Herbert Steinberg tem um currículo, no mínimo, admirável. Administrador de empresas, pós-graduado pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV. Fundador da MESA – Corporate Governance, consultor em governança corporativa e desenvolvimento humano. Representante exclusivo no Brasil da consultoria de Dave Ulrich. Foi vice-presidente de RH do Grupo Santander Banespa, diretor corporativo de RH do Citibank e diretor de RH do McDonalds. Foi sócio-diretor da DBM – Drake Beam Morin do Brasil. Como voluntário, foi presidente da Vila Serena, uma instituição dedicada ao tratamento de dependência química. Atualmente tem empunhado a bandeira de mostrar aos empresários brasileiros a importância da Governança Corporativa – termo novo que chegou ao país no final da década de 90. Em outras palavras, Steinberg afirma que ser ético é a saída para o sucesso das empresas. Mesmo aqui, no país do jeitinho. Confira:
1) RS – Como o senhor define o conceito de Responsabilidade Social? E como ela se contextualiza na sua prática e área de atuação?
Herbert Steinberg – Estou convencido de que toda organização, para dar certo, precisa se pautar por um conjunto de valores e crenças. A empresa que assim faz terá maiores chances de atrair pessoas que compartilhem visões de mundo. Havendo foco também em responsabilidade social, além da busca do sucesso comercial e da rentabilidade, haverá entre as pessoas mais responsabilidade e maior senso ético. Não é por outra razão que o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, cujo excelente trabalho se fundamenta em quatro pilares, transformou o pilar Ética em Responsabilidade Corporativa, tornando-o mais abrangente. Os outros pilares são: Transparência, Eqüidade e Prestação de Contas.
2) RS – A atitude ética pode trazer sucesso, resultados e independência financeira para uma empresa?
Herbert Steinberg – Sem dúvida, é fundamental. O comportamento ético estimula a adesão de pessoas que interessam à empresa e atrai parceiros adequados e duráveis. Mesmo empresas que praticam uma visão conservadora, que preconizam a obtenção do lucro máximo sem maiores envolvimentos sociais, costumam ser rígidas com o padrão ético. Elas estão pensando em sua sustentabilidade, em sua perenidade.
3) RS – O senhor usa muito a expressão “governança corporativa”. Pode explicar esse conceito?
Herbert Steinberg – Governança corporativa é expressão recente, que começou a ser praticada no final da década de 1990. Para se ter idéia, o IBGC em 1995 nasceu como uma associação que congregava conselheiros de administração, e só. Cinco anos depois, evoluiu para o conceito de abrigar todos os agentes de governança. Trata-se do conjunto de relações que envolvem acionistas controladores e minoritários, os diretores executivos e os mecanismos de controle criados para acompanhar a organização. Os problemas vividos recentemente pelo Partido dos Trabalhadores são típicos de ausência de boa governança.
4) RS – Como o terceiro setor pode aplicar a governança corporativa a instituições como ONGs e OSCIPs?
Herbert Steinberg – A melhor teoria e as melhores práticas não apresentam diferença significativa entre organizações com fins lucrativos ou não. O princípio envolvido é a criação de ambiente de respeito entre os condutores do projeto ou do empreendimento, enfim, um conjunto de mecanismos do círculo de poder que garanta transparência, eqüidade e prestação de contas – de modo que todas as partes se percebam respeitadas e consideradas.
5) RS – O brasileiro está numa crise de baixa auto-estima muito grande, especialmente com relação a honestidade. O próprio brasileiro fala mal do Brasil, como se essa característica fosse exclusiva do nosso povo. O senhor acredita que essa característica seja cultural?
Herbert Steinberg – A baixa auto-estima do brasileiro é um atavismo, e até creio que já estivemos piores nesse quesito. Se levarmos em conta apenas o ambiente empresarial, em que trabalho, veremos que, ao contrário, o momento inspira otimismo. Veja os lançamentos de ações na Bolsa de Valores. Nunca, nos últimos anos, os lançamentos de ações (que voltaram com muito ímpeto) foram tão concorridos. Há casos em que as ações da empresa são colocadas junto a investidores estrangeiros na proporção de 80%, 90% do total. Ou seja, atendidas as regras, as pessoas confiam. E esses dados revelam que há gente honesta.
6) RS – É comum a afirmação de que o empresário brasileiro é quase um herói, tendo como ponto de partida o raciocínio de que, para ser correto, tem que pagar impostos altíssimos e se submeter à morosidade e burocracia das instituições governamentais brasileiras, a ponto de correr o risco de falir. O que o senhor pensa sobre essa afirmação? Ela é de todo descabida?
Herbert Steinberg – A afirmação vale para quem está em setores em que muitos competidores sonegam impostos – o que torna a concorrência quase impossível. Mas, para muitos, tem sido possível contornar tanto a sonegação, como a corrupção e a lentidão (tanto dos governos como da Justiça). Como? Aumentando sua eficácia operacional e comercial, para, assim, assegurar a rentabilidade e a sobrevivência. Entrar no jogo sujo implica sujeitar a organização à infiltração de elementos corruptores – ou seja, ela põe para dentro os agentes do mal que rejeita e abomina.
7) RS – Determinados pensadores costumam atribuir a suposta falta de ética brasileira ao fato de o país ser uma democracia muito nova. O senhor é otimista com relação ao aumento da atitude ética conforme a nação amadurecer?
Herbert Steinberg – Ter democracia nova constitui um déficit, sem dúvida. Mas, por outro lado, a democracia no Brasil é sólida – e tem resistido aos trancos das últimas décadas. O Brasil é um país complexo e difícil, mas está evoluindo. A presente crise política é evidência disso. Com certeza, serão punidos menos parlamentares, governantes e agentes de empresas estatais ou privadas do que apreciaria a população. Mas o fato é que as mazelas foram expostas, os mecanismos de denúncia, bem ou mal, funcionaram. A luta é para muitas décadas, mas parece que estamos num bom roteiro.
8) RS – O conceito de governança corporativa está sendo bem aceito no Brasil? Já existem adeptos? Em que estágio se encontra essa aceitação?
Herbert Steinberg – Dá para demonstrar essa adesão com números. O IBGC tem cerca de 600 associados. O último congresso atraiu cerca de 400 pessoas. Passaram pelos cursos do instituto mais de 1800 pessoas nos últimos anos. As ações de empresas com boa governança são líderes nos indicadores da Bovespa. Isso é uma pequena amostra de um sucesso, que já é incontestável.
9) RS – O senhor acredita que o conceito de governança corporativa pode se aplicar ao cidadão, à pessoa física comum?
Herbert Steinberg – Como já citei anteriormente, governança vale para empresas que visam lucro ou para organizações da sociedade civil, de ativismo ou benemerentes. Mas poderíamos também estar falando de famílias, que é um aglomerado de pessoas cujo maior objetivo é conviver em harmonia. O indivíduo é a base de tudo. Isso é tão claro para mim que o subtítulo do meu livro “A dimensão humana da governança corporativa” é “Pessoas criam as melhores e as piores práticas”. Tudo nasce e termina na pessoa.
10) RS – O senhor costuma afirmar que quanto mais confiável uma empresa, mais capital e investimentos ela atrai. O senhor pode exemplificar isso e citar quais são os valores que contribuem para a construção dessa imagem no mercado?
Herbert Steinberg – Quando comecei a trabalhar, o principal indicador da solidez de uma empresa era seu patrimônio, por exemplo, o valor dos terrenos, fábricas e escritórios que possuía. Hoje, esses fatores perderam posição dramaticamente. Surgiu um fenômeno novo, que se chama percepção. Ou seja, o mercado valoriza muito: perspectiva de crescimento, capacidade de se manter inovando, bom relacionamento com a clientela, ausência de conflitos com seus públicos de interesse (os stakeholders), respeito ao meio ambiente – e vai por aí. Não é à toa que a Google vale mais que Ford e GM juntas.
Site: www.ibgc.org.br – Herbert Steinberg é autor dos três livros: Dimensão Humana da Governança Corporativa – Sabático: um Tempo para Crescer – Um Executivo no Caminho;- Da Razão ao Coração
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