
Por Jocimari Tres Schroeder e Ivanir Schroeder
Assumindo sua responsabilidade social, as empresas desenvolvem diversos programas, dentre eles: relações com os empregados, serviço ao público e à comunidade, proteção ambiental, defesa do consumidor, assistência médica e educacional, desenvolvimento e renovação urbana, cultura, arte e recreação (MEGGINSON; MOSLEY; PIETRI JR.,1998). Vassallo (2000), argumenta que as ações de responsabilidade social estabelecem de maneira obsessiva uma transformação no modo das empresas conduzirem seus negócios. No Brasil, essa transformação se deve ao fato dos problemas estruturais como fome, violência, doenças, carência de educação formal.
As empresas, como grandes centros de poder e que detém grandes volumes de recursos financeiros e humanos, têm papel fundamental para enfrentar tais problemas estruturais. A responsabilidade social tornou-se abrangente, envolvendo uma dimensão de responsabilidade para com toda a cadeia produtiva da empresa: clientes, funcionários, fornecedores, além da comunidade, ambiente e sociedade como um todo.
No entanto, considera-se que a atuação empresarial pode ser abrangente e preocupante. Pode ser preocupante por dois motivos diferentes. A primeira preocupação deve-se ao fato de não contar com algumas empresas cumprindo com seu papel social e, então, dificultando ainda mais um desenvolvimento social sustentável e mais humano.
As empresas são grandes centros de poder econômico e político, interferindo diretamente na dinâmica social. Assim, assumindo causas sociais as empresas estariam devolvendo à sociedade parte dos recursos humanos, naturais, financeiros que consumiram para a alavancagem do lucro de sua atividade. Esta situação tem levado diversos atores sociais a legitimarem a responsabilidade social corporativa.
A segunda preocupação, porém, lança um desafio maior, pois envolve uma reflexão sobre qual sociedade é mais apropriada não somente ao desenvolvimento econômico, mas ao desenvolvimento humano. Esta discussão pode se tornar incômoda, pois, existe uma crença, que parece estar no inconsciente coletivo, de que o desenvolvimento econômico é o próprio desenvolvimento da capacidade humana e garantidor do bem-comum, transformando-se no denominado paradigma econômico. O avanço do poder das empresas na sociedade abarca além de suas responsabilidades tradicionais, como fornecedora de bens e serviços, outra responsabilidade bem mais ampla, a do bem estar social do homem, afirmando-se como propagadora e garantidora do bem-comum.
Acredita-se que tanto o Estado como a sociedade, não poderiam se privar da discussão sobre a possibilidade objetiva das empresas terem a permissão social para serem as únicas ou as mais importantes reguladoras da vida humana podendo arbitrar o que deve ou não ser feito pela e para a sociedade. Ou seja, a empresa além de prover a sociedade de bens e serviços, terá sob seus domínios o bem-estar do cidadão. Tal situação pode remeter à fábula de Orwell (1998), que descreve o Grande Irmão, cujo poder era ilimitado sobre tudo e todos.
Barbosa (2001), considera que as empresas estão cada vez mais se tornando comunidades autosuficientes e se apóia em duas teses: as empresas são as mais importantes instituições do mundo contemporâneo e estão se transformando em instituições totais. Assim, as empresas estão transformando a vida humana, em seu aspecto mais íntimo.
Essa transformação passa por uma relação totalizante entre empresa e funcionários, bem como impacta também na sociedade como um todo. A empresa toma para si questões antes designadas a outros sistemas organizacionais, que se tornam periféricos. O que determina esse movimento é a lógica de mercado, a única que justifica o que deve ou não ser feito.
Para Enriquez (1997, p.10), “[…] o ponto essencial a ser assinalado é que a empresa difunde uma visão do futuro social […]. Ela se encarrega não somente do desenvolvimento econômico da nação, mas também do seu desenvolvimento social, psicológico e cívico. Nenhum dos domínios da vida lhe é, a priori, proibido, pois ela se considera com ‘responsabilidade ilimitada’”.
Portanto, defende-se a idéia de que as ações de responsabilidade social corporativa sejam também delimitadas. A delimitação, ou pelo menos, a necessidade em instigar uma preocupação maior com a prática da responsabilidade social corporativa, nada tem a ver com os benefícios sociais gerados, mas com o avanço e, enfim, com o poderio por completo do mercado, do paradigma econômico, na vida humana associada.
Para Barbosa (2001), as empresas estão provocando na sociedade uma revolução silenciosa, o avanço totalitário, que precisa ser questionado. No entanto, não se pode conceber uma sociedade sem a produção de bens e serviços. O que se pretende, na verdade, é uma reavaliação da influência e das ações das empresas na sociedade. A preocupação aqui enfatizada de delimitar a responsabilidade social corporativa encontra eco na proposição da Teoria da Delimitação dos Sistemas Sociais, de Alberto Guerreiro Ramos, que considera a necessidade de um paradigma que alterne o econômico – o paradigma paraeconômico.
Jocimari Tres Schroeder é professora da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ivanir Schroeder é professor da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP. Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Para conhecer mais do trabalhos dos Schroeder, veja o artigo ‘Responsabilidade social corporativa: limites e possibilidades.
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