerciantes, etc.). A partir daí, começa a ser construída, de forma colaborativa, uma nova maneira de ver o mundo e de agir coletivamente. O resultado? Cidadãos cooperativos, a principal razão de ser do programa.
RS – Como essa proposta foi desenhada e como a sua atuação evoluiu ao longo desse período?
MS – O Programa A União Faz a Vida foi desenvolvido pelo Sicredi para ampliar o conhecimento das comunidades sobre o cooperativismo e a natureza das sociedades cooperativas após uma fase de dificuldades no segmento, na década de 80. A proposta do programa de educação cooperativa para crianças e jovens foi construída a partir de exemplos internacionais e da parceria com o Centro de Desenvolvimento e Pesquisa sobre Cooperativismo da Universidade do Vale do Rio do Sinos, de São Leopoldo (RS).
O projeto piloto foi implantado em Santo Cristo, pertencente à Cooperativa Sicredi Grande Santa Rosa/RS, em 1995. Outros municípios do Estado também adotaram o programa e novas instituições de ensino superior ingressaram na rede de assessoria pedagógica.
A abelha é símbolo do programa Assim como as abelhas, a iniciativa se estabelece na dimensão nacional, de forma flexível e adaptável às diferentes realidades educacionais. O cenário de atuação são as salas de aula, escolas e seu entorno, e os atores são crianças e adolescentes, educadores e comunidade escolar, entre outros, como secretarias estaduais e municipais de Educação, as quais atestam a credibilidade da iniciativa.
A expansão nacional do programa começou pelo Estado do Mato Grosso, em 2005 e em 2006 foi a vez do Paraná Em 2007, o programa passou por uma reestruturação com um novo objetivo e definindo que o trabalho com projetos passaria a ser a direção da nova proposta implantada neste mesmo ano.
Os anos de 2008 e 2009 são marcados pelas formações de assessorias pedagógicas e oficinas para educadores. Em 2010, o programa chegou a Santa Catarina. No ano seguinte, em São Paulo. Hoje, está presente em 154 cidades, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso.
Em 2012, foram investidos R$ 4,1 milhões no programa. Participaram da iniciativa 38 cooperativas, 13.511 educadores e 157.978 crianças e adolescentes. Mais de cinco mil perguntas nortearam milhares de expedições investigativas, que despertaram a curiosidade dos alunos.
RS – Quais as principais ações realizadas pelo programa atualmente?
MS – São mais de três mil projetos desenvolvidos em sala de aula e na formação dos educadores. As crianças e adolescentes e educadores que estão no programa vivenciam os princípios de cooperação e cidadania diariamente. Essas ações práticas é que fazem deste, um programa educacional “vivo”.
RS – Quais as metas da iniciativa para 2013?
MS – Uma delas é a expansão. Ao longo do tempo, o programa se fortaleceu, prosperou e hoje vive um momento histórico de expansão, que merece ser destacado pela importância dessa conquista junto à comunidade escolar. Sua média anual de crescimento, desde seu início, é de 10 novas cidades. No entanto, ao longo de 2013, a previsão é de que 60 novos municípios serão incluídos às regiões já atendidas pelo programa. E entre as novidades está a implantação nos estados do Mato Grosso do Sul e de Goiás e a parceria realizada com o Sesi no Paraná.
Também, com a visibilidade do programa cada vez maior, os 15 mil colaboradores do Sicredi estão sendo vivenciando, desde o ano passado, sua metodologia para ampliar o conhecimento sobre o A União Faz a Vida.
Outra meta é reorganizar a pesquisa realizada em parceria com a Fundação Carlos Chagas, em 150 municípios brasileiros onde o programa é desenvolvido. Foram entrevistadas aproximadamente 30 mil crianças e adolescentes. Os valores mensurados foram: diálogo, justiça, respeito a diversidade, solidariedade e empreendedorismo. Queremos medir a evolução do público nesses municípios.
RS – Além do A União Faz a Vida, o Sicredi mantém outras ações na área de responsabilidade social? Quais?
MS – Com expressivo investimento em ações de responsabilidade social, o Sicredi incentiva o propósito cooperativo de gerar o desenvolvimento das comunidades onde atua. Essas ações têm o objetivo de semear o crescimento econômico social e a melhoria da qualidade de vida. As ações abrangem desde grandes projetos, parcerias locais e até iniciativas pontuais, como arrecadação de doações ou recursos.
Além de várias iniciativas locais, partindo da autonomia e independência de cada cooperativa, outras ações sistêmicas inerentes ao tipo societário podem ser destacadas como: o Sicredi é a única instituição financeira em 235 municípios brasileiros; é o maior agente privado brasileiro em valores e em número de operações no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) que disponibiliza recursos aos financiamentos de produtores de familiares em suas atividades.
RS – Você poderia destacar como é pautada a gestão social do Sicredi? Há, por exemplo, um orçamento fixo anual para as ações nesse setor?
MS – Quando surge uma cooperativa de crédito ela o faz através do social e econômico ao mesmo tempo, ou seja, ela surge a partir da necessidade econômica de um grupo de pessoas. Sendo assim, a responsabilidade social está no desenvolvimento diário de suas atividades.
Por estarmos falando de um tipo societário específico – sociedades cooperativas – temos uma normatização própria onde nos orienta a destinarmos no mínimo 5% do resultado bruto para o Fates (Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social), sendo assim cada cooperativa possui esse recurso para suas ações locais. Em nível sistêmico, a Fundação Sicredi possui um orçamento próprio, que é absorvido por suas mantenedoras, além de se utilizar de vários incentivos ficais para desenvolver algumas atividades.
Nesse sentido, destacam-se os projetos culturais desenvolvidos em parceria com o Ministério da Cultura, via lei Rouanet. Entre os projetos temos a biblioteca Sicredi aberta a todos os associados do Brasil, e peças de teatro que viajam o Brasil trabalhando temas como consumo consciente, educação financeira entre outros.
Ainda cabe ressaltar que temos vários parceiros. No Programa “A União Faz a Vida”, por exemplo, a comunidade local se organiza e várias empresas e pessoas físicas destinam recursos para contribuir com o programa, sendo beneficiando-se de incentivos fiscais ou não. Temos também parceiros nacionais como o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo).
RS – Como a empresa lida com o tema de responsabilidade social no dia a dia de seu negócio?
MS – Mais do que uma associação de pessoas, as cooperativas de crédito do Sicredi são agentes promotores do desenvolvimento social e econômico das comunidades onde atuam e estão comprometidas com a proteção e o respeito ao meio ambiente. A atuação da instituição financeira cooperativa prioriza a especificidade da região.
Em 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU) destacou o papel das cooperativas como promotoras do desenvolvimento socioeconômico das comunidades onde estão presentes ao declará-lo o Ano Internacional das Cooperativas. Nossa missão “como sistema cooperativo valorizar o relacionamento, oferecer soluções financeiras para agregar renda e contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos associados e da sociedade” reflete no que acreditamos e que está ligado diretamente a nossa responsabilidade social, esse é o nosso jeito de ser.
RS – Quais foram os principais investimentos feitos em sustentabilidade, e qual o retorno que a organização teve (e tem) atuando de maneira socialmente responsável?
MS – O conceito de sustentabilidade envolve os aspectos ambiental, econômico e social. Esses dois últimos fazem parte da essência do cooperativismo que permeia o Sicredi, e serve como base para continuar o desenvolvimento de ações de responsabilidade socioambiental. Entre as iniciativas já implantadas em produtos e serviços estão as ações de inclusão e educação financeiras e microcrédito, além de um conjunto de linhas de crédito socioambientais com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O Sicredi fomenta a inclusão financeira, especialmente de pequenos municípios. É a única instituição financeira existente em 235 cidades brasileiras (segundo o Banco Central do Brasil), atendendo mais de 260 mil associados com soluções financeiras personalizadas. Por meio de seus produtos e serviços, promove a formalização de atividades, o resgate da cidadania, a geração de empregos, o aumento da renda e mais oportunidades de acesso ao crédito.
No Sicredi, o microcrédito é um produto que atende pessoas físicas de baixa renda e empreendedores de pequeno porte e contribui para o desenvolvimento sustentável, pois, além de manter o homem no campo e na sua comunidade, melhora a qualidade de vida das pessoas envolvidas. Para a concessão do crédito, além da avaliação de riscos inerente aos negócios, são analisados os impactos ambientais da operação.
Para consolidar e aperfeiçoar as iniciativas socioambientais, o Sicredi lançou o primeiro Relatório de Sustentabilidade, em 2013. A publicação atende aos princípios da boa governança corporativa, integra a Política de Sustentabilidade e representa um importante instrumento de comunicação com os seus principais públicos.
A Política de Sustentabilidade do Sicredi, criada em 2011, faz parte do Planejamento Estratégico 2011-2015 e visa gerar direcionamento para explicitar as boas práticas sustentáveis desenvolvidas pelo Sicredi e aprimorar sua atuação, além de procurar envolver cada vez mais seus públicos de relacionamento.
Coordenada pela Fundação Sicredi, a implantação da Política de Sustentabilidade está baseada em três eixos: produtos e serviços sustentáveis, processos sustentáveis e pessoas pela sustentabilidade. O primeiro eixo desenvolverá adicionalidades socioambientais ao portfólio oferecido pelo Sicredi, conferindo transparência e linguagem acessível em relação à sua comercialização. O segundo eixo envolverá a sustentabilidade nas compras e contratação de serviços, o cumprimento a normas do setor e à ecoeficência. O terceiro eixo trabalhará com o alinhamento dos stakeholders do Sicredi a um código de conduta padronizado, além do desenvolvimento de programas de sustentabilidade, educação financeira e a participação em ações de responsabilidade social, entre outros.
O registro e o acompanhamento da efetiva implantação da Política serão feitos por meio do Relatório, elaborado com base nas diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) – instituição não governamental internacional com sede na Holanda, que desenvolve e dissemina diretrizes para a elaboração de relatórios de sustentabilidade utilizadas voluntariamente por empresas do mundo todo.
O Relatório de Sustentabilidade do Sicredi atende aos requisitos para o nível C (autodeclarado) da GRI. O Sicredi respondeu a 53 indicadores: 30 de perfil e governança e 23 de desempenho, sendo três deles integrantes do suplemento setorial da GRI para o setor financeiro.
RS – Quais os desafios que a empresa ainda enfrenta quanto o tema é responsabilidade social?
MS – Nosso grande desafio em responsabilidade social é conseguir dar velocidade as nossas ações e intenções, além de fazer com que tenham robustez e conseguiam provocar as mudanças sociais que almejamos.
RS – Qual o seu entendimento pessoal do termo ‘responsabilidade social’?
MS – Responsabilidade social são as ações da empresa que buscam o desenvolvimento das pessoas, da comunidade, da sociedade sem objetivar retorno direto a organização.
Cooperativa de Crédito Sicredi – Telefone: (51) 3358 4767
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