Após o lançamento do documentário “Falcão: Meninos do Tráfico”, MV Bill foi catapultado à condição de formador de opinião e importante representante dos interesses da favela. MV Bill é visto por muitos como o ponto de contato entre os mundos da “rua” e da “favela”. Bill acredita que sua missão na Terra é passar uma mensagem através do rap. MV Bill completou a oitava série na escola pública. Aos 14 anos, o pai saiu de casa e ele teve que trabalhar para ajudar a mãe. Tomou conta de carro, empacotou compras de supermercado, quase descambou para o crime, até ser seduzido pelo hip-hop. Considera-se ativista e articula a fundação de um partido político voltado para os negros. No braço direito tem tatuada a frase “Minha arma” abaixo de um microfone e no esquerdo “Jesus é a justiça”.
Esta talvez seja um das caracteristicas mais marcantes de Bill: a vocação para a polêmica. Ele chamou a atenção pela primeira vez há dois anos, ao subir no palco do Free Jazz Festival com uma arma de brinquedo na cintura. Para a gravação do videoclipe da música “Soldado do morro”, por exemplo, ele usou a participação de traficantes reais, que aparecem encapuzados e armados de possantes metralhadoras, dando tiros para o alto. O rapper foi entao acusado por policiais de fazer apologia ao crime no clipe. Bill rebateu as acusaçoes e reclamou do desinteresse da mídia e das autoridades pela questão central que o rap levanta. Seu propósito era denunciar o drama de milhares de jovens empurrados para o tráfico pela miséria e pela falta de perspectiva. “Eu queria falar da pobreza, dos feridos, dos feios, dos marginalizados”, afirma Bill.
No que concerne a música, MV Bill teve seu “début” por meio da coletânea “Tiro Inicial”, que revelou novos talentos do rap nacional — como Gabriel o Pensador — em 1993, ainda como integrante de um grupo. Antes de decidir-se pelo rap, Bill chegou a defender um samba-enredo composto por seu pai na quadra de uma escola de samba. Mais tarde adotou a alcunha de MV (Mensageiro da Verdade) Bill, e não revela seu verdadeiro nome, no entanto às vezes usa o pseudônimo Alex Pereira Barbosa como nome alternativo.
Ao consolidar seu nome como rapper de renome nacional, MV Bill comecou a se destacar também pelo envolvimento ativo com causas sociais e campanhas públicas, particularmente aquelas voltadas a chamar a atencão à situacao de abandono das favelas cariocas. O rapper ficou ainda mais conhecido em 2000, ao estrelar uma campanha publicitária de televisão contra o vandalismo em telefones públicos. “Participei porque era uma campanha de conscientização que eu apóio”, diz. A mais recente campanha de Bill pôde ser vista nacionalmente em rede de TV e pelo rádio. MV Bill chamava a atencao para o dia internacional da educação (28 de abril) e sobre a necessidade do país redobrar os esforços e investimentos nessa área.
Em outra área que não a música, MV Bill é também autor de livros. Em 2005, com Celso Athayde e Luiz Eduardo Soares, MV Bill escreve “Cabeça de Porco”, publicação sobre a juventude e o tráfico de drogas. Juntamente com Athayde, lança em 2006 “Falcã Meninos do Tráfico”, trabalho também feito em formato de documentário, inclusive muito repercutido na mídia. O documentário tomou de assalto a mídia e os formadores de opinião nacionais. Além do choque inicial causado pelo documentário, Bill procurou também rodar o Brasil e levar a dura realidade da favela carioca à burguesia nacional, trajeto que ficou marcado pela visita ao templo do consumo de luxo em São Paulo, a loja Daslu, no começo de abril passado. Sobre a ida à Daslu e às críticas recebidas, MV Bill comenta “Eu quis ir à Daslu. Ninguém me convidou. É o templo do consumo, onde está o dinheiro. Fui dizer: ‘ou vocês ajudam a mudar essa realidade, ou serão vítimas dela’.”
O novo CD do rapper, “Falcão – O Bagulho É Doido” (Chapa Preta/Universal) fecha a trilogia iniciada com o documentário e o livro “Falcão – Meninos do Tráfico”. O destaque fica para a faixa-título do disco que traz as frases que, vindas de um adolescente, chocaram muitos espectadores do “Fantástico” (“Se eu morrer vem outro, ou melhor, ou pior. […] Nessa vida não dá pra sonhar, não. […] É muito esculacho nessa vida”). Rap de batida profunda, “O Bagulho É Doido” traz a rima dura: “Seu vício é que me mata/ Seu vício me sustenta/ Antes de abrir a boca pra falar demais/ Não se esqueça: Meu mundo você é quem faz”.
Site oficial do cantor: www.realhiphop.com.br/mvbill/
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