Líder no fornecimento de concreto e quinto maior fabricante de cimento, a Holcim Brasil tem uma política de responsabilidade social consolidada. A gestão responsável tem como preocupação principal a geração de emprego e renda nas comunidades próximas a unidades fabris. “Queremos que as localidades conheçam e explorem toda a sua vocação em vez de ter como única opção de desenvolvimento um emprego na fábrica”, destacou Juliana Andrigueto, coordenadora de Responsabilidade Social da Holcim e do braço social da empresa, em entrevista exclusiva para o Responsabilidade Social.com.
Entre os resultados do investimento social da instituição, Andrigueto apontou o ‘Projeto Ortópolis’ desenvolvido desde 2003 no Município de Barroso, em Minas Gerais. A iniciativa levou capacitação para pequenos comerciantes dos mais variados setores durante dois anos. O trabalho resultou no aumento, em média, de 64% do faturamento dos participantes e gerou 20% mais empregos.
Na entrevista, a executiva também detalhou a gestão social da instituição, as metas para o próximo ano e como o setor cimenteiro tem atuado para transformar o segmento numa atividade de baixo carbono. São propostas inovadoras para renovar a economia e, de fato, gerar riqueza com sustentabilidade. Confira.
1) Responsabilidade Social – O braço social da Holcim Brasil, quinto maior fabricante de cimento do país e também um dos líderes no fornecimento de concreto e agregados, foi criado em 2002 com o intuito de coordenar os investimentos sociais da empresa e fortalecer o relacionamento da instituição com as comunidades onde atua. Quais os resultados que podem ser apresentados após sete anos de trabalho?
Juliana Andrigueto – Nesses sete anos de trajetória, posso dizer que o maior ganho social do Instituto Holcim foi justamente a criação de uma metodologia de planejamento participativo. Os projetos de investimento sociais apoiados pela empresa estão ligados à geração de trabalho e renda, educação para o trabalho e educação ambiental, sempre de forma integrada para que contribuam para o desenvolvimento local. Todos são desenvolvidos e gerenciados pela comunidade e o instituto atua como um facilitador.
Temos obtido ótimos resultados e replicamos vários de nossos projetos, o que é um sinal de reconhecimento. Os indicadores aplicados para medir o retorno mostraram, por exemplo, que no ‘Educando Verde’, proposta de educação ambiental para educadores e crianças, há uma aceitação de quase 90% dos estudantes. Esses replicam as informações para seus familiares e amigos, incorporando e disseminando os conceitos aprendidos.
Outra iniciativa, o ‘Rumo Certo’, um dos braços do projeto Ortópolis, trouxe um resultado concreto bastante expressivo para o comércio do Município de Barroso, em Minas Gerais. O grupo de comerciantes que participou da capacitação em gestão aumentou, em média, 64% seu faturamento em dois anos e gerou 20% mais empregos.
2) RS – Quais as diretrizes seguidas pelo Instituto Holcim para intervir nessas comunidades? A população local tem papel ativo na escolha dos projetos a serem desenvolvidos?
JA – O papel do Instituto Holcim é apoiar o fortalecimento do relacionamento entre empresa e comunidade. Uma das diretrizes é que os projetos sociais são elaborados e geridos pela comunidade e alinhados às diretrizes do instituto. Contamos com uma ferramenta desenvolvida pela matriz, aplicada em todas as unidades, globalmente: o Social Engagement Scorecard (SES). O SES permite analisar se o projeto é realmente abrangente e relevante para a comunidade e se está dentro do escopo das estratégias da empresa.
A diretriz de atuação do Instituto Holcim prevê o planejamento participativo. A proposta é de incentivar as comunidades a lidar com suas necessidades de forma profissional, treinando-as e estimulando-as a ser sujeitos do seu próprio desenvolvimento. Entre as ações estão a capacidade de estabelecer prioridades, analisar cenários e rediscutir rumos.
3) RS – A estratégia do instituto está alinhada à visão da Holcim Brasil? Na avaliação da senhora, como os princípios de mercado podem interferir de forma positiva na gestão de organizações do terceiro setor?
JA – Sim, o instituto atua totalmente alinhado às políticas de responsabilidade social da Holcim, que, por sua vez, prevê o engajamento de todos os stakeholders (principalmente de fornecedores, prestadores de serviço e comunidade) dentro de um conceito de sustentabilidade.
A Holcim trabalha mundialmente com foco na construção sustentável. Tem até uma fundação criada especificamente para esse fim, a Holcim Foundation for Sustainable Construction (http://www.holcimfoundation.org). Localmente, também trabalhamos com a promoção do desenvolvimento local das comunidades onde temos operações. Ambas estão dentro do escopo de atuação de negócios da Holcim.
Nas principais localidades em que temos operações é importante estabelecer uma relação de longo prazo com as comunidades, uma vez que a atividade de mineração dura décadas e até séculos. Embora seja um relacionamento longo, ele é finito. Por isso, a estratégia de atuação do Instituto Holcim estimula a geração de renda, capacitação e educação, sempre como intuito de valorizar todo o potencial da comunidade. Queremos que as localidades conheçam e explorem toda a sua vocação em vez de ter como única opção de desenvolvimento um emprego na fábrica.
4) RS – Desde quando a empresa adota políticas de sustentabilidade e responsabilidade social e como lida com esse tema no dia-a-dia de seu negócio?
JA – No Brasil, a política de responsabilidade social foi formalmente implementada em 2006, três anos após a sistematização da mesma pela matriz do Grupo, localizada na Suíça. No entanto, vale lembrar que o Instituto Holcim foi fundado em 2002, já com a missão de promover o relacionamento com as comunidades. As diretrizes do instituto foram revisadas e hoje se encontram em total alinhamento com a política mundial de Responsabilidade Socioambiental da Holcim.
Os diferentes departamentos incorporam a sustentabilidade em seu dia-a-dia. A área de Responsabilidade Social tem a missão de alinhar o conceito para que ele seja aplicado diretamente pelos demais departamentos, funcionando como uma consultoria interna.
Para citar alguns exemplos, adotados e geridos pelas áreas, o departamento de Recursos Humanos é responsável por um projeto inclusão de deficientes. A área de logística, por sua vez, desenvolve o ‘Clube da Estrada’, um programa que beneficia os motoristas prestadores de serviços, promovendo qualidade de vida, saúde e segurança. Outra importante iniciativa vem da área de Suprimentos, que desenvolve o ‘Parceiros de Valor’, projeto de capacitação de fornecedores na melhoria da gestão dos seus negócios.
5) RS – A Holcim Brasil foi a primeira indústria cimenteira do país a obter a certificação ISO 9001. Seus investimentos em meio ambiente também lhe garantiram o status de pioneira no setor ao obter a ISO 14001. Quais foram os principais investimentos feitos em sustentabilidade, e qual o retorno que a organização teve (e tem) atuando de maneira socialmente responsável?
JA – Podemos destacar, entre suas ações, o pioneirismo na discussão do tema construção sustentável. A Holcim Brasil segue os cinco critérios da Holcim Foundation – organização não-governamental criada em 2003 na Suíça para promoção da construção sustentável e mantida pelo Grupo Holcim. São eles: prosperidade (desempenho econômico e compatibilidade); planeta (uso eficiente de recursos naturais e conservação de energia); pessoas (padrões éticos e equidade social); progresso (inovação e capacidade de transferência) e proficiência (impacto estético e adequação ao contexto).
Introduzimos o assunto no Brasil em 2004, com o lançamento da primeira edição do Holcim Awards, prêmio mundial para projetos de construção sustentável promovido pela Holcim Foundation. De lá para cá, temos visto e participado também de outras iniciativas. Entre elas, destaco a produção do Guia de Sustentabilidade na Construção, publicado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG); a criação do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável e a Câmara de Construção Sustentável do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) presidida pela Holcim. Queremos colaborar com toda a cadeia da construção para pensar na sustentabilidade de forma ampla.
Como retorno, percebemos a repercussão do Holcim Awards, que é um incentivo para os profissionais (arquitetos e engenheiros, principalmente) que querem atuar com mais responsabilidade; as ações sociais no entorno se revertem na melhoria da conscientização socioambiental e geração de renda. Isso é visível. E os projetos acabam por atingir toda a cadeia de stakeholders. Os resultados podem ser conferidos em nosso Relatório de Sustentabilidade. Fomos a primeira empresa do setor a publicá-lo já em padrão Global Reporting Iniciative (GRI). O documento está disponível no nosso portal – http://www.holcim.com.br.
6) RS – A crise econômica alterou os investimentos e influenciou os projetos socioambientais da instituição? Quais foram os principais impactos?
JA – Uma crise econômica é sempre um período de reavaliação da gestão nas empresas. Para a Holcim foi um momento de rever e otimizar processos. No caso dos projetos socioambientais, o Instituto Holcim trabalha bastante com parcerias e projetos de longa duração e apoio de recursos de parceiros. Por isso, nossos projetos não sofreram um grande impacto pelo cenário internacional de crise. Todos continuam sendo realizados. Nosso compromisso com a comunidade foi mantido.
7) RS – Quais os desafios que a empresa ainda enfrenta quanto o tema é responsabilidade social?
JA – Um de nossos principais desafios está em promover e disseminar esse conhecimento entre os gestores das unidades de negócio e das áreas internas da Holcim. Precisamos alinhar o conceito e comunicar da melhor forma possível para que o adotem em seu dia-a-dia.
8) RS – De todas as práticas sustentáveis que a empresa faz, qual poderia se destacar como a mais relevante no momento?
JA – Acredito que o incentivo à construção sustentável, seja uma das mais importantes práticas sustentáveis da Holcim. O tema tem um impacto direto e profundo no futuro da sociedade. E a Holcim entende que sua aplicação é imprescindível para a garantia da qualidade de vida, transporte, urbanização, preservação ambiental principalmente nos grandes centros urbanos.
9) RS – Quais são os principais projetos de sustentabilidade que a instituição dará continuidade ou implantará no próximo ano?
JA – Na área de investimento social, os projetos desenvolvidos atualmente pelo Instituto Holcim terão continuidade em 2010. São ao todo 20 projetos em andamento nos municípios de Barroso e Pedro Leopoldo, em Minas Gerais; Cantagalo, Cordeiro, Macuco e Magé, no Rio de Janeiro; e Mairiporã e capital, em São Paulo.
10) RS – Na sua opinião, quanto falta para a relação entre indústria cimenteira e meio ambiente chegar a um ponto de equilíbrio?
JA – O setor cimenteiro, de forma geral, tem atuado mais fortemente na redução de impactos ambientais, principalmente no Brasil. De todo o CO2 emitido no planeta, 12% são de responsabilidade direta do ser humano. Desse montante 5% vem da indústria cimenteira conforme as medições mundiais. O Brasil está mais avançado. Aqui a indústria cimenteira é responsável por 1,4% das emissões, ou seja, menos da metade da média mundial. E a Holcim é uma das empresas mais envolvidas com esse tema. A empresa é fundadora do Cement Sustainability Initiative (CSI), uma mobilização do setor em prol da redução de CO2, entre outros temas. Essa iniciativa faz parte do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), do qual a Holcim é membro.
Entre as medidas para otimizar o consumo energético e reduzir as emissões, a Holcim investiu na modernização de suas fábricas e na colocação de potentes filtros de manga. No seu sistema produtivo utiliza dois recursos importantes e que se refletem diretamente na redução de emissões. Um deles é a substituição de parte da matéria-prima mineral por escória, um material que indústria siderúrgica descarta por não ter utilidade para ela. A escória é incorporada ao cimento depois da fase em que ele passa por um grande forno. Isso diminui a quantidade de material a ser aquecido e, consequentemente, leva o forno a consumir menos combustível. O acréscimo de 1% de escória na composição do cimento equivale à redução de aproximadamente 8 kg de CO2 por tonelada produzida.
O outro é o sistema de coprocessamento, que consiste na utilização de resíduos industriais diversos como substitutos de parte dos combustíveis fósseis utilizados no forno. São, por exemplo, plásticos que por algum motivo não podem ser reciclados, borras de tinta, entre tantos outros materiais que não podem ser aproveitados por outras indústrias. Eles passam por rigorosos testes antes de serem colocados no forno. Ao usar esses resíduos para alimentar parcialmente nossos fornos utilizamos menos combustíveis fosseis, não-renováveis. Além de prestar um serviço para outras indústrias dando uma destinação correta e definitiva aos seus resíduos, cada acréscimo de 1% de material alternativo na alimentação dos fornos equivale à redução de aproximadamente 2 kg de CO2 por tonelada de cimento produzido. Ou seja, acreditamos e investimos, de forma consistente, em boas práticas ambientais. Como resultado, a Holcim, há sete anos, está no índice Dow Jones de Sustentabilidade.
11) RS – O desenvolvimento econômico pode conviver harmoniosamente com o meio ambiente e boas práticas sociais?
JA – Sim, é possível. Para isso, a empresa precisa ter uma visão sistêmica, abrangendo justamente os aspectos social e ambiental, sem perder o foco no crescimento econômico, necessário a sobrevivência de qualquer negócio.
12) RS – Qual o seu entendimento pessoal do termo “responsabilidade social”?
JA – Responsabilidade social é uma relação ética e transparente na gestão de uma empresa com toda sua cadeia de relacionamento. É desta forma que a Holcim atua.
Holcim Brasil – Telefone: (11) 3323-1597
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