
Tanya Rothgiesser
Por Tanya Rothgiesser
A temática “Responsabilidade Social” tem sido alvo constante de análises no mundo corporativo. E para além da expressão de compromisso com as causas sociais, incorporou-se como opção de um modelo de gestão. Modelo já adotado, principalmente, pelas grandes empresas sintonizadas com um mundo globalizado cada vez mais exigente em relação à dinâmica de seus negócios e à sustentabilidade empresarial.
Dentro do universo corporativo conceitos sobre “responsabilidade social” têm sido vários e flexíveis, de acordo com a capacidade de compreensão de seus profissionais, não poucas vezes diretamente vinculada à cultura institucional prevalente na empresa.
Se formos, entretanto, buscar elementos de identidade para uma empresa “socialmente responsável”, tem havido certo consenso ressaltar as que adotam processos que incorporam escuta e negociação com seus parceiros de negócios – internos e externos – fortalecendo uma cultura institucional voltada à democratização das relações de trabalho. Nesta linha e através destes parceiros, as empresas estabelecem relações de comprometimento com uma agenda social consolidada por projetos de caráter sustentável, que apontam para a crucial questão da desigualdade de renda no Brasil.
A qualidade da postura institucional da “empresa socialmente responsável” diante de seus públicos interno e externo é, desta forma, de grande importância. Uma empresa pode optar, culturalmente, em direção a uma postura “ptolomáica” ou em direção a uma postura “copérnica”. Explica-se: pode situar-se em relação aos seus parceiros como “objeto central do universo”, no qual apenas prevaleçam os seus interesses – uma forma “ptolomáica” de visão de negócios. Ou adaptar seus processos de trabalho ao real de uma empresa em constante movimento, agente de um sistema que incorpora outros agentes-parceiros, de diversas grandezas e processos, em um sistema integrado de várias partes interessadas em um mesmo negócio. E assim é a empresa moderna: “copérnica”.
O modelo de gestão da Responsabilidade Social Corporativa tem sido adotado por empresas competitivas, na linha da modernidade, empresas sintonizadas com um mundo globalizado cada vez mais exigente em relação à dinâmica de seus negócios e à sustentabilidade de sua marca empresarial. Empresas que incorporam seus projetos de responsabilidade social em um planejamento estratégico, delegando-os a uma equipe multidisciplinar que assuma não só o monitoramento destes projetos mas, antes de tudo, a necessária mudança cultural. E que as habilite como empresas-cidadãs, construindo relações “copérnicas” com seus parceiros, tornando-as co-responsáveis pelo desenvolvimento social brasileiro.
Consolidar um “modelo próprio de responsabilidade social” exige grandes investimentos empresariais. Mas nunca, simplesmente, financeiros. Exige atitude, desejo de mudança e consciência de cidadania. Exige compromisso com a modernidade, compromisso com seus parceiros de negócios em uma estratégia que incorpore o interesse articulado de todos em direção à sustentabilidade, ou seja, sobre sólido tripé: fortalecimento dos negócios, com eqüidade social e com qualidade ambiental. Por quê? Porque sem a consideração harmônica destes fatores nos processos de tomada de decisão empresarial não há, no cenário internacional, mais marca ou negócio que se mantenha perene e lucrativo.
No cenário empresarial brasileiro não é nada fácil identificar a “empresa socialmente responsável”. São empresas em estágios variados, perseguindo um caminho voltado à responsabilidade social, porém muitas vezes ainda atreladas a uma arcaica cultura “ptolomáica”. O importante é verificar que este assunto já não é mais encarado como modismo e que já existe um amplo conhecimento empresarial, mesmo que nem sempre concretizado em processos de trabalho sistemáticos. E que dispomos, atualmente, de modelos e de ferramentas voltados à integração de novas formas de enriquecimento compartilhado entre o mundo corporativo e a nação, aí entendidos o Estado e a Sociedade Civil.
Sem qualquer concessão a ilusões de um “novo mercado bonzinho”, falamos de business e dos benefícios que o modelo de gestão da Responsabilidade Social pode propiciar às empresas. Tornando-as ainda mais ricas e perenes sem o ônus do preconceito em relação ao “visado lucro”, na medida em que este enriquecimento extrapola sua divisão entre proprietários e acionistas e também incorpora outros agentes envolvidos no process colaboradores, clientes, consumidores, fornecedores, governos, comunidades e tantos outros. Pode torná-las construtoras conscientes de uma nova realidade nacional, voltada a tornar o Brasil cada vez menos dependente de interferências externas para o seu desenvolvimento econômico e social sustentável, consolidando seu mercado interno e lucros maiores com marcas mais fortes – aqui e no exterior.
Tanya Rothgiesser é Coordenadora da Comissão de Responsabilidade Social e Assuntos do Terceiro Setor do CRA-RJ/ Conselho Regional de Administração. Membro do Grupo Técnico de Responsabilidade Social da ABRH-RJ/ Associação Brasileira de Recursos Humanos. Membro do Conselho Consultivo do Programa de Voluntariado “Líder-Solidário” do SEBRAE/RJ. Membro do Grupo de Trabalho do Instituto ETHOS para a Norma Internacional de Responsabilidade Social Empresarial ISO 26000. E-mail: tanya@terceirosetor.adm.br, Site: www.terceirosetor.adm.br
Também nessa Edição :
Entrevista: Prof. Manoel Alves
Entrevista: Mark Loomis
Notícia: O que deu na mídia (edição 35)
Notícia: Responsabilidade Social no DF
Notícia: De sonhadores a protagonistas
Notícia: Encontro com índios
Oferta de Trabalho: Procura-se (05/2006)
Leave a Reply