
Mark Loomis é o Diretor de Responsabilidade Social Corporativa e conselheiro Regional da Nike para as Américas (América Latina e Canadá). Como Diretor de Responsabilidade Social, Mark Loomis é responsável por coordenar as ações regionais da Nike relacionadas a investimentos comunitários e ao controle da cadeia produtiva da Nike em assuntos ligados ao código de conduta da Nike. Na entrevista a seguir, concedida ao portal www.RESPONSABILIDADESOCIAL.COM após recente visita ao Brasil, Mark Loomis fala sobre a relação entre esporte e inclusão social e sobre as medidas que a Nike deverá tomar em relação à observância de condições dignas de trabalho em suas empresas terceirizadas.
1. Responsabilidade Social – Quais são as iniciativas sociais do Grupo Nike?
Mark Loomis – A Nike tem três objetivos de responsabilidade social empresarial que refletem nossos esforços de melhor focar e alinhar a responsabilidade social ao nosso negócio e à nossa marca. O primeiro diz respeito a assegurar melhores condições de trabalho nas indústrias que fabricam nossos produtos por meio de uma mudança positiva sistemática nas manufaturas de nossos calçados, equipamentos e vestuário. Segundo, estamos comprometidos a fazer da sustentabilidade ambiental um atributo principal na inovação dos produtos Nike. A terceira meta é contribuir para as comunidades contribuindo para que o acesso ao esporte e atividades físicas seja um direito fundamental de todo jovem. Para melhor alinhar nossas atividades de responsabilidade social empresarial (RSE) com nosso negócio, além de nossa equipe global de responsabilidade social empresarial, contamos também com diretores regionais de RSE em nossos grupos de negócios em cada região (Américas, Ásia, EUA e Europa).
2. RS – Qual seria a definição de responsabilidade social para a Nike?
ML – Como marca, a Nike está baseada em princípios de inovação e inspiração e acredita que cada pessoa é um atleta em potencial – e definimos o conceito de “atleta” de maneira bem inclusiva. Um dos fundadores da Nike, o treinador da Universidade de Oregon, Bill Bowerman, acreditava que se “você tem um corpo, você é um atleta”. A Nike adotou esse princípio conjuntamente com o compromisso de trazer inspiração e inovação a cada atleta no mundo. Essa é a nossa missão. A marca, portanto, existe para despertar o atleta e dar fôlego ao desempenho e à cultura do esporte.
Em termos de responsabilidade social corporativa, reconhecemos que nosso impacto no mundo se expandiu além do esporte, do atleta e de assuntos correlatos. Temos impacto nas comunidades onde trabalhamos, nos lugares onde nossos produtos são fabricados e no meio ambiente. Também reconhecemos nosso papel como potencial agente de mudança em todo mundo, particularmente em lugares onde temos uma relação direta de negócios, onde nossa voz e influência como companhia global podem fazer uma diferença significativa.
3. RS – Quais são as prioridades da Nike para a América Latina e, particularmente, para o Brasil?
ML – O investimento na comunidade, que faz parte da estratégia da Nike de RSE, enfoca a prática do esporte como instrumento para a transformação social e participação ou acesso ao esporte como direito dos jovens. Acreditamos que os jovens precisam ter acesso ao esporte antes mesmo de procurarmos atingir outros objetivos sociais usando o esporte como instrumento. Nosso foco mais amplo é na inclusão e saúde. Cada região onde trabalhamos tem uma estratégia própria para esse fim. No Brasil, devemos utilizar o esporte como forma de abordar problemas decorrentes da exclusão econômica, particularmente entre os jovens. Programas nesta área devem trabalhar o desenvolvimento de habilidades para toda a vida (como espírito de equipe, auto-estima e cidadania), educação, capacitação profissional, e outros obstáculos para a inclusão social plena. Nosso segundo foco para o Brasil é apoiar programas que usem o esporte como mecanismo de fortalecimento de mulheres e meninas na sociedade. Em conformidade com essa política, estamos já apoiando programas com a Fundação Gol de Letra (construímos uma quadra poliesportiva na Vila Albertina em São Paulo para o projeto FAC Esportes), o Instituto Bola pra Frente, Instituto Fernanda Keller, Instituto Joaquim Cruz, Esporte Talento (programa apoiado pelo Instituto Ayrton Senna) e o projeto Gotas de Flor.
Outra prioridade de RSE para a Nike, tanto para a América Latina quanto para o Brasil, é continuar a aprimorar as condições de trabalho dos trabalhadores envolvidos na fabricação de nossos produtos, assegurando total comprometimento ao nosso Código de Conduta.
4. RS – No passado a Nike era constantemente acusada de abusar de mão de obra barata em fábricas do Sudeste Asiático, por exemplo. O que mudou desde então no tocante a assuntos trabalhistas e como a Nike pode monitorar sua cadeia produtiva de forma a evitar tais incidentes?
ML – Fizemos muitos progressos desde então, mas também reconhecemos que ainda há muito trabalho a fazer. Em abril de 2005 publicamos um relatório completo disponível no site http://www.nikeresponsibility.com descrevendo nossos esforços, desafios e prioridades nesse sentido. Com este relatório também publicamos nossa lista de fábricas contratadas internacionalmente para produzir nossos produtos, fomos a primeira indústria no nosso ramo a adotar tal abertura. Tornar pública a lista de nossas empresas contratadas era uma demanda antiga de várias pessoas com base no argumento que maior transparência levaria a um melhor entendimento de problemas industriais e suas soluções. Concordamos então, assim como nós e outros esperávamos, que nosso primeiro passo irá instigar outras empresas a fazer o mesmo.
A maioria das fábricas tem problemas de cumprimento de certas normas, em menor ou maior nível, algumas mais fáceis de resolver, outras aparentemente intratáveis. Quatro questões de cumprimento de normas levam a alguns dos maiores desafios tanto para a Nike quanto para outras companhias. Tais questões se referem a salários, horas de trabalho, liberdade de associação (o direito dos trabalhadores de escolher se querem ou não fazer parte de sindicatos ou uniões) e assédio. Continuamos a monitorar nossas fábricas para a busca do cumprimento de nossos padrões. Contudo são para essas quatro variáveis – cada vez mais complexas, permeáveis e desafiadoras – que estamos dedicando mais tempo e recursos.
A Nike sabe que é apenas uma peça deste quebra-cabeça para solucionar tais questões. Estamos trabalhando de forma conjunta com vários grupos para desenvolver mudanças na indústria em geral. Também estamos aprendendo como melhores formas de gerir negócios podem ter um impacto positivo na planta industrial, estamos ajudando os gestores de nossas fábricas a desenvolver as habilidades que eles precisam para solucionar tais problemas. Esperamos trabalhar mais nessa área.
Para mais informações sobre nossa abordagem global de monitoramento e correção de problemas nas fábricas em nossa escala produtiva mundial, sugiro acessar a seção sobre obediência a questões trabalhistas no relatório disponível no site http://www.nikeresponsibility.com. Estamos comprometidos a relatar anualmente tais questões e nosso plano é divulgar nosso próximo relatório no segundo semestre, abordando o nosso último ano fiscal (até 31 de maio de 2005).
5. RS – A Nike endossa o “Global Compact” das Nações Unidas desde 2000. Quais são as vantagens de ser uma das signatárias dessa iniciativa?
ML – O “Global Compact” foi uma das primeiras organizações a oferecer um fórum construtivo para o diálogo com a comunidade de negócios sobre a importância de se avançar em metas de desenvolvimento. O setor de organizações não governamentais reconheceu essa ligação desde cedo, mas o “Global Compact” proporciona uma oportunidade para as empresas de aprender e compreender este importante papel no futuro.
6. RS – 2005 foi o Ano Internacional do Esporte e da Educação Física. Como a Nike vê a relação entre o esporte e a inclusão social?
ML – O esporte pode ter um importante impacto na inclusão social em dois diferentes níveis. Primeiro, é frequentemente necessário agir de forma deliberada para assegurar o acesso ao esporte a grupos que são geralmente excluídos, como populações em desvantagem financeira, meninas ou pessoas portadoras de necessidades especiais. A Nike tem uma história de apoio a favor de atletas que são vítimas de preconceitos, sejam raciais, de gênero, etnia etc.
A força do esporte também pode trabalhar num sentido mais amplo como ferramenta para abordar as causas centrais da exclusão social. A Nike tem apoiado programas que usam o esporte como método para alcançar questões mais amplas, com o objetivo de conseguir inclusão social, como programas que usam o esporte como “gancho” para atrair jovens para programas/projetos onde eles aprendem outros ofícios, habilidades ou usando a força do esporte para ensinar importantes lições de vida. Um exemplo deste trabalho é o que tem sido feito pelo Instituto Bola pra Frente, o qual combina o acesso ao esporte a programas educacionais e de ensino vocacional.
7. RS – Quais são as preocupações ambientais da Nike e as prioridades corporativas para a sustentabilidade ambiental para o século XXI?
ML – Passamos mais de uma década analisando os aspectos sócio-ambientais de nosso negócio. Na área de meio ambiente, desenvolvemos programas de reciclagem de tênis, reduzindo, portanto, a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa, reduzindo o uso de produtos tóxicos na manufatura de nossos produtos e continuando a procurar novas formas de reduzir o desperdício no desenho e fabricação de nossos produtos.
O objetivo agora é adicionar valor a essas conquistas levando a sustentabilidade aos passos iniciais no desenho de produtos. É desenhar produtos inovadores com decrescente impacto ambiental de forma que não haja detrimento nem da performance esportiva nem da performance ambiental. Sabemos que um desenho sustentável pode agregar valor.
Novamente, para maiores informações, sugiro uma visita a http://www.nikeresponsibility.com, na seção meio ambiente (environment).
8. RS – No Brasil a Nike é freqüentemente vista como uma empresa que investe grandes somas de dinheiro em publicidade. A idéia de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é considerada por muitos um simples exercício de relações públicas, ainda que em curto prazo possa levar a importantes mudanças de gestão que não só fazem sentido do ponto de vista ético, como também são lógicas do ponto de vista de retorno financeiro. Qual a percepção da Nike para sua participação no desenvolvimento da idéia de RSE nos últimos 10 anos?
ML – Nossa equipe de RSE não trabalha apenas com o negócio. Mais do que nunca, fazemos parte do “business”. Isso por si só traz novos desafios e oportunidades. Estamos avançando na nossa abordagem de negócios, alinhando melhor nossa equipe de RSE com a estrutura de negócios, integrando de forma mais profunda o conceito de RSE no centro de nosso modelo de negócios.
Já estamos além do primeiro capítulo que seria avaliar e mensurar os impactos sociais e ambientais como empresa, e estamos escrevendo o próximo capítulo, que define nosso trabalho de RSE como o fortalecimento de nossa marca com o potencial de transformar não apenas nosso negócio, mas também a indústria em si e tudo além dela. Um exemplo desse efeito foi a divulgação de informações relativas à nossa cadeia produtiva como citei anteriormente.
Vemos essa próxima fase como chave para o nosso sucesso daqui para frente, com o potencial de nos ajudar a entrar em novos mercados, aprimorar a performance de nossa cadeia produtiva e alavancar a força de nossa marca para ajudar àqueles que têm pouco acesso a oportunidades.
Acreditamos que o impacto dos esforços da Nike em RSE serão ainda maiores quando forem melhor integrados ao nosso negócio. Em relação às mudanças nas condições de trabalho, isso significa enfocar na excelência de nossa fabricação e em aperfeiçoar o planejamento de negócios. Considerações ambientais fortalecem nossa habilidade de conduzir inovação, o que é fundamental para a Nike.
Finalmente, na área de investimento na comunidade, nosso foco continuará a ser o esporte como instrumento de mudança e transformação social. A Nike acredita que o quanto mais alinhada estiver nossa política de investimento comunitário com nossas prioridades de negócio, maior será a sustentabilidade sob a perspectiva de nossos “stakeholders”, incluindo os diretores da Nike, os empregados e todos os acionistas da empresa.
Espero que o compromisso da Nike com a comunidade se torne um fator importante na atratividade de nossa marca junto aos consumidores. Como somos uma empresa de esporte, e já que muitos de nós passaram por experiências que testemunham a força do esporte, decidimos focar em apoiar programas que produzam resultados tangíveis nas vidas dos jovens.
Leia mais em: www.nikeresponsibility.com
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